O Natal é das peruas. Salvo raras exceções, dá para dizer que 100% das ceias familiares de final de ano com peru à mesa serão abastecidas por elas. Para ficar claro, e sem trocadilhos: as peruas fêmeas é que vão para o forno no período natalino.
A explicação da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, que dominam o mercado, é que os machos são muito grandes, alcançam mais de 15 kg e seria inviável colocá-los no forno para assar. Por outro lado, um peruzão de 10 ou 12 kg, custando em média R$ 15 o quilo, daria um ticket de assustar qualquer consumidor no mercado. Sobrou a missão de Natal para as fêmeas, que são abatidas com 60 dias e chegam à mesa do consumidor pesando entre 3,8kg e 4,1kg. Isso, no entanto, não significa que os perus machos não sejam aproveitados em outros momentos de confraternização.
Criados por um período mais longo, de até 140 dias, os machos atingem o ponto de abate pesando entre 18 de 20kg, e concentram bastante carne nas coxas e no peito. A produção é vendida em cortes, salames, embutidos e defumados. “Com relação à maciez, aspecto nutricional ou sabor da carne de perus machos ou fêmeas, não existem diferenças”, disse à Gazeta do Povo, em nota, a BRF.
Paraná é o maior produtor de peruas de Natal do Brasil
Existe, contudo, uma outra diferença importante na criação de perus machos e fêmeas e está ligada à idade, tamanho e comportamento das aves – segundo criadores de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, que é maior polo do país de produção de peruas para o Natal. “Para criar, dá muita diferença. O peru macho chega ao ponto de abate já adulto e pesando até 24 kg. Daí ele fica mais brabo”, diz Valmir Andretto, dono de três aviários e presidente da Associação dos Avicultores Integrados do Sudoeste do Paraná. “É bem melhor cuidar da fêmea do que do macho, nessa parte. A fêmea sai com no máximo 8kg, ou seja, quando quer ficar mais ativa, já vai para o abate”, completa.
Vizinho de Andretto, o criador Adimir Pastre confirma que o peru macho é muito territorialista. “Se entra uma pessoa diferente no galpão, ele pode até avançar. Não que vá machucar alguém, mas o bicho é bem curioso e, ao mesmo tempo, se assusta fácil”, relata Pastre, dono de quatro aviários de 12m x 100m, onde pode alojar 13 mil machos ou, no caso de fêmeas, até 25 mil aves.
Por esses e outros motivos, criar peru é mais “melindroso” do que criar frangos – dizem os produtores. “Quando são novos, por serem maiores, os peruzinhos precisam de mais aquecimento do que os frangos. Enquanto o frango precisa de temperatura entre 30 e 32 graus, o peru necessita uma faixa entre 33 e 36 graus”, revela Andretto. A situação se inverte na medida em que as aves vão crescendo. “Daí ele fica grande, bastante empenado e sente muito calor, e nós temos que mantê-lo resfriado”, sublinha Adimir Pastre.
A escolha de que peru criar – se macho, se fêmea – não cabe aos produtores. É a indústria que direciona a criação, conforme as estratégias de mercado. Produtores dizem que na próxima temporada Francisco Beltrão provavelmente deixará de produzir as peruas do Natal. Isso por que, extraoficialmente, a BRF estaria planejando transferir para o Paraná a produção de perus machos do interior de Goiás, voltados à exportação. No início do ano, na Operação Carne Fraca, a unidade da empresa no município de Mineiros que exportava para a Europa foi interditada por contaminação pela bactéria salmonela.
Voltando à questão dos gêneros dos perus, qual dá mais retorno para o produtor? “No geral, a fêmea dá mais rentabilidade do que o macho. O peru macho é complicado porque fica muito tempo no aviário. Se descuidar um pouco e a conversão do alimento em carne for ruim, não é fácil recuperar”, aponta Valmir Andretto. A taxa de conversão ideal para os machos, segundo o produtor, é de 2,5 kg de ração para cada quilo de carne. Na criação das fêmeas, a conversão chega a ser de 1,8 kg de ração para 1 kg de carne.
No ano passado, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil produziu 368 mil toneladas de carne de peru, 62% consumidas no mercado interno e 38% para a exportação. Do que vai para o exterior, a maior parte é industrializada (132,9 mil toneladas), contra 83,4 mil toneladas em cortes e apenas 291 toneladas de perus inteiros.
Os principais clientes do peru brasileiro estão na África, continente que recebeu 50,3 mil toneladas do total exportado. O porto de Paranaguá lidera o volume de embarques, com 42,85%, seguido de Itajaí, com 35,07%. No ranking da produção, o Paraná também lidera, com 27,6% do total, seguido de Goiás, 23,61%, Santa Catarina, 21,84%, Minas Gerais, 13,71% e Rio Grande do Sul, com 13,24%.
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