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As negociações do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia se arrastam há mais de 15 anos. | GUILLAUME SOUVANT/AFP
As negociações do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia se arrastam há mais de 15 anos.| Foto: GUILLAUME SOUVANT/AFP

O acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul está provocando a ira de produtores franceses, que temem uma invasão de carne do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai no país. Nesta quarta-feira (21), agricultores protestaram em diferentes regiões da França. Segundo estimativas dos pecuaristas franceses, caso o acordo seja realmente fechado, os países da América do Sul vão enviar 70 mil toneladas para o país, inviabilizando os negócios locais.

As negociações do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia se arrastam há mais de 15 anos. Passam-se os anos, mudam-se governos, para a direita e para a esquerda, e a pauta não avança por falta de unanimidade de um lado ou de outro.

Agora, na reunião que começou esta semana em Assunção, no Paraguai, nunca se houve tanta esperança de que o tratado, finalmente, avançará. Isto é, se os políticos europeus conseguirem resistir à pressão do grupo que mais influência tem exercido desde os inícios da negociação: os agricultores, sobretudo os franceses. “O governo francês nos abandona. Primeiro, promete nos proteger, nos revalorizar enquanto produtores rurais, mas, depois, assina acordos para importar carne de países onde as normas sanitárias não são as mesmas”, reclama Sébastian Poncet, presidente da Associação de Jovens Agricultores de Isère.

O governo francês, no entanto, acalma os agricultores, avisando que as negociações estão no começo e que, ainda, não há nada definido. “Sobre o acordo com Mercosul, nos sempre dissemos que, no diz respeito à carne bovina, a conta ainda não está fechada”, disse o ministro da Agricultura, Stéphane Travert, em mensagem de apoio aos agricultores.

No Norte da França, na cidade de Lille, 250 agricultores e pecuaristas atravessaram a cidade, dirigindo 30 tratores, para fazer um protesto em frente à prefeitura. Ali, a carne de frango, sobretudo a produzida no Brasil, causava alvoroço entre os manifestantes. “O frango vindo do Brasil custará a metade do preço do nosso frango. Só que o brasileiro é produzido com todo tipo de medicamentos e hormônios proibidos na Europa. Ou seja, nós perderemos o mercado ou seremos obrigados a alinhar os nossos preços, sabendo que os nossos custos são muito maiores”, explicou Matthieu Leroy, membro da Associação dos Jovens Agricultores do Norte da França.

Toda a carne importada do Mercosul será identificada como “carne congelada, diferente daquela, produzida na França, identificada como carne fresca”, esclareceu o ministro Travert, lembrando aos agricultores que a carne sul-americana, seja ela qual for, “deverá respeitar as normas sanitárias vigentes na União Europeia”.

Brasil

Se, pelo lado europeu, os agricultores se consideram prejudicados pelo acordo, do lado brasileiro, a resistência se encontra entre os fabricantes de bens industriais, como automóveis, que verão o mercado inundado por carros importados, mais baratos, por não pagarem tributos de importação.

De qualquer modo, um acordo de livre comércio entre os dois blocos econômicos pode favorecer a economia dos dois lados do Atlântico, segundo o embaixador brasileiro Rubens Barbosa. “Esperamos que, ao final dessas duas semanas, haja uma clara declaração política de conclusão das negociações. Apesar dos problemas, acho que haverá um avanço, o que pode dar impulso a outras negociações do Mercosul com o Canadá e a Coreia do Sul, por exemplo. Um resultado positivo nessas negociações vai ajudar o Mercosul e o Brasil a saírem do seu isolamento”, disse Rubens Barbosa em entrevista à Rádio USP.

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