Adécio da Cunha, de 64 anos, é aposentado e há 17 trabalha no cultivo de ostras e mariscos, em Florianópolis (SC), junto com a esposa. “Quando me aposentei, procurei meios de complementar a renda familiar. Nossa produção iniciou com 30 mil sementes de ostras e algumas pencas [assim chamadas as cordas com mariscos] de mexilhão. Aos poucos a família foi se envolvendo no negócio. Hoje somos considerados produtores familiares”, conta.
Adécio é um dos milhares de moradores de Santa Catarina que encontraram no mar uma fonte de renda. O estado, que já é o maior produtor de moluscos do país, ainda possui grande potencial para o desenvolvimento e a expansão da atividade. O obstáculo, por enquanto, tem sido a falta de profissionalização.
Desafios
Segundo o técnico da Federação da Agricultura de Santa Catarina (FAESC), Rafael Luiz da Costa, o setor da aquicultura apresenta baixo conhecimento gerencial, dificultando a tomada de decisões dentro da atividade. “Alguns produtores não realizavam anotações relacionadas às despesas e receitas e, a partir das visitas, iniciamos o levantamento de dados das fazendas marinhas para que seja feita o controle gerencial”, explica.
Desde o final do ano passado, Santa Catarina possui um programa específico de assistência técnica para os chamados maricultores. Por enquanto, são 24 que participam do projeto. Segundo Costa, eles estão na etapa de análise de custos de produção e ainda não apresentam resultados em decorrência de não existir um software específico para a atividade. “Estamos elaborando uma planilha de cálculo que seja objetiva e de fácil aplicação, pois na aquicultura, especificamente a maricultura, diferentemente da agricultura e da pecuária, os animais ficam submersos e diretamente dependentes das variações ambientais”, observa.
“O trabalho é lento, mas já revela muitos avanços no setor gerencial, diferentemente de outras atividades agropecuárias, a assistência da maricultura deve caminhar de forma suave, mas objetiva, mudando a visão do produtor em cada visita e procurando atender de maneira específica cada maricultor. Essa é a chave para o sucesso do programa”, frisa o presidente da FAESC, José Zeferino Pedrozo.
Para Adécio da Cunha, a assistência auxilia o planejamento e a gestão da fazenda marinha. “Estamos sempre buscando maneiras de melhorar nosso trabalho, participando de cursos, palestras, pesquisando materiais, tudo que possa facilitar e agilizar a produção”, relata. Há dois anos consecutivos que a fazenda marinha da família coloca no mar 600 mil sementes de ostras e sete coletores de mexilhão, com 100 metros cada, e 80 pencas de mexilhão.
Lourival de Carvalho Pereira é pescador e há 15 anos aderiu à maricultura como mais uma fonte de renda para a família. “Eu amo o que faço, trabalhar com o mar é a minha vida e encontrei na maricultura a oportunidade de ter sustentabilidade sem deixar de fazer o que gosto”, conta ele. A fazenda marinha de Pereira fica em São José, na Grande Florianópolis, e produz anualmente cerca de 360 mil ostras e 5 toneladas de mexilhão. “A capacidade de produção do litoral catarinense é uma das maiores do mundo, o que falta é incentivo e apoio para expandir”, avalia o maricultor.