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Carne brasileira teme novas restrições estrangeiras

Desde março, o Serviço de Segurança Alimentar e Inspeção (FSIS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), inspecionou 100% da carne in natura vinda do Brasil. | Antônio More/
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Desde março, o Serviço de Segurança Alimentar e Inspeção (FSIS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), inspecionou 100% da carne in natura vinda do Brasil. (Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)

Os próximos dias serão tensos para a cadeia da carne brasileira. O setor torce para que mercados com mais peso, como o Japão e a União Europeia, por exemplo, não acompanhem os Estados Unidos, país que suspendeu temporariamente às importações de carne bovina in natura do Brasil, o maior produtor mundial. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (22).

Desde março, o Serviço de Segurança Alimentar e Inspeção (FSIS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), inspecionou 100% da carne in natura vinda do Brasil, e rejeitou 11% desses produtos. O número é bem maior do que a taxa média de rejeição de 1% para a carne importada de outros países. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a suspensão é por causa da “reação a componentes da vacinação da febre aftosa”.

De janeiro a maio, US$ 49 milhões em carne bovina in natura foram exportados pelas plantas nacionais aos EUA. Pouco mais de 1% dos US$ 4,35 bilhões obtidos anualmente pela pecuária de corte brasileira. No entanto, mais importante do que o volume, está à credibilidade.

Segundo consultores de mercado, o posicionamento fitossanitário dos EUA funciona como uma baliza para outros clientes exigentes, que costumam se alinhar com as decisões tomadas em Washington. “Vamos torcer para que não tenha nenhuma decisão parecida da Europa e do Japão. Nunca foi levantada esta lebre do abscesso (caroço na carne) decorrente da vacina contra a febre aftosa”, observa José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

O analista da agência Safras e Mercados, Fernando Iglesias, concorda que as próximas horas e dias serão decisivas para a inserção da carne brasileira no mundo. “O Japão acompanha muito os Estados Unidos. É para lá que precisamos ficar atentos. Apesar de não ser um mercado expressivo para a carne bovina, o Japão é muito relevante como destino do frango brasileiro e este episódio prejudica ainda mais a imagem de nossa proteína animal, bastante abalada desde a operação Carne Fraca”, pondera Fernando Iglesias.

Por envolver pequenos volumes de carne, não se espera que o embargo americano tenha repercussão imediata para os pecuaristas brasileiros – que estão em “maré baixa” desde a Operação Carne Fraca - e nem para os consumidores, que, salvo algum desdobramento mais drástico, continuarão pagando os mesmos preços nos supermercados. “Nem os americanos terão dificuldade de substituir o que era fornecido pelo Brasil, nem nós vamos ter um volume significativo de carne sobrando”, avalia Iglesias. “O grande ponto é ver como se comportarão os outros países nos próximos dias”, reafirma o analista.

Ano complicado

Segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura (Lapbov), da UFPR, Paulo Rossi, 2017 definitivamente não está sendo um ano bom para pecuária brasileira. “O ano começou difícil. Tivemos uma série de problemas, como a Carne Fraca e a questão da JBS, mas o grande problema está no consumo”. Só neste mês, a cotação da arroba do boi gordo caiu de R$ 140 para R$ 128.

De acordo com o professor da UFPR, por causa da crise econômica, não há consumo de carne no país, com isso os frigoríficos não abatem e produtor amarga o prejuízo. “E os preços nas gondolas do varejo não caem”, complementa.

Além de citar todas as questões já levantadas, a consultora da AgriFatto, especializada em pecuária, Lygia Pimentel, diz a delação de Joesley Batista, dono da JBS, maior empresa de carne do mundo, pode piorar ainda mais o cenário. “Na delação, Batista cita fiscais agropecuários. Ainda não sabemos em que situações ele foram citados, mas isso pode aumentar a nossa crise de credibilidade”.

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