Falar mal do agronegócio brasileiro, que produz alimentos para alimentar quase um bilhão de pessoas, tem sido a tônica de uma ala político-partidária e ideológica que preferiria a agricultura de subsistência ou a impraticabilidade matemática de alimentar o mundo apenas com produtos orgânicos.
Pois o discurso, que sempre irritou os produtores rurais, agora é frontalmente rechaçado na letra de uma música, que vem disparando em visualizações nas redes sociais. Em um trecho, a letra de Caipira Forever, gravada por Hugo & Castellari e US Agroboys, questiona: “Falando mal do agro, com a picanha no prato. De onde vem a gela que cê bebe e a carne que cê come?”
O jornalista musical GG Albuquerque, de Pernambuco, criou polêmica ao desprezar a canção, falar de brasileiros que passam fome e criticar os sertanejos por supostamente insinuarem que “o povo tá comendo picanha”. A maior parte dos comentários, foi em defesa do agro. “Como estudante de música, no mínimo você deveria saber de uma coisa chamada licença poética, na qual quando ele diz picanha, ele fala de um geral de carnes”, rebateu um internauta. “Qual a mentira da letra?”, perguntou outro. “É só não consumir nada do agro, já que é contra. Vai morrer de fome”, disse um terceiro.
Alimentos para o mundo e superávit na balança comercial
O setor agropecuário brasileiro é responsável por um a cada três empregos no país. Reportagem recente desta Gazeta do Povo mostrou que as oportunidades de trabalho no setor vem crescendo ainda mais, devido à revolução digital das operações, mas sobram vagas devido à falta de mão de obra habilitada.
Em 2020, um total de 48% das exportações brasileiras foram do agronegócio. Desde 2010, as receitas do agro superam o déficit da balança comercial de todos os demais setores da economia brasileira, garantindo sucessivos superávits à economia nacional. O Brasil não somente é o maior produtor e exportador de soja (que, como ração, acaba se transformando em carne), como lidera os mercados internacionais de café, suco de laranja, açúcar, carne de frango e carne bovina.
Os números mostram que o problema do Brasil não é falta de comida, mas falta de renda. Ciro Rosolem, professor da Faculdade de Ciências Agrícolas da FCA/Unesp Botucatu, em artigo na Revista Rural, ponderou que “onde a agricultura tecnológica, organizada, cresceu, melhorou o nível de emprego e renda da população. Então, contra a insegurança alimentar o remédio é emprego”.
“Pasmem, a insegurança é maior entre os agricultores familiares, que recebem 70% das subvenções governamentais para o setor agropecuário. Algo não está funcionando bem, mais uma vez parece que o dinheiro não está sendo bem empregado. É que não basta dar terra. É preciso ensinar a produzir. Assistência técnica de qualidade, sem ideologias, sem política”, afirmou Roselem.
OMC e FAO contam com o agro brasileiro para vencer a fome
O papel da agropecuária brasileira é tão relevante, inclusive para outros países, que a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem feito apelos para que o País aumente sua produção de grãos, de forma a evitar um desastre global de falta de alimentos. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de todo o volume que precisará ser acrescentado à produção global de alimentos para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050, cerca de 40% terá de vir do solo brasileiro. De nenhum outro país se espera uma contribuição tão alta.
Quem critica as commodities agrícolas, provavelmente não conhece a frase comum no meio rural de que “um frango é um saco de milho com asas”, ou seja, a proteína vegetal é base da proteína animal, e, portanto, fonte de segurança alimentar.
Veja, abaixo, a letra da música Caipira Forever, e o vídeo no YouTube, que tem mais de 700 mil visualizações.
Fala aí como é que funciona?
Aham, então tá bão.
Falando mal da roça com a cerveja na mão
Aham, seu brabo
Falando mal do agro, com a picanha no prato
De onde vem a gela que cê bebe e a carne que cê come
Responde, responde
Camisa de algodão que você veste, cada grão que cê consome
Responde, ficou mudo
É por causa de nós que até o produto interno é bruto
É o povo da roça, da mão calejada e grossa
que nunca entrou de greve
Por isso sou caipira, caipira forever
nóis é bão de pinga, na soja passamo a gringa
e o Brasil agradece
Por isso eu sou caipira, caipira forever
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