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Ração chega às granjas e soja aos portos: setor agrícola inicia retomada

Desde o início da greve, 18 mil caminhões deixaram de descarregar no Porto de Paranaguá | IvanBueno/APPA
Desde o início da greve, 18 mil caminhões deixaram de descarregar no Porto de Paranaguá (Foto: IvanBueno/APPA)

Após a desobstrução parcial das estradas, o setor agrícola começa a retomar lentamente suas atividades.

Cerca de um terço dos frigoríficos do país voltou a funcionar e caminhões de soja seguiram para os portos -mas as usinas de açúcar e álcool permaneciam com problemas às vésperas do feriado de Corpus Christi. A situação deve demorar alguns dias para se normalizar.

No Porto de Paranaguá, após nove dias sem registrar entrada de caminhões carregados de produtos, o terminal voltou a receber cargas desde as 14h de quarta-feira. Nas duas primeiras horas de operação, 52 caminhões chegaram ao porto. Com a liberação da estrada, Paranaguá esperava receber 1168 caminhões em apenas 24 horas, o que representa cerca de 42 mil toneladas de soja. Na baía de acesso ao porto, a fila chegou a 37 navios.

Cálculo preliminar da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) aponta um prejuízo de R$ 6,6 bilhões para o setor agrícola por causa da paralisação dos caminhoneiros, mas esse número deve ser atualizado em breve. O setor, que vem sustentando a recuperação da economia brasileira, foi um dos mais afetados.

Durante os dez dias de bloqueio das estradas, cujo tráfego só agora começa a se normalizar, 70 milhões de aves morreram de inanição ou canibalismo, 300 milhões de litros de leite foram perdidos e todos os frigoríficos e usinas de cana de açúcar do país pararam de funcionar.

Diante da dimensão das perdas, os produtores de grãos, que vinham apoiando o movimento dos caminhoneiros -porque também são afetados pelo aumento do óleo diesel-, foram obrigados a recuar, principalmente por causa da pressão dos frigoríficos e criadores de animais.

Nas granjas de aves e suínos, onde a situação é mais crítica, começou a chegar de 10% a 30% da ração diária nesta quarta-feira, aliviando a fome dos animais e reduzindo as mortes -que, ainda assim, continuaram a ocorrer.

Fome

“O desespero dos bichinhos quando a ração chega é impressionante”, diz Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

De acordo com a entidade, 46 frigoríficos voltaram a funcionar parcialmente em todo o país e outros seis devem retomar os abates em breve, o que significa 30% do total de 170 plantas. As unidades que retomaram as operações pertencem a diferentes empresas, como Aurora, BRF, Seara e Copacol. O ritmo dos trabalhos, no entanto, é lento.

No setor de soja, que também foi afetado pela paralisação, caminhões com o grão destinado à exportação voltaram a trafegar rumo aos portos, após a desobstrução da estrada perto de Rondonópolis (MT), um dos principais canais de escoamento da produção agrícola país. Na última terça-feira (29), um piquete havia impedido que mais de cem veículos seguissem viagem.

As esmagadoras de soja, no entanto, ainda não retomaram as atividades, conforme a Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais). As fábricas, que produzem óleo e farelo, ainda não têm um estoque de grão suficiente que permita voltar a funcionar com segurança.

Açúcar e álcool

As usinas produtoras de açúcar e etanol também não retomaram completamente as atividades, com exceção de algumas fábricas na região de Presidente Prudente (SP). Segundo a Unica (União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo), a moagem da cana foi retomada de forma intermitente. O setor estima em R$ 180 milhões o prejuízo diário provocado pela greve.

As atividades ainda não foram restabelecidas porque as usinas não receberam o diesel necessário para a operação das máquinas, apesar da redução do número de bloqueios nas estradas. O combustível está sendo enviado prioritariamente a serviços essenciais e aos consumidores.

Também não vem sendo possível embarcar o etanol, porque os mesmos caminhões que deveriam chegar com o diesel são aqueles que levam o combustível produzido nas usinas. O etanol que chegou aos postos foi do tipo anidro, que já estava no estoque nas distribuidoras. Ainda há pouca disponibilidade de etanol hidratado, que vem direto das usinas, nas cidades.

“Assim que o fluxo de caminhões se normalizar, o setor tem condições de atender à demanda dos consumidores por etanol, porque os estoques nas usinas chegam a mais de 40 dia de consumo, apesar da interrupção da moagem”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica.

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