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Alysson Paolinelli foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pelo projeto de transformação da agricultura brasileira nos anos 1970.
Alysson Paolinelli foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pelo projeto de transformação da agricultura brasileira nos anos 1970.| Foto: Divulgação/Abramilho

Morreu nesta quarta-feira, 29 de junho, o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, de 86 anos. Ele estava internado há um mês no Hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte, e teve complicações de saúde após cirurgia para implantação de uma prótese no quadril.

Paulinelli, ainda um jovem engenheiro-agrônomo, comandou nos anos 1970 a transformação da agricultura brasileira, até então deficitária e dependente de importações, numa potência internacional, que hoje alimenta mais de 1 bilhão de pessoas em cerca de 180 países. Por seu trabalho, foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, em 2021 e 2022.

Como ministro da Agricultura de Ernesto Geisel, Paolinelli foi um dos responsáveis pela estruturação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com unidades espalhadas por todo o país. Foi dele a ideia de reunir 1500 dos melhores estudantes de agronomia e enviá-los ao exterior com bolsas de estudo de mestrado e doutorado, a fim de conhecer as tecnologias mais modernas e tropicalizá-las na volta ao Brasil. Assim, à frente de seu tempo, "inventou" o benchmarking na agricultura.

Conquista do Cerrado mudou o jogo na agricultura brasileira

Graças à ação visionária de Paolinelli, o Cerrado brasileiro, até então tido como inservível para a agricultura, foi transformado em um dos maiores polos de produção de alimentos do mundo. Relembrando o projeto Polocentro, que visava incorporar parte do Cerrado à produção agropecuária, Paolinelli afirmou, em entrevista à Embrapa, em 2021: “Os produtores mostraram que queriam ser influenciados pelas inovações que davam certo nos vizinhos. Quando deixamos o governo, já haviam mais de 3 milhões de hectares de Cerrado em uso no Brasil, o que garantiu ao país o equilíbrio da balança comercial, pois em cinco anos nos tornamos quase autossuficientes”.

O trabalho desenvolvido por Paolinelli impressionou até mesmo o engenheiro-agrônomo Norman Borlaug, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1970 pela chamada “Revolução Verde”, que multiplicou a produção de grãos e cereais por meio de melhoramento genético, salvando milhões de pessoas da fome. Em uma de suas visitas ao Brasil, em 1994, Borlaug disse que o Cerrado brasileiro era palco da segunda Revolução Verde da humanidade. "Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que tornaram uma área improdutível há 20 anos na maior reserva de alimento do mundo. Quero levar essas técnicas para a África", afirmou à época Borlaug.

Para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, Paolinelli era o maior brasileiro ainda vivo. No prefácio do livro "Alysson Paolinelli, o visionário da agricultura tropical", Rodrigues escreveu que como resultado das ações estratégicas dele, "as famílias brasileiras puderam gastar muito menos com comida, destinando recursos para itens como educação, saúde, cultura e bens de consumo duráveis".

Brasileiros têm dívida com Paolinelli

"Foi a maior revolução da agricultura tropical assistida no planeta. E sustentável, o que faz uma diferença enorme no atual cenário competitivo do mercado global do agronegócio. Não há um único brasileiro que não tenha uma dívida gigantesca com Paolinelli: os produtores rurais, que dele receberam a tecnologia e a política agrícola moderna que os tornou competitivos internacionalmente; e os consumidores, que passaram a alimentar-se mais e com melhor qualidade e economia. E o Brasil inteiro, que mudou da amarga condição de importador para orgulhoso provedor de comida para o mundo", disse Rodrigues.

No ano passado, em entrevista à Gazeta do Povo – “Brasil matará a fome do mundo, se burrice e ideologia não atrapalharem” – Paolinelli demonstrou satisfação pelo reconhecimento internacional como líder da chamada “revolução agrícola tropical sustentável”. Para ele, utilizando apenas as áreas já antropizadas do Cerrado, sem tocar em 54% da vegetação nativa ainda preservada, “o Brasil pode abastecer o mundo com as tecnologias disponíveis”. Mas alertou para o perigo de se inspirar em modelos esquerdistas da Venezuela e Argentina. “Não é por falta de recurso que o povo vai passar fome. É por burrice mesmo. A ideologia leva a isso”, afirmou.

A morte de Paolinelli foi lamentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que disse que o mineiro "transformou a agricultura do Brasil e desbravou o Centro-Oeste em um período que o Brasil importava alimentos". "Com as dinâmicas dele, passamos a ser grande exportador de alimentos. Meus sentimentos a familiares e amigos", afirmou.

Para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), é um dia muito triste para a agropecuária brasileira. "Ele nos deixa o legado de um homem que tinha uma visão além de seu tempo, e que possibilitou que chegássemos onde chegamos hoje, sendo exemplo para o mundo e grande produtor de alimentos. Ele fica em nossa lembrança com muita gratidão e respeito", enfatizou.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também homenageou o ex-ministro. “Perdemos hoje um grande mineiro. O ex-ministro Alysson com certeza foi um dos maiores nomes que a agricultura do Brasil já teve e se o agro hoje no Brasil é essa potência, que alimenta quase todo mundo, isso se deve a ele. Tive a satisfação de conviver e aprender muito com ele”, afirmou o governador à rádio Itatiaia. O velório de Paolinelli será em Belo Horizonte, no Palácio da Liberdade, sede do governo do Estado.

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