A negociação continua e parece estar longe do fim: produtores agropecuários do Mercosul se recusam a aceitar a proposta feita pela União Europeia de abertura de mercado e alertam que o acordo final entre os dois blocos pode ficar desequilibrado.
Nesta semana, num encontro ministerial em Bruxelas, na Bélgica, a Comissão Europeia elevou sua oferta de abertura de 70 mil toneladas para 99 mil toneladas de carnes do Mercosul. O tema era central para destravar o impasse no processo que já dura 19 anos. O Brasil já havia deixado claro que, sem maior acesso para o segmento, não haveria acordo.
A partir de agora, os ministros retornam aos seus países. Mas técnicos e negociadores ficam até dia 8 de fevereiro para tentar aproximar posições e fechar a base de um acordo. Uma nova reunião já foi marcada para o dia 18, em Assunção, Paraguai.
Negociadores revelaram que a meta é acelerar o processo e tentar concluir o entendimento até março. Fontes no Palácio do Planalto acreditam que o acordo é “possível”.
Os europeus também estão sendo cobrados pelas concessões que fizeram. A Irlanda, por exemplo, deixou claro que não aceitaria uma ampliação das cotas de carne. No entanto, a proposta que foi apresentada ao chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira foi alvo de dura crítica por parte das entidades que representam o setor agropecuário no Mercosul, entre eles a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Sociedade Rural Brasileira.
“A oferta de 99 mil
toneladas de carne não cumpre o mandato de 2010 e não contempla a ambição do setor no Mercosul”, disseram os grupos, que ainda apontaram para a “falta de informação” sobre o restante das condicionalidades.
A oferta não atende às expectativas do setor agropecuário do Mercosul, insistiram as entidades, num documento assinado por Gedeão Silveira Pereira, presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, e enviado aos ministros do bloco.
A demanda do setor é de que a cota seja estabelecida inicialmente em 100 mil toneladas e que haja um incremento anual até atingir 160 mil toneladas por ano.
O setor também criticou a falta de “transparência” do processo. “Confiávamos que os governos do bloco buscariam um acordo amplo e equilibrado, que trouxesse reais benefícios para os produtores rurais sul-americanos”, disseram as entidades na carta.