O caso da soja é pragmático. O comércio mundial cresceu 278% nas últimas duas décadas, mas, desconsiderando a China, esse número cai para 38%.
Essa turbulência do mercado não é desprezível, mas até agora ela não impactou a demanda chinesa por soja. A tendência de crescimento.
Uma semana depois do solavanco nas bolsas de valores provocado pela China, as cotações globais das commodities agrícolas –que influenciam diretamente a economia brasileira e se pautam na demanda chinesa – recuperaram perdas com folga. O ano começou com baixa 1% na soja e de 2% no milho no primeiro dia útil (4/jan), mas o saldo (descontada essa baixa) chega a 2% e 3,5%, respectivamente, nos contratos futuros da Bolsa de Chicago com entrega prevista para março e maio (auge da colheita brasileira).
O quadro permite que o Brasil registre altas acima desses patamares, uma promessa de aumento na receita bruta da agricultura. A valorização de 2,5% do dólar ante o real eleva os valores pagos ao agricultor brasileiro. No Paraná, os preços do mercado físico subiram 5,5% para soja e 12,8% para o milho ante a média de dezembro. A oleaginosa chega a R$ 70 e o cereal a R$ 27 por saca de 60 quilos. Em Mato Grosso, onde notícias de perdas se consolidam com o início da colheita, houve altas de até 20% em uma semana.
A queda nas cotações da soja e do milho no início do ano mostrou ser reflexo de um momento de incerteza. “Esses soluços do mercado refletem a ideia de que a China está desacelerando mais forte do que se esperava”, pontua o diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Para o analista de mercado Flávio França Junior, trata-se de um comportamento de aversão aos riscos. “Em meio à incerteza os investidores buscaram ativos mais seguros, como o dólar”, exemplifica.
Assim, o fator cambial assume peso decisivo para garantir sustentação as cotações da oleaginosa. O yuan acumula desvalorização de 4% frente ao dólar, mas registra alta de 42% frente ao real. Isso amplia o poder de compra chinês no Brasil, favorecendo um redirecionamento da demanda.
Perto de 80% do crescimento do mercado da soja, que foi de 278% em duas décadas, devem-se à China, aponta o analista da Bolsa de Comércio de Rosário Guillermo Rossi.
Mesmo com as mudanças os especialistas descartam uma queda na demanda. “Ninguém está falando em recessão. A importação chinesa vai crescer menos, mas não quer dizer que vai retrair”, argumenta Ferraz, da Informa Economics. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), estima salto de 3% nas compras chinesas em relação à temporada 2014/15, chegando a 80,5 milhões de toneladas neste ciclo.