Nesse momento milhares de tilápias estão sendo criadas em tanques e açudes do Oeste do Paraná sob encomenda de um novo cliente: o primeiro abatedouro de peixes da cooperativa C.Vale, que ainda está em obras e só será inaugurado em outubro, após investimento de R$ 110 milhões.
O empreendimento vai gerar 400 empregos diretos na primeira etapa, do nível operacional ao gerencial. A maior parte dos trabalhadores já foi contratada e está sendo treinada para fazer a filetagem do peixe.
A entrada da C.Vale no mercado de peixes, inicialmente com 300 criadores em sistema de integração (a cooperativa fornece os alevinos, a ração e a assistência técnica) e capacidade de abate de 75 mil tilápias por dia, vai ajudar a impulsionar ainda mais uma atividade que cresce aceleradamente no Oeste do Paraná.
A Emater estima que 50 municípios da região produzem diariamente 200 toneladas de tilápia, o peixe que mais apetece aos brasileiros. No Paraná, a tilápia do Nilo (sim, ela tem origem na África), responde por 84% do total de peixes de criadouro, deixando a milhas náuticas de distância as carpas, com 7% de participação, e o pacu, com 5%. Outras espécies, como bagres, piauçu, tambacu e traíra representam juntas os 4% restantes.
A chegada da C.Vale à piscicultura é saudada pela cooperativa concorrente, a Copacol, maior empresa do país no abate de tilápias, que processa 110 mil peixes por dia.
“A oportunidade existe para todos. É uma carne saudável, todos os anos temos perspectiva de aumento de consumo, então não vejo problema. Pelo contrário, havendo aumento da oferta, poderemos ter um equilíbrio melhor dos preços, vamos produzir com custos menores e tornar o filé mais atraente para consumidor”, diz Valter Pitol, presidente da Copacol.
Investimento em tilápias
A própria Copacol está investindo neste ano R$ 50 milhões para aumentar a capacidade de abate para 140 mil tilápias por dia. Hoje a cooperativa conta com 570 hectares de lâmina d’água dedicados ao peixe, o que garante um faturamento de R$ 16 milhões por mês, ou 7% do total da cooperativa.
Para ganhar apelo de consumo, o desafio da tilápia é sair da faixa de preços ainda salgada - de R$ 25 a R$ 28 o quilo do filé - , o que só poderá ser feito com diminuição de custos, melhoria genética e avanços no manejo.
O veterinário Gelson Hen, coordenador da área de pecuária da Emater para a região de Toledo, diz que o que a tilápia mais precisa hoje é oxigênio.
“Aeração é tudo. O peixe precisa de oxigênio, quase como a gente. Não é porque você coloca o peixe na água que o oxigênio vai surgir naturalmente”, diz o especialista. Segundo Hen, o uso de bombas de incorporação de oxigênio à água podem fazer a produção de tilápia saltar de menos de 1kg por metro cúbico para até 5 ou 6kg no mesmo espaço. “A indústria nacional entrou forte na produção desses aeradores, o que está garantindo uma condição melhor da qualidade da água e, em consequência, uma maior produção”, afirma o veterinário.
A adoção de comedouros automáticos é outra prática que deve garantir ganhos significativos de produtividade nos próximos anos, segundo o técnico da Emater. “É complicado depender de mão de obra para alimentar o peixe até oito vezes por dia, a tecnificação está aí para isso”, afirma Hen.
Dados da Emater indicam que a piscicultura está entre as atividades econômicas que hoje dão mais retorno ao produtor da região Oeste, crescendo a taxas de 20% ao ano. A renda líquida pode chegar a R$ 1,20 por quilo. Por ser um peixe de fácil reprodução, rústico e susceptível ao melhoramento genético, a tilápia é comparada à raça bovina predominante no Brasil, e ganhou o apelido de o “Nelore das águas”.
Tanques-rede para tilápias
O pulo do gato (ou da tilápia) seria o uso do lago de Itaipu para criação de peixes no modelo de tanques-redes ou gaiolas. A prática ainda acontece apenas de forma experimental, já que, por precauções ambientais, não está autorizada no tratado entre Brasil e Paraguai para peixes exóticos como a tilápia.
A produtividade da tilápia em um tanque-rede pode se multiplicar em até dez vezes, garante o técnico da Emater, chegando a 50 kg por m3 de água. “O uso de até 1% da área do lago de Itaipu para esse sistema de criação será o grande avanço da piscicultura paranaense no futuro. Na hora em que conseguirmos o licenciamento ambiental, e com todo cuidado de cumprir a legislação, haverá um salto na cadeia produtiva”, arremata Gelson Hen.
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