Nas terras onduladas da fazenda Rivendale, em Bulger, quase 40 km a oeste de Pittsburgh, cerca de 150 vacas Jersey usam coleiras que monitoram seu padrão de movimentos, alimentação e ruminação, e são ordenhadas não por humanos, mas por máquinas robóticas.
Numa estufa automatizada nas proximidades, há uma horta com verduras como couve, rúcula e cenoura. A temperatura, a umidade e a luz solar ali são controladas por sensores e telas metálicas retráteis. Em breve, provavelmente haverá pequenos robôs perambulando entre os canteiros para detectar doenças e arrancar ervas daninhas.
Completando um ano de funcionamento, a fazenda Rivendale dá uma noção da tecnologia que estará disponível para fazendas pequenas.
Nas grandes, a tecnologia tem muito a ver com aumento de produção e corte de custos. Nas pequenas, a eficiência também é primordial. Com tecnologia, porém, muito trabalho maçante pode ser eliminado – um benefício do progresso que pode persuadir as novas gerações a permanecer nas fazendas familiares em vez de partir para outra vida.
Uma fazenda pequena geralmente se especializa em culturas diferenciadas que requerem métodos de escala reduzida, como os pequenos robôs que estão sendo desenvolvidos para a Rivendale na vizinha Universidade Carnegie Mellon e a crescente série de equipamentos do movimento “ferramentas lentas”, um grupo de agricultores e engenheiros que projeta ferramentas acessíveis para fazendas pequenas.
Thomas Tull, proprietário da Rivendale, destaca que o objetivo é criar uma fazenda de ponta operada com tecnologia que ajude a produzir alimentos de qualidade.
A Rivendale pode bancar essa combinação de comércio de alta tecnologia e pesquisas científicas, pois Tull é um bilionário de múltiplos empreendimentos, investidor em iniciativas de alta tecnologia e ex-produtor cinematográfico. Também faz parte do conselho da Carnegie Mellon. Já gastou milhões de dólares na Rivendale. Mas o plano, segundo ele, é que a fazenda seja autossustentável até 2020.
Portanto, a Rivendale pode fazer mais testes de uma só vez do que outras fazendas. Mas os peritos dizem que esses esforços são parte de uma tendência geral entre pequenos agricultores, que buscam maneiras de criar animais e colher alimentos mais saudáveis usando menos ração processada, combustível fóssil e fertilizantes.
“Há um aumento no uso de tecnologia e de ferramentas modernas em propriedades pequenas de cultura de solo, e esse ideal está sendo ardorosamente abraçado pela Rivendale”, afirma Jack Algiere, gerente agrícola do Centro de Alimentos e Agricultura de Barns Stone, uma fazenda sem fins lucrativos em Pocantico Hills, Nova York, grande defensora da agricultura sustentável em propriedades pequenas.
Tull comprou as terras em 2015 e no ano seguinte começaram as obras. Hoje tem operações diversificadas, como ordenha e criação de bovinos, cultivo de vegetais, milho para ração, criação de galinhas e até de abelhas.
A Rivendale – incluindo áreas de pastoreio, forrações e florestas – estende-se por 70 hectares. A agricultura nos EUA vem se consolidando há décadas, com o tamanho médio de uma fazenda chegando a quase 180 hectares em 2017, segundo números do governo. E mais da metade da renda produzida pelo setor agrícola do país é gerada por uma pequena fração de grandes produtores, com 1.076 hectares em média.
A Rivendale vende leite, ovos e outros produtos para restaurantes e hotéis seletos, e para os clubes esportivos Pittsburgh Pirates e Pittsburgh Steelers, em que Tull é sócio-proprietário.
No local de ordenha da Rivendale, não se vê ninguém – apenas vacas, um sistema automático de alimentação e três máquinas de ordenha robótica.
As vacas da Rivendale são ordenhadas em média quatro vezes ao dia, quando estão dispostas, em contraste com as habituais duas vezes por dia no caso de ordenha feita por humanos. “E nossas vacas Jersey produzem 15% mais leite do que a média da raça, com maior nível de proteína e gordura butírica”, informa Christine Grady, gerente geral da Rivendale.
“Elas comem quando querem, se deitam quando querem e ordenham quando querem”, diz Grady. “Uma vaca feliz produz mais e melhor leite.”
A ordenha robótica está disponível há anos. Mas a tecnologia vem se aperfeiçoando continuamente e demanda muito menos assistência humana do que alguns anos atrás.
“Cada máquina custa em torno de US$ 200.000. Sem elas e o sistema de alimentação automático, a ordenha na Rivendale precisaria de cinco trabalhadores, em vez de apenas um supervisor”, conclui Grady.
As ordenhadoras robóticas da Rivendale são fabricadas pela Lely, uma empresa holandesa líder no setor. “Em alguns países europeus, até 30% das vacas são ordenhadas mecanicamente, enquanto que nos Estados Unidos apenas cerca de 2%”, estima Mathew Haan, especialista em tecnologia de laticínios do programa de extensão agrícola da Universidade Estadual da Pensilvânia.
E acrescenta que essa diferença basicamente se explica pelos mais e melhores programas de apoio ao preço do leite e pelos custos trabalhistas mais altos do que nos EUA. Esses dois fatores estimularam o investimento em automação na Europa.
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George Kantor, um cientista de sistemas sênior do instituto de robótica da Carnegie Mellon, está liderando os trabalhos na Rivendale para a criação de “robôs fiscais” que identificarão doenças e ervas daninhas nas plantações, e enviarão alertas por smartphone se algum problema for encontrado.
No outono, sua equipe fez trabalho de campo e coletou dados; no inverno, se deslocou para o laboratório da universidade. “Visão computacional e automação de aprendizado”, diz Kantor, “serão implantadas para distinguir a diferença entre plantas saudáveis e doentes, e reconhecer ervas daninhas.”
O próximo passo seria livrar-se dessas ervas. A agricultura orgânica não usa pesticidas. Mas a função de desenterrar ou arrancar ervas requer um movimento similar ao de uma mão, uma tarefa colossal para um robô; nesse aspecto o progresso tem sido lento.
Para a maioria dos agricultores mais antigos, IA significa Inseminação Artificial, e não inteligência digital. Mas uma nova geração de famílias de agricultores vem aderindo à assistência robótica e aos aplicativos de smartphones.
“Os agricultores têm uma mentalidade diferente e estão todos tentando achar o melhor caminho para suas fazendas e em quais funções implantar tecnologia”, comenta Jeff Ainslie, vice-presidente da Consultoria Red Barn, que orienta famílias de fazendeiros.
Scott Flory, de 30 anos, é um deles. Depois de se formar em ciência de laticínios na Virginia Tech, Flory voltou em 2009 à fazenda da família em Dublin, na Virgínia, com ideias para modernizar as operações.
Desde então, já instalou quatro robôs de ordenha na fazenda, equipou as vacas com rastreadores de atividades e dobrou o número de vacas leiteiras para 240, sem contratar mais trabalhadores. Ele, sua esposa e seus pais tocam a fazenda; portanto, continua sendo praticamente apenas um negócio familiar.
“Eu não estaria no negócio de laticínios hoje se não contasse com esses recursos”, confessa Flory, de 30 anos.
Tull, o proprietário da Rivendale, não tem dúvidas de que a tecnologia avançada revolucionará as fazendas pequenas algum dia.
Mas, após um ano inteiro monitorando de perto as operações na Rivendale, resume: “Você acaba criando um enorme respeito pelos agricultores, pois o trabalho é duro e complexo. O segredo é conseguir uma boa combinação entre arte e ciência.”