Ele morreu há dois anos, mas continua a “fazer filhos” de Norte a Sul do país. Da raça Nelore, nenhum outro touro do mundo ameaça o recorde alcançado pelo falecido “Backup”, que em vida gerou mais de 460 mil bezerros. Outros milhares ainda vão nascer até que se esgotem as doses do sêmen desse campeão de genética nascido 2001 em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, que faleceu de morte súbita em fevereiro de 2016.
Como acontece com alguns “gênios da raça”, Backup rendeu muito dinheiro aos donos de seu passe. Ele movimentou uma receita bruta de pelo menos R$ 60 milhões pela venda de 1 milhão de doses de sêmen. Se for contar em carne produzida, seus 460 mil filhos renderam 124 milhões de quilos. Grosso modo, a preço de coxão mole (R$ 23,00/kg), isso significaria um faturamento no varejo de R$ 2,85 bilhões.
Não sem motivo, o busto de Backup foi empalhado e está hoje pendurado na parede da sede da empresa de genética bovina CRV Lagoa, em Sertãozinho. Curiosamente, mesmo sendo pai de 450 mil filhos, Backup nunca chegou a namorar uma vaca de verdade. Todo o sêmen produzido foi retirado por meio de uma vagina artificial.
Na linguagem genética bovina, Backup era prepotente, e isso é uma virtude. “Era um prepotente, ou seja, tinha a capacidade de imprimir muito de suas características aos descendentes, independentemente do rebanho ou da vaca escolhida”, aponta Caio Tristão, gerente da CRV Lagoa.
Backup é o recordista mundial e provavelmente jamais será superado. Basicamente porque houve uma mudança de enfoque dos grandes criatórios de genética bovina. “Nossa grande preocupação é a renovação da bateria. Se ficar só na dependência dos mais antigos ou mais maduros, a gente está sendo contraproducente. A tendência é de não haver novos recordistas, até porque temos que acelerar o melhoramento genético”, explica Tristão.
Rafael Jorge Oliveira, gerente de Corte Zebu da Alta Genetics, diz que atualmente o marketing das empresas busca valorizar mais o trabalho dos criatórios – um portfólio de sêmen de alta genética – do que os campeões das pistas de feiras, que viram celebridades bovinas. “Um líder de sumário hoje é até mais valorizado do que um campeão de pista”, assegura. “Estamos buscando explorar mais a imagem do produto do que do indivíduo. Ou seja, tentamos vender primeiro o trabalho do criatório e depois bater na imagem do touro”, enfatiza Oliveira.
Mas não tem jeito. Talvez nenhum boi quebre o recorde de Backup, mas sempre haverá touros que saem do anonimato entre milhões de consortes e garantem o lugar no hall da fama bovina. O touro Rem USP, por exemplo, da fazenda Remanso, do município sul-mato-grossense de Rio Brilhante, vendeu US$ 104 mil em ampolas de sêmen em 2016 e outros US$ 110 mil em 2017. E continua na ativa, para alegria do seu dono.
Apesar de os nativos mais famosos serem Nelores, a maior demanda, atualmente, é pela genética Angus. Os bois dessa raça respondem por metade das 8 milhões de doses de sêmen vendidas anualmente no país para a bovinocultura de corte. Cerca de 70% do total é importado.
Os criadores chegam a pagar R$ 1500 por uma dose de sêmen do touro argentino Zorzal, o Angus que mais fez sucesso nos últimos anos. “Quase já não existe mais sêmen dele. O Zorzal era excepcional. Mas por R$ 100 é possível comprar uma ampola de sêmen de belíssima qualidade, e tem touros comerciais que custam de R$ 12 a R$ 15 a dose”, assegura José Roberto Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus.
O touro Backup, recordista da raça Nelore, é do mesmo ano de nascimento (2001) do recordista mundial de inseminação artificial, Toy Story, um boi americano da raça holandesa que morreu um ano antes do bovino brasileiro, em 2015. Toy Story vendeu 2,4 milhões de doses de sêmen e gerou mais de 500.000 filhos em 50 países. “Com a prevalência atual da tecnologia de avaliação bovina baseada em genoma, é provável que nenhum outro touro alcance os números de Toy Story”, disse Keith Heikes, diretor do criatório americano Genex.
Ou seja, Backup e Toy Story estão no panteão da história bovina. Para sempre.