O setor avícola passa longe da crise de custos e superoferta deflagrada em 2012. Dados apresentados pela União Brasileira de Avicultura (Ubabef) indicam alta de 6% nas exportações entre janeiro e maio, na comparação com o ano passado. Francisco Turra, presidente da instituição aposta no fechamento de negócios com novos mercados, no ajuste da oferta e na recuperação do consumo interno para manter o saldo positivo no segundo semestre. Confira mais detalhes na entrevista a seguir:
Os dados sobre exportações apontam que houve uma queda na quantidade embarcada, mas a receita com os embarques aumentou. Isso indica que houve um ajuste na produção?
Houve um ajuste natural do mercado, pois há menos matrizes. É um reflexo da crise, que fez o setor se planejar melhor. O volume hoje não é uma preocupação tão grande porque não há uma ambição em “despejar” frango no mercado. A intenção é valorizar o produto no mercado externo, já que é mais difícil a recuperação dos preços em dólar. Já existem resultados: nos últimos dois meses batemos recordes históricos e o preço melhorou. Nesse setor o ajuste é gradual, não ocorre de uma hora para outra. O mercado externo está aceitando os custos mais altos que nós tivemos lá atrás. Estamos conseguindo recompor a receita e repassando os preços em dólar.
Qual a situação do mercado externo atualmente? A perspectiva é de crescimento?
Temos um número expressivo de mercados, 155. Percebemos que a crise econômica está cedendo na Europa. Os números estão mostrando que essa região teve uma boa receita, surpreendentemente boa. O fato novo, que pode dar o choque que falta, é a abertura do México [que pode comprar carne no exterior devido aos casos de gripe aviária registrados no país]. Eles estão cogitando importar 300 mil toneladas oriundas de vários mercados, inclusive o Brasil, que tem as melhores condições para suprir essa demanda. O México é um mercado cativo dos americanos, e nós não tínhamos comércio. As tarifas são impraticáveis, variam de 100% até 240% em alguns produtos, mas agora essa exportação vai acontecer com tarifa zero. É preciso esperar que se firme o acordo sanitário para começar as exportações. Isso faria o ajuste definitivo no setor.
No longo prazo as vendas para o México não podem prejudicar o setor, depois que os problemas de sanidade do país forem superados?
Não. As empresas vão trabalhar para atender uma situação emergência, não de normalidade. Há um pequeno estoque que ainda pode ser transferido. Antes o setor trabalhava com muita margem, mas neste ano em função da crise os estoques são menores. O mercado está muito mais enxuto, mas ainda há uma “gordura” que pode ser usada para atender essa demanda.
A própria Ubabef já diagnosticou uma queda no consumo interno. Esse fenômeno faz com que o mercado externo se torne mais importante?
Não. O nosso principal mercado é o interno, que consome dois terços, 69% da produção. Hoje esse mercado não apresenta sinais de aquecimento, crescimento. Mesmo assim o segundo semestre tende a ser melhor em termos de consumo, a tendência é de aumento.
Hoje o setor está no azul? Há risco de nova crise?
Está se trabalhando positivamente. Não deu para recuperar todas as perdas, mas esse ano é menos trepidante.
Boa parte da exportação ainda é concentrada em carne in natura, mas o produto industrializado tem maior valor. Há alguma estratégia para mudar esse perfil de negócios?
Temos aqui na Ubabef um serviço de inteligência competitiva e de inteligência de mercado. Estamos investigando o gosto do consumidor, para sugerir e oferecer ideias ao setor. A BRF [Brasil Foods] já trabalhar com essa filosofia, oferecendo produtos com maior valor agregado. Outras empresas como a Aurora também estão lançando novos produtos. A mudança é paulatina, vai-se criando uma nova cultura, que já deve se manifestar nos números desse ano.
Em alguns estados como o Paraná houve aumento nos abates. A oferta excessiva foi um dos problemas na crise do ano passado. Isso preocupa?
Não preocupa tanto, porque acompanhamos o número de matrizes alojadas, que não muda de uma hora pra outra. O crescimento só poderia se consolidar no ano que vem. O que pode ocorrer são mudanças de um estado para outro. O desaquecimento de uma planta em um estado pode fazer com que outro estado aproveite a situação e realoque a produção. Mas no agregado a situação é diferente.
Qual a tendência para o resto do ano?
O consumo interno deve ficar mais aquecido. Externamente teremos o Ramadã [Período da celebração islâmica em que os hábitos alimentares ficam alterados]. Um terço das exportações vai para o Oriente Médio e o consumo aumenta. O México é outro fator que balança a nosso favor. Vejo um cenário melhor para a avicultura brasileira no segundo semestre.
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