Em um único dia, 46 milhões de perus serão devorados nos Estados Unidos. Acha pouco? Se depender do preço, o consumo da ave – uma tradição do Dia de Ação de Graças – poderá ser ainda maior no feriado desta quinta-feira nos EUA. “Estamos numa temporada de perus bem baratos para os consumidores”, assegura Christine McCracken, diretora do Rabobank em Nova York.
O peru é um símbolo do ‘Thanksgiving Day’ e está presente em 88% das ceias da maior festa familiar dos americanos, celebrada sempre na última quinta-feira de novembro.
De toda a peruada, dois pelo menos se safaram de ir para a panela, pelo resto da vida. Repetindo uma tradição de 70 anos, o presidente Donald Trump fez uma cerimônia pública na Casa Branca para decretar o perdão a alguns exemplares da espécie. Desta vez, o peru escolhido como estrela da festa se chama Drumstick, um macho peso-pesado de 16 kg. Além dele, outro compatriota, batizado de Wishbone, também recebeu o perdão culinário. “Vai perdoar algum ser-humano também, presidente?”, gritou na cerimônia alguém por trás das câmeras, provocando apenas um sorriso em Trump.
Nem mesmo o surto de gripe aviária em 2015, que obrigou o sacrifício de milhões de aves, segurou a superprodução de peru nos Estados Unidos. A cadeia produtiva se recuperou rapidamente do problema sanitário e a produção vem se mantendo acima da demanda. No ano passado, 46 milhões de perus, o equivalente a 334 mil toneladas de carne, foram devorados no feriado nacional, segundo a Federação Americana de Produtores de Peru.
Uma pesquisa do American Farm Bureau indica que um peru de 7,5 quilos custa hoje 1,6% menos do que em 2016, contribuindo para que o jantar de ações de graças seja o mais barato desde 2013.
A queda do preço do peru se explica, também, pelo fato de haver uma superoferta de carnes bovina, suína e de frango no mercado interno americano. As exportações têm ajudado a baixar um pouco os estoques, mas em medida menor do que o necessário. A China, um dos maiores mercados para carne de peru, mantém o veto às aves americanas desde 2015.
Cranberry vai virar fertilizante
Assim como o peru, outro produto que não pode faltar na celebração de Ação de Graças, o cranberry (espécie de cereja típica norte-americana chamada no Brasil de arando ou oxicoco), também registra excesso de produção. A oferta de cranberry foi tão grande em 2017 que os produtores esperam, ansiosos, que o Departamento de Agricultura aprove um programa de subsídios para transformar o excedente em fertilizante. Os estoques da fruta já eram suficientes para as refeições do thanksgiving antes mesmo que a safra atual começasse a ser colhida.
“A ordem para transformar o cranberry em fertilizante vai permitir que a indústria alcance novamente um equilíbrio entre oferta e demanda”, diz Kellyanne Dignan, diretora de comunicação da Ocean Spray Cranberries, a maior produtora e beneficiadora da fruta no país.
A crise deste ano se agravou por causa do aumento de 19% na produção americana aliado a um boom das importações da fruta do Canadá, que triplicaram. Nem o aumento de 33% das exportações para a China aliviaram a situação.
Cerca de 20% das vendas de cranberry nos EUA acontecem no feriado de Ação de Graças. Para evitar novas supersafras, a Câmara Setorial do Cranberry sugere que os produtores reduzam a produção em 25%, pela média dos últimos seis anos. Cerca de 5% do cranberry são vendidos como fruta fresca. O restante é armazenado ou vendido congelado, desidratado ou processado na forma de sucos e molhos. Neste ano, os preços estão na faixa de R$ 2,50 o quilo. “Em alguns casos não dá para cobrir os custos de produção. Precisamos encontrar novos mercados e aumentar o consumo da fruta ao longo do ano”, diz Fawn Gottschalk, produtor de Wisconsin Rapids, no Wisconsin.
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