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Próximo relatório do USDA vai provocar “corrida maluca” entre traders

Nova forma de divulgação de relatórios do USDA será implementada em agosto | Daniel Caron/Gazeta do Povo
Nova forma de divulgação de relatórios do USDA será implementada em agosto (Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo)

É o tipo de vantagem que qualquer investidor desejaria - e que as autoridades na verdade pretendiam evitar.

No entanto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) pode estar abrindo caminho para uma corrida maluca entre operadores da Bolsa para ver quem se apodera primeiro das informações que balizam o mercado.

Abandonando uma tradição de décadas, a agência de agricultura decidiu publicar seus relatórios diretamente na internet, em vez de repassá-los primeiramente aos veículos de comunicação habilitados.

O que aparenta ser um gesto democrático, na verdade é uma mudança no jogo em que, a partir de agora, ganha quem conseguir agarrar as informações primeiro.

A nova forma de divulgação, anunciada na semana passada, é apenas o capítulo mais recente de uma saga nos mercados agrícolas em que os algoritmos de alta velocidade tomam o lugar de agentes humanos mais lentas, um tema popularizado no livro “Flash Boys”, de Michael Lewis (a tese é de que, num mercado em que tudo pode mudar num piscar de olhos, vale cada vez uma única lei: a velocidade). Cabos de fibra ótica, rádios de ondas curtas, torres de microondas: tudo está sendo empregado para negociar mais rapidamente.

“Alguém vai descobrir o jeito mais rápido de pegar a informação e transformá-la em negócios”, diz Jim Angel, professor de economia na Universidade Georgetown, em Washington. “Isso leva a corrida pela informação para um rumo totalmente diferente”.

Os veículos de comunicação utilizam redes de fibra ótica para levar aos leitores os levantamentos estatísticos assim que são levantados os “embargos” da informação passada previamente. Geralmente, os jornalistas recebem os dados com 90 minutos de antecedência da divulgação oficial. Agora essa diferenciação vai acabar, com os dados disponibilizados para o público de uma única vez.

“Todos os que têm interesse nos relatórios do USDA devem ter igual acesso, de forma indiferenciada”, afirmou, em nota, o secretário Sonny Perdue.

Volatilidade

As mudanças ocorrem num período de volatilidade no comércio agrícola. Os preços futuros da soja e da carne suína despencaram nas últimas semanas por causa das sobretaxas impostas pela China contra produtos agrícolas americanos. Os preços dos grãos também caíram em meio à elevação dos estoques. A Bolsa de Chicago informou que o volume negociado de contratos futuros e de opções bateu um recorde histórico de 3,2 milhões de papeis, dia 19 de junho.

O relatório mensal de oferta e demanda do USDA, conhecido como WASDE, é um dos levantamentos mais acompanhados no mundo do comércio de grãos. O WASDE de agosto será o primeiro afetado pela mudança de política. É um dos mais aguardados, pois fornece as primeiras previsões de produção baseadas em pesquisas para milho e soja, as principais culturas dos EUA avaliadas em cerca de US$ 90 bilhões.

A ironia é que a tentativa do USDA de garantir que todo mundo receba informações do mercado de commodities ao mesmo tempo pode, na verdade, ter o efeito oposto.

O USDA não respondeu imediatamente ao pedido de comentários sobre como a mudança poderá criar disparidades no acesso aos dados. A agência apenas informou que irá melhorar seu site para lidar com um aumento previsto no tráfego nos momentos após o lançamento do relatório.

Em vez de obter acesso aos dados antecipadamente, os veículos de comunicação só obterão os dados pelo site do USDA, e ao mesmo tempo que o público. O processo de divulgação prévia de relatórios, sob embargo, é utilizado por várias agências governamentais e permite que os dados cheguem de uma só vez a vários rastreadores de informação.

A tecnologia de transmissão de dados do USDA - conhecida como TCP - funciona como uma fila. Nesse caso, isso significa que a empresa de trading que tiver o robô mais rápido para acessar o site do USDA terá uma vantagem sobre todos, ou seja, poderá largar na frente para oferecer negociações nos mercados de commodities.

A mudança ocorre no dia 1º de agosto. Isso pode tornar os momentos pós lançamento mais voláteis, ao mesmo tempo em que beneficia as empresas com os recursos para digitalizar e negociar mais rapidamente.

“Se a disseminação não for equilibrada, isso pode criar a percepção de que o governo não está jogando de forma justa ou está ligado a certos interesses ou motivos espúrios”, disse Larry Tabb, fundador da empresa de pesquisa de mercado Tabb Group.

De fato, não há nada de ilegal em ser o primeiro a coletar dados públicos e utilizá-los para fazer negócios. Os traders sempre procuram esta vantagem competitiva. Mas, na era digital, uma vantagem de apenas alguns segundos, ou milionésimos de segundos, pode fazer toda a diferença.

Os volumes de negociação de grãos geralmente sobem após a divulgação dos relatórios do USDA. Ainda que algumas empresas utilizem imagens de satélite para fazer suas próprias avaliações das lavouras, os dados do governo continuam sendo a referência nas previsões de produção doméstica e global.

As autoridades do USDA disseram que notificaram o Departamento do Trabalho e o Censo sobre a mudança política. Essas agências usam tecnologias diferentes para publicar seus relatórios e não indicaram que pretendem cancelar o sistema de divulgação pela mídia, com hora marcada para levantar o embargo.

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