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China é o principal parceiro comercial brasileiro | IvanBueno/Arquivo APPA
China é o principal parceiro comercial brasileiro| Foto: IvanBueno/Arquivo APPA

O governo Jair Bolsonaro está preocupado com perdas bilionárias que o setor agrícola do país pode sofrer com a crescente perspectiva de uma trégua comercial entre Estados Unidos e China.

Nesta semana a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se reuniu com o presidente Bolsonaro para comunicá-lo de que os produtores de soja deverão ser os maiores afetados caso a trégua se confirme e as duas potências internacionais ponham fim à guerra tarifária que travam desde o ano passado.

O Brasil seria afetado porque a China, segundo informaram agências internacionais de notícias, ofereceu nos últimos dias comprar um adicional de US$ 30 bilhões (R$ 111 bilhões) em produtos agrícolas americanos ao ano, como parte de um acordo comercial mais amplo com os EUA.

Caso a proposta se confirme, deverá reduzir a demanda chinesa por produtos agrícolas brasileiros, principalmente a soja.

“Esse efeito vai ser para a próxima safra. Mas que vai ter, vai. É isso que a gente vai ter que acompanhar”, disse a ministra da Agricultura nesta quarta-feira (27).

De acordo com estimativas da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), as perdas neste ano para o setor podem chegar a US$ 5,5 bilhões (R$ 20,5 bilhões).

A associação diz que uma diminuição das compras chinesas de soja pode reduzir em até 15 milhões de toneladas o volume de exportações do produto para a China.

No ano passado, ainda segundo a Aprosoja, foram enviadas 69 milhões de toneladas de soja para o país asiático.

O diretor executivo da Aprosoja, Fabrício Rosa, afirma que, com a nova oferta de soja americana para a China, a tendência é que as exportações brasileiras do produto ao país asiático retomem aos patamares anteriores ao início da guerra comercial entre Washington e Pequim.

Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, deu início à chamada guerra comercial, os chineses retaliaram e impuseram uma tarifa de 25% sobre a soja americana. Isso levou a um boom das exportações de soja do Brasil para país asiático.

“O Brasil vai continuar sendo o principal fornecedor de soja para a China. O Brasil é o único que têm condições de abastecer, sozinho, o mercado chinês”, disse Rosa. “Os EUA, mesmo juntos com as exportações da Argentina, não conseguiriam abastecer o mercado chinês”, acrescentou.

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Assim como Teresa Cristina, o diretor da Aprosoja afirma que o impacto do novo quadro internacional sobre o mercado brasileiro seria gradual.

O tema gera forte apreensão no Ministério da Agricultura. Nesta quarta-feira, ao participar de uma sessão da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Tereza Cristina disse que o acordo entre EUA e China gera “preocupação” no governo.

A ministra disse ainda que o ministério está avaliando como responder a uma possível redução da demanda por soja. Segundo ela, a pasta deve intensificar os esforços para a abertura de novos mercados para o produto brasileiro.

Cotas não bastam

Na semana passada, durante o encontro anual do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o subsecretário americano para o Comércio e Assuntos Internacionais, Ted McKinney, disse que não basta que a China ofereça comprar “determinadas cotas” de produtos agrícolas norte-americanos. “Claro que esperamos que eles comprem nossos produtos. Mas primeiro eles devem abandonar praticas injustas de comércio; coisas como roubo descarado de propriedade intelectual, transferências tecnológicas forçadas e várias outras barreiras. Se conseguirmos estabelecer um sistema regulatório baseado num sistema justo e recíproco, daí vamos ver os mercados livres e um comércio livre, justo e recíproco”.

Para Thomé Guth, gerente de produtos agropecuários da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que também foi palestrante no encontro do USDA, a “chinodependência”, a médio-longo prazo, não faz bem ao Brasil. “Se essa situação se inverter e eles passarem a importar mais dos EUA, o que acontece com o Brasil? Tomamos prejuízo, porque, numa situação normal, os americanos têm uma logística mais vantajosa, uma série de coisas em que são mais competitivos. A guerra comercial não é interessante, portanto, porque gera uma expectativa irreal”.

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