Hipsters e ‘maníacos por saúde’ em todo o mundo querem mais abacates para suas torradas, e mirtilos, também conhecidos como blueberries, para tudo o que se possa imaginar. Para alegria dos chilenos, considerados referência na América do Sul em desenvolvimento humano, e que, apesar das limitações de território, miram agora na liderança agrícola.
Com sede em Santiago, capital chilena, a companhia Hortifrut acelerou a busca por parceiros e os planos de expansão, para turbinar a produção e correr atrás de ainda mais clientes. Agora, está perto de fechar um acordo, anunciado em outubro, para pagar US$ 160 milhões pelo grupo peruano Rocio, maior produtor de mirtilos daquele país.
Somando com os projetos de expansão no México, Estados Unidos e China, a estratégia irá mais do que dobrar a produção das chamadas berries (as “frutas vermelhas” que incluem morango, cereja e mirtilo), alcançando mais de 100 mil toneladas já na atual colheita. E, segundo o diretor da empresa, Victor Moller, o avanço está longe de perder força.
“As pessoas riem de mim porque eu acho que a companhia ainda está na infância”, afirma a respeito da empresa de 38 anos que entrou no mercado de ações em 2012. “Mas é um bebê com um potencial de crescimento enorme.”
Até agora, os investidores estão mais do que satisfeitos, considerando que a Hortifrut cresceu mais de 500% desde então, enquanto a Bolsa de Santiago, no geral, progrediu 29% no mesmo período. A receita mais que dobrou, batendo em US$ 367 milhões, embora em 2017 a companhia tenha crescido “apenas” 9%, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Os mirtilos se tornaram algo que os consumidores querem 24 horas por dia, sete dias por semana, afirma Roland Fumasil, analista sênior de frutas e vegetais no Rabobank em Fresno, na Califórnia, que abriga o imponente polo frutícola do Vale Central.
A produção mundial de mirtilos no último ano foi de 1,7 milhão de toneladas, o que corresponde a 2,5 vezes o volume colhido em 2000, de acordo com a consultoria fresh4cast.com. Nos próximos dois anos, a colheita deve chegar a 2 milhões de toneladas. Os Estados Unidos são os maiores produtores, seguidos por Canadá e Chile, que, do ponto de vista das exportações, já é o líder mundial.
“Quando se fala em demanda, ela é inflexível”, diz Fumasil. “As pessoas simplesmente querem seus mirtilos.”
E os chineses estão dispostos a pagar.
Em janeiro e fevereiro, pico da colheita no Chile, os mirtilos exportados para o porto de Jiangnan, na China, foram vendidos a uma média de US$ 10,04 o quilo, conforme a consultoria iQonsulting. Na costa Leste norte-americana, o preço girava em torno de US$ 6,40/kg.
Com tanta demanda assim, a Hortifrut já mira novas aquisições, revela Moller.
“Estamos sempre tentando defender nossa posição de liderança no mundo”, conta. “Isso é parte do nosso modelo de negócio, crescer em parcerias com companhias líderes em distribuição, engenharia genética, processamento e logística.”
Em 2016, a Hortifrut assinou um acordo de joint venture com a californiana Munger Farms, para partilhar os resultados nos estados da Califórnia, Oregon e Washington. Um ano antes, havia feito o mesmo com a chinesa Joyvio Wing Mao, da qual detém, hoje, 51%.
“Nós queremos plantar o máximo que pudermos, pois a China vai ser um mercado tão importante quanto os Estados Unidos”, pontua Moller. “A Europa está só começando a consumir mirtilos, ainda existe muito a se crescer.”
Para o CEO da fresh4cast.com, Mihai Ciobanu, a China oferece um “crescimento fenomenal”.
“O Chile está embarcando cada vez mais para a China”, salienta. “Os preços pagos na Ásia estão caindo um pouco conforme o mercado vai se amadurecendo, mas ainda há uma distância muito grande em relação ao que se paga na América do Norte.”
Entretanto, a Hortifrut não está apostando só nos mirtilos. Ela faz parte de uma joint venture global chamada Naturipe Avocados, especializada na distribuição de abacates. A fruta inclusive já é considerada por alguns como uma espécie de “ouro verde”. “Abacates são um dos produtos mais interessantes”, afirma Moller. “Nós já comercializamos para os melhores 500 clientes no mundo e há um uma oportunidade interessante em vender produtos mais saudáveis.”