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O Paraná está pra peixe

Desempregado no Rio Grande do Norte, William Dantas encontrou oportunidade na cadeia do peixe no Paraná | Imprensa/C.Vale
Desempregado no Rio Grande do Norte, William Dantas encontrou oportunidade na cadeia do peixe no Paraná (Foto: Imprensa/C.Vale)

A produção de pescados no Paraná nos últimos anos avança num ritmo comparável à piracema, a frenética corrida dos peixes rio acima para reprodução. Líder nacional, o estado foi o primeiro a romper a marca de 100 mil toneladas anuais de peixe. Para 2019, o Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura projeta um crescimento de 17% sobre os resultados de 2018.

O impulso mais forte e mais recente à atividade foi dado pela cooperativa C.Vale, de Palotina. Com um investimento de R$ 110 milhões, a empresa colocou em funcionamento o maior abatedouro de peixes do país, que acaba de completar aniversário de um ano. Atualmente, 75 mil peixes são abatidos diariamente na unidade industrial. A previsão é de chegar a 90 mil tilápias por dia até abril de 2019.

A cooperativa foi a primeira empresa a contratar o custeio para piscicultura no regime de integração, através da Caixa Econômica Federal, banco pioneiro nesse tipo de operação. Essa modalidade de custeio, que pode ser contratada por cooperativas e integradoras nas agências da Caixa, permite a aquisição dos insumos necessários para manutenção da atividade de forma antecipada, um benefício repassado diretamente para os piscicultores cooperados/integrados. O limite de crédito é de R$ 500 mil por produtor cooperado e R$ 200 mil no caso de produtores integrados.

“Acredito que o sucesso desse mercado se deve à vocação e à necessidade. Muitos produtores pequenos precisam diversificar seu cultivo para complementar a renda. Então, é uma combinação da aptidão natural, da necessidade e também do clima que é favorável em boa parte do ano”, destaca o presidente da C.Vale, Alfredo Lang.

O médico veterinário e coordenador da área de pecuária de Toledo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Gelson Hein, observa que a cultura é relativamente nova no estado. A atividade foi estabelecida há aproximadamente 20 anos e o desenvolvimento se deve a produtores que acreditaram no negócio, se profissionalizaram e se prepararam para crescer. “É uma cultura com boa lucratividade, todos aqueles que conseguiram entrar e se manter nesse ramo e encontraram bons pontos de comercialização têm conseguido alcançar bons resultados”, assegura Lang.

Projeto Piscicultura

Para auxiliar pequenos produtores, a Emater criou o Projeto Piscicultura, que alcança os principais polos de produção de peixe no estado. O foco está em levar assistência técnica aos piscicultores, além de promover a integração da cadeia produtiva com eventos, palestras e dias de campo.

No mapa da piscicultura paranaense, Toledo, na região Oeste, tem lugar de destaque. O município responde por cerca de 75% da produção do estado. Pioneiro na produção de peixes na região, Carlos Stuany acreditou no negócio e se especializou, ainda na década de 80, tornando a atividade a principal fonte de renda de sua família. Parceiro da Emater desde o início, ele destaca a importância de aprimorar as técnicas e acompanhar a evolução das tecnologias.

“É uma cadeia que vem crescendo e ganhando investimentos interessantes. Infelizmente, aquele que está fazendo de qualquer jeito, ou não se especializando para isso, não sobrevive. Eu vejo um futuro próspero e otimista para o peixe, pois é um dos alimentos mais saudáveis que temos e a demanda por esse tipo de proteína está crescendo a cada dia”, destaca Stuany.

Consumo

Dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), mostram um crescimento acentuado no consumo desta proteína animal. O brasileiro consome por ano uma média de 10 quilos de peixe, ainda bem abaixo dos 20 kg recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Entre as espécies comercializadas, a que mais se destaca no país é a Tilápia. No Paraná, a espécie representa 84% da produção total. Em seguida, vêm as carpas, com 7%, o Pacu com 5% e demais espécies - bagres, piauçu, tambacu e traíra – com 4%.

Segundo Gelson Hein, o único “adversário” da tilápia no Paraná é o inverno, já que a espécie não se adapta muito bem às baixas temperaturas. A ausência de invernos rigorosos, no entanto, tem ajudado a contornar essa dificuldade. “Seria uma grande sacada, inclusive, se tivéssemos outras espécies. Ou seja, outras espécies para competir com a tilápia, agregar ou ampliar o mercado de peixes”, pondera.

Potencial

A modalidade de cultivo mais utilizada por produtores paranaenses é a de viveiro de terra ou tanques escavados. A evolução tecnológica trouxe novas possibilidades de manejo, com instrumentos para análise da qualidade da água, rações específicas e melhoradas para os peixes. Pelo melhoramento genético, buscam-se tilápias com maior ganho de peso em menor tempo, resultando em melhor rendimento do filé.

Os piscicultores integrados à C.Vale utilizam o sistema de tanques convencionais, mas com investimentos em automação da alimentação dos peixes e em aparelhos para incorporar oxigênio à água. O presidente da cooperativa ressalta a importância de investir em qualidade. “Entendemos que é preciso ter um padrão elevado de qualidade e controle da matéria-prima; produzir filés de tilápia sem espinhos e sem qualquer sabor estranho. Assim como aconteceu com o frango, a gente vai acumulando conhecimento ao longo dos anos e vai melhorando os índices de desempenho”, diz Alfredo Lang.

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