Jorge Luís Osligi mostra uma das carpas que mantém nos tanques do pesque pague. O aerador, ao fundo, ajuda a manter as condições ideal para a manutenção dos peixes.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O segredo não é a água, mas sim o ar. O crescente aumento da produção de peixes cultivados no Brasil, puxado pela tilápia do Sul do país, se ampara nas boas condições dos viveiros de alta produtividade. Uma dessas condições é ter um eficiente sistema de aeração, que injeta artificialmente ar na água. Sim, o oxigênio do ar também é essencial aos peixes. Além de possibilitar um maior número de animais por metro cúbico, o gás faz com eles tenham melhor desenvolvimento. O resultado é mais dinheiro no bolso do produtor.

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De acordo com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), a produção de peixes de cultivo no país cresceu 4,5% no último ano, passando de 691,7 mil toneladas em 2017 para 722,5 mil t em 2018. A tilápia segue como a estrela nacional, ultrapassando a marca de 400 mil t/ano. A tendência de alta tem se mantido nos últimos cinco anos, período em que a produção de peixes aumentou quase 25% no país.

Francisco Medeiros, presidente executivo da Peixe BR, explica que o uso de aeradores permite um aumento da capacidade de suporte para crescer a produção, inclusive em se tratando de pequenos produtores. “No caso da tilápia, por exemplo, onde se produz 10 toneladas por hectare de viveiro, num sistema eficiente de aeração eu consigo produzir até 50 t por ha”, compara.

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Gelson Hein, médico veterinário e coordenador da área de Pecuária em Toledo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), explica que a tilápia é um dos peixes menos exigentes em termos de oxigênio. “Mas isso não significa que ela tenha um crescimento bom com os níveis de oxigênio baixos. É preciso manter esses níveis acima de 3 miligramas por litro de água, principalmente no período da madrugada, quando há um gasto maior de O2 pelos peixes e pelo zooplâncton presente no viveiro. A tilápia se mantém viva com pouco oxigênio, mas não terá bom desenvolvimento.”

Segundo Medeiros, num sistema sem aeração produz-se de 0,5 kg a 1,2 kg de peixe por m3. Já num sistema devidamente aerado é possível chegar a uma produção de 3 kg a quase 6 kg por m3. No entanto, a falta de O2 na água pode levar à enfermidade dos peixes, além de afetar o apetite e consequentemente o peso dos bichos. Dependendo da espécie também pode ocorrer a morte súbita. “A aeração é como um seguro para o seu sistema de produção”, sentencia Medeiros.

Mas este “seguro” depende de um monitoramento constante dos níveis de oxigênio na água, conforme explica Hein. Também é preciso ficar de olho nos níveis de nitrogênio (amônia, nitritos e nitratos) e de gases tóxicos provenientes de decomposição da matéria orgânica. Para o produtor, a falta de oxigênio na água ocasiona perdas de produtividade e o excesso acarreta no aumento do consumo de energia, já que a maioria dos aeradores é movida a eletricidade.

Tomba e acabou

Os aeradores do tipo chafariz lançam a água para cima, o que aumenta a taxa de oxigênio para os peixes. 

O casal Fernanda e Jorge Luís Osligi, sócios do Pesque Pague Murici, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, conhecem bem os efeitos da falta de oxigênio na água. Segundo eles, os peixes “avisam” quando estão precisando de um ar. “Quando dá problema em algum aerador, eles ficam ‘boquejando’ na lâmina d’água, pedindo oxigênio”, conta Fernanda. Isso se for carpa ou tilápia, pois o bagre catfish é mais sensível à falta de O2. “Não tem aviso. Ele simplesmente tomba e acabou.”

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Fernanda diz ainda que, sem oxigênio, os peixes não se alimentam direito e perdem peso. Além disso, ficam “lentos” e pouco ativos para buscar os anzóis dos clientes. Ou seja, sem os aeradores, o pesque pague fica inviável. Apesar de não ser um criadouro de peixes, pois os animais são comprados já adultos e ficam ali apenas para serem vendidos, os 7 tanques do estabelecimento necessitam ainda mais de um sistema de aeração, principalmente por causa da lotação maior dos viveiros, que somados possuem 4,3 mil kgs de tilápias, carpas, lambaris e bagres.

O local utiliza aeradores do tipo “chafariz”, que custam entre R$ 1 mil e R$ 2 mil cada, dependendo do tamanho e potência. Os equipamentos ficam ligados das 21h às 6h, justamente no período em que os peixes mais demandam. José Osligi não sabe precisar o gasto mensal com energia por causa dos aeradores, mas diz que juntamente com a ração a conta de luz está entre os principais custos do pesque pague. “Trabalhamos com uma grande quantidade de peixes e por isso precisamos dessa tecnologia”, afirma.

Ilhas de excelência

“Temos no Brasil ilhas de excelência de produção de peixes, como no Oeste do Paraná, mas há outras áreas com sistema de viveiros escavados, que não usam aeração. No Brasil, 80% dos produtores não utilizam essa tecnologia porque ela é cara e eles precisam estar legalizados para poder captar crédito para comprá-la, e muitos não são”, observa Francisco Medeiros.

Alguns peixes, como a carpa (foto) e a tilápia, são mais resistentes à falta de oxigênio. Mesmo assim a falta do gás pode levar ao adoecimento e baixo desenvolvimento dos peixes. 

De acordo com o especialista, os equipamentos de aeração e suas tecnologias têm pouca variação. Além do valor do aerador, o principal custo é com a energia elétrica, que aumenta significativamente o custeio da produção. Para Gelson Hein, o aerador é essencial para produtores que têm mais de 6 t de peixes por ha. Sistemas com até 4 t por ha não necessitam da tecnologia, pois provavelmente não compensaria os custos.

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Segundo Medeiros, o impacto da aeração na produção nacional de peixes é mais significativo nos estados do PR – maior produtor nacional de tilápia (123 mil t/ano) – e SC, que produz 33,8 mil t de tilápia/ano). Já nos estados do Norte, que criam espécies nativas como o Tambaqui, utiliza-se menos esse sistema. Em MG, MS, SP e GO, a produção ocorre em tanques-redes, que são como gaiolas flutuantes colocadas nos lagos das hidrelétricas, dispensando sistemas de aeração.

De acordo com Medeiros, o aumento de produção brasileira também está associado a outros fatores. De um lado, tem-se o consumidor buscando cada vez mais uma proteína animal mais saudável. Do outro, o produtor que está percebendo na piscicultura uma alternativa de negócio com muito a crescer. “O consumo per capita de pescado no Brasil em 2018 foi de 9,8 kg por habitante/ano, enquanto que o consumo médio mundial é de 20 kg por habitante/ano”, compara.

Ele lembra ainda que o peixe é a única proteína animal que o Brasil importa em larga escala. Em 2018, o país importou 378 mil t de pescado (mais de US$ 1 bilhão) só para atender a demanda interna.