Na fazenda Canguiri da Universidade Federal do Paraná, em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, um pequeno bosque se destaca pelo vigor das plantas e intensa cor verde-musgo de suas folhas pontiagudas. Até parecem pinheirinhos de Natal. Seria uma espécie de pinus, cedro, pinheiro bravo ou o quê?
O nome da espécie é criptomeria japônica, ou apenas criptoméria, uma das apostas da pesquisa florestal paranaense para aumentar a qualidade da madeira produzida no estado. Originária da Ásia, a criptoméria se adaptou perfeitamente ao clima frio do Sul do país, onde pode alcançar até 50 metros de altura, rendendo madeira de ótimo aproveitamento na produção de móveis.
“Testamos a criptoméria pelos últimos dez anos, e essa é uma espécie com desempenho espetacular. Dá para dizer que chegou a hora de introduzir a criptoméria no cultivo comercial, já podemos levá-la com segurança aos produtores”, afirma Amauri Ferreira Pinto, coordenador de produção florestal da Emater Paraná.
Assim como a criptoméria, outras 24 espécies adaptadas a regiões de ocorrência de geadas ou próprias para integração silvipastoril (floresta-pecuária) vêm sendo estudadas em uma parceria da UFPR, Embrapa Florestas e Emater. Os estudos acontecem tanto na fazenda experimental da UFPR como em 14 propriedades rurais de União da Vitória, uma das regiões mais frias do estado.
Acima do paralelo 24, ou seja, na parte mais quente do Brasil, a oferta de variedades de cultivos florestais sempre foi mais diversificada. No Paraná, no entanto, a escolha se restringia historicamente a três espécies de cultivo florestal, não necessariamente mais adaptadas à região: os pinus taeda e elliottii e o eucalipto dunni.
“Somos conhecidos mundialmente por produzir madeira em grande quantidade, mas também por nossa falta de qualidade. Com essas novas espécies e com híbridos melhor adaptados podemos garantir uma qualidade maior e, também, mais renda para os produtores”, sublinha Amauri. O pesquisador alerta, contudo, para que os interessados sempre procurem a Emater, que poderá indicar viveiros de confiança, evitando assim o investimento em mudas de procedência duvidosa.
A pesquisa oficial é importante, principalmente, para os pequenos e médios produtores, que não acessam com facilidade as novas espécies e híbridos (a partir do Eucalyptus benthamii, por exemplo), já conhecidos de grandes empresas e grupos florestais.
Para o professor Alessandro Camargo Angelo, do Departamento de Florestas da UFPR, um dos tabus que ainda precisam ser quebrados é o de que uma espécie ou é “economicamente viável” ou é “ambientalmente adequada”. “Esse problema não existe, dá para ser as duas coisas”, diz Angelo, que destaca inclusive o potencial das araucárias para cultivo comercial, que esbarra, atualmente, numa legislação ainda muito inflexível.
Veja, abaixo, algumas das espécies testadas e aprovadas em áreas de geada, com tecnologia de produção em escala disponível nos viveiros florestais do estado:
Criptomeria japonica : árvore conífera do Japão que pode chegar aos 50 metros de altura, cresce bem em solos profundos e bem drenados. A madeira tem boa qualidade para desdobro e movelarias. Ciclo, no Paraná, entre 16 e 25 anos, com desbastes intermediários a partir dos 12 anos (quando do espaçamento tradicional de 2X3 metros). Testes em sistemas silvipastoris serão iniciados ainda neste ano.
Cunninghamia lanceolata : Também conhecida como pinheiro chinês, trata-se de árvore de grande porte, madeira com boa qualidade para desdobro e movelarias. Apresenta desenvolvimento inicial lento, mas pode chegar a 50 metros de altura. Espécie pouco exigente em solos, madeira leve, contudo com boa resistência ao apodrecimento e a insetos.
Eucalipto híbrido uroglobulus : espécie que rende tanto para produção de madeira como para extração de óleos essenciais de uso medicinal. Deve ser plantada em solos bem drenados e profundos, produzindo rebrotas vigorosas para a colheita das folhas, utilizadas em infusões terapêuticas.
Araucaria angustifolia : O cultivo do pinheiro do Paraná voltado à produção de pinhões, ou seja, como árvore frutífera, é mais rentável para os pequenos produtores rurais do que o manejo para a produção de madeira. A Embrapa Florestas oferece cursos a viveiristas, principalmente, para repassar tecnologia de seleção de árvores matrizes e enxertia. Alguns viveiros já têm disponibilidade de mudas, mas os preços ainda são altos. O governo do estado desenvolve projeto para implantação de 40 unidades demonstrativas, em propriedades de pequenos produtores rurais, para difusão da atividade.
Integração silvipastoril
A madeira é o terceiro maior produto de exportação do agronegócio do Paraná, atrás apenas dos complexos soja e carnes. O estado responde por 40% das exportações brasileiras de floresta plantada, mas, mesmo assim, precisa “importar” matéria-prima de outros estados. O déficit produtivo é de 600 mil hectares. “Como não existem áreas sobrando, precisamos buscar formas de produzir madeira além dos maciços florestais, e a integração com a pecuária é um caminho interessante”, destaca Amauri Ferreira Pinto. “Temos solo, clima e tecnologia. O desafio agora é fazer chegar essa tecnologia até o produtor”, acrescenta.
Na visita à fazenda Canguiri, a reportagem fotografou alguns bois cruzados de Angus pastando à sombra de eucaliptos, em um dia de forte calor, na área reservada à integração silvipastoril. “Esse cenário é exemplo de bem-estar animal, de microclima favorável em que há recuperação do solo pela adição de matéria orgânica e reciclagem de nutrientes, e manutenção da água no sistema por mais tempo”, destaca Renato Viana Gonçalves, coordenador estadual do Plano de Agricultura de Baixo Carbono.
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