Um conflito entre agricultores e pecuaristas na Nigéria tirou seis vezes mais vidas em 2018 do que conflitos envolvendo grupos terroristas islâmicos. Cerca de 1.300 pessoas morreram em confrontos nos primeiros seis meses do ano, em comparação com cerca de 200 mortes relacionadas ao Boko Haram, disse Nnamdi Obasi, um analista sênior da International Crisis Group (ICG), uma ONG fundada em 1995 voltada à resolução e prevenção de conflitos armados internacionais, com sede em Bruxelas. O conflito entre agricultores e pecuaristas “é claramente o principal desafio para a segurança e estabilidade da Nigéria”, apontou Obasi.
À medida em que o deserto do Saara avança para o Sul, pecuaristas que tradicionalmente levam o gado para pastar em planícies na zona semi-árida do Sahel estão se mudando para o Centro e Sul da Nigéria em busca de pastagens, onde entram em choque com comunidades agrícolas. A maioria dos pastores são muçulmanos da etnia fulani, enquanto os agricultores são predominantemente cristãos, o que acrescenta uma dimensão étnica e religiosa ao conflito.
Estima-se que 300 mil pessoas tenham sido forçadas a abandonar suas casas somente neste ano, de acordo com um relatório do ICG publicado na quinta-feira (26).
A ascensão das milícias locais, com fácil acesso às armas, a persistência da impunidade e a legislação para proibir o pastoreio pelos governos estaduais contribuíram para uma escalada do conflito desde janeiro, disse a organização. A competição por terra e água também se intensificou em outros países da África Ocidental, incluindo o Níger, o Mali e a Costa do Marfim.
O Burkina Faso e o Níger estabeleceram um comitê conjunto para controlar os movimentos transfronteiriços de pastores, e a Costa do Marfim recentemente aprovou uma lei que regula o pastoreio, exigindo que os pastores obtenham licenças para levar seu gado para outros países.
O grupo Boko Haram trava uma campanha violenta desde 2009 para impor sua versão da lei islâmica no país mais populoso da África, com quase 200 milhões de pessoas. A Nigéria é quase igualmente dividida entre um norte predominantemente muçulmano e um sul predominantemente cristão.