A União Europeia e o Japão superaram as diferenças em torno da exportação de produtos agrícolas e automóveis, pavimentando o caminho para um acordo de livre comércio entre dois parceiros que respondem por mais de um quarto da economia mundial.
“Chegamos a um acordo político em nível ministerial”, anunciou pelo Twiter nesta quarta-feira (5) a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmstrom. “Recomendaremos agora que o acordo seja confirmado por nossos líderes no encontro de cúpula”.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, o chefe da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, devem endossar nesta quinta-feira o acordo preliminar que vinha sendo negociado desde 2013.
Shinzo Abe tem buscado colocar o Japão na liderança do comércio mundial desde que o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos, em janeiro, do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) para dar lugar à política “América em primeiro lugar”.
O pacto União Europeia-Japão é também um triunfo político da chanceler Angela Merkel, que será anfitriã dos líderes das 20 maiores economias do planeta nesta semana, em Hamburgo, ocasião que o governo alemão aproveitará para pregar o livre comércio mundial.
Pelo acordo bilateral, a União Europeia fará uma retirada gradual da taxa de 10% sobre a importação de carros do Japão, enquanto o governo japonês expandirá a abertura de seu mercado para produtos agrícolas europeus.
Resistência doméstica
O primeiro-ministro japonês, cuja popularidade está em baixa, vem enfrentado resistência do lobby agrícola entre parlamentares do próprio partido governista, o Liberal Democrata. O que deverá ser o maior tratado de livre comércio já assinado pela União Europeia surge num momento em que o bloco busca impulsionar suas credenciais liberais diante do desafio de Trump à atual ordem do comércio internacional, estabelecida após a Segunda Guerra Mundial.
Segundo uma fonte que participou diretamente das negociações, as conversas entre os dois parceiros avançarão até o outono no Hemisfério Norte, podendo demorar ainda alguns meses até que as bases do acordo estejam lançadas em um documento jurídico e formal.
Quando estiver totalmente implementado, informou o negociador, o acordo significará a eliminação de 99% das tarifas. Haverá ainda um cronograma de sete anos para zerar a alíquota europeia para importação de carros do Japão.
A TV pública japonesa NHK informou que o Japão criará uma cota com tarifa reduzida para os queijos europeus e que esta taxação será abolida em um prazo de 15 anos. Após os negociadores terminarem seu trabalho, e antes de qualquer efeito prático, o Parlamento Europeu e os governos nacionais do bloco ainda terão que ratificar o acordo, um processo em que o resultado não pode ser garantido.
No ano passado, usando suas prerrogativas de ente federado em questões comerciais, a região belga da Wallonia quase torpedeou um acordo comercial similar entre a União Europeia e o Canadá.
O primeiro-ministro japonês, que vive um momento político tumultuado por escândalos domésticos e acaba de sofrer uma dura derrota nas eleições em Tóquio, terá de enfrentar as pressões de seu Partido Democrático Liberal para manter as medidas de proteção ao queijo “Made in Japan”. A União Europeia, maior exportador mundial de queijos, prevê que o acordo gerará receitas adicionais de 10 bilhões de euros na venda de alimentos processados ao Japão, como carne e derivados do leite. Por outro lado, os fabricantes de automóveis japoneses vinham reclamando de perder espaço para seus competidores da Coreia do Sul, que já possui um acordo comercial com os europeus.
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