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Briga de gigantes

Na corda bamba, sócios da “Ambev do Leite” trocam acusações

Apesar de ser uma briga societária, o que pode estar por trás da disputa, segundo fontes, é a tentativa da Laep de se antecipar e se proteger das investigações em torno da fusão que criou a LBR | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Apesar de ser uma briga societária, o que pode estar por trás da disputa, segundo fontes, é a tentativa da Laep de se antecipar e se proteger das investigações em torno da fusão que criou a LBR (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)

A Laep, empresa que ficou conhecida por comprar a Parmalat no Brasil, está acusando seu sócio GP Investiments de ter negligenciado a administração da LBR Lácteos - companhia criada para ser uma “campeã nacional do leite”, mas que hoje está em recuperação judicial. A Laep questiona ainda a forma como está sendo conduzido esse processo, já que a companhia estaria sendo liquidada aos poucos. GP e Laep são sócias na Monticiano Participações, a maior acionista da LBR, e estão brigando em um tribunal arbitral, espécie de Justiça privada. A Laep busca indenizações milionárias.

Apesar de ser uma briga societária, o que pode estar por trás da disputa, segundo fontes, é a tentativa da Laep de se antecipar e se proteger das investigações em torno da fusão que criou a LBR, que teve o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). No ano passado, a CPI do BNDES questionou os R$ 700 milhões que o banco de desenvolvimento desembolsou para promover a união da LeitBom com a Bom Gosto, que deu origem à LBR.

A LeitBom pertencia à Monticiano, de GP e Laep, e a Bom Gosto tinha como sócios o empresário gaúcho Wilson Zanatta e o próprio BNDES. A nova empresa, criada em 2010, já nasceu com um faturamento de R$ 3 bilhões e com o intuito de ser uma espécie de “Ambev dos leites”. A maior acionista, com 40% da companhia, era a Monticiano.

Prejuízo

O grande problema que levou o caso à CPI é que apenas dois anos depois que o dinheiro do banco entrou na companhia, a LBR pediu recuperação judicial e o investimento virou pó, registrado como prejuízo pelo BNDES.

Na esteira do que se investigou na CPI, o que a Laep diz agora é que o GP teria tido influência na bancarrota. A principal expertise do GP, fundo que já foi dono de empresas como Submarino e Fogo de Chão, é comprar empresas, dar um choque de gestão e tentar revendê-las mais à frente por um preço mais alto. No caso da LBR, a acusação é de que a empresa foi mal administrada, já que teria deixado de usar créditos tributários, como outras companhias do setor faziam, e isso teria corroído as margens.

Além disso, após o pedido de recuperação judicial, o GP teria estado à frente do plano de recuperação da empresa, que permitiu a venda de quase todas as fábricas para pagamento de credores, liquidando aos poucos a companhia. Fontes próximas à Laep afirmam que a Monticiano, a maior acionista da LBR, não pôde sequer votar na apresentação do plano de recuperação da companhia, pois o estatuto da Monticiano impedia que a empresa participasse de votação caso não houvesse consenso entre seus sócios (GP e Laep).

O plano foi aprovado pelos credores e homologado pela Justiça. Ao todo, foram vendidas 14 fábricas e a estimativa é que foram arrecadados R$ 500 milhões, cerca de um terço de todo o passivo da empresa. Apenas uma fábrica ainda está em funcionamento e sob o guarda-chuva da LBR, que hoje tem faturamento anual em torno de R$ 200 milhões.

O BNDES até agora recuperou, segundo informou sua assessoria de imprensa, R$ 15 milhões. O banco tem a receber R$ 334 milhões como credor, em valores corrigidos. O BNDES também é sócio da empresa, com outros R$ 400 milhões detidos pelo BNDESPar, ou 30% da LBR.

Se por um lado a Laep se lança como acusadora, de outro ela também é alvo de acusação por sua atuação no mercado brasileiro. Seu principal sócio, Marcus Elias, foi apontado pelo Ministério Público Federal como responsável por ter causado um prejuízo de R$ 2,5 bilhões a investidores de títulos da Laep.

O empresário, que responde hoje a um processo criminal, alega que está sendo vítima do GLG, um fundo abutre - aqueles que compram ações na bacia das almas sem qualquer intenção de recuperá-las. O empresário também responde a um processo na Comissão de Valores Mobiliários por ter lesado minoritários. Nem GP nem Laep quiseram falar sobre o assunto porque as disputas em que estão envolvidos são sigilosas.

Laep acusa GP de usar conselheiros ‘laranja’

Os contornos da briga societária entre Laep e GP começaram a ser desenhados nas reuniões do conselho de administração da Monticiano. A Laep diz que o GP teria usado de “laranjas” como seus representantes no conselho. Segundo a empresa, esses laranjas não tinham conhecimento sobre a LBR e, quando foram confrontados em uma das reuniões, não souberam responder sequer a questões gerais sobre a companhia.

Procuradas, GP e Laep não quiserem comentar, pois a disputa é sigilosa. No entanto, as acusações pelo uso de laranjas ficaram públicas, até um mês atrás, em função de um processo judicial movido pela Laep. Nele, a Laep pede que os supostos laranjas sejam ouvidos pela Justiça como testemunhas para uma ação judicial futura, o que foi negado pelo juiz. A estratégia agora será levar o pedido de ouvir as testemunhas no processo de arbitragem.

O uso de laranjas supostamente ajudaria a blindar o patrimônio do GP, pois colocaria esses administradores como responsáveis pela gestão. Entre os acusados de serem laranjas está o advogado Renato Pinheiro, dono de uma firma de advocacia que leva seu nome. Ele não quis dar entrevista sobre a LBR, mas falou sobre sua atividade. Ao ser perguntado sobre o que fazia um conselheiro, disse: “participa de reuniões”.

A especialidade do escritório de Pinheiro é vender o que é conhecido no mercado como “empresas de gaveta”. Uma companhia recorre a esse tipo de serviço quando tem pressa em criar um novo CNPJ e, para isso, compra uma das centenas de empresas já registradas em todos os órgãos dos governos pelo escritório de Pinheiro. Muitas das maiores empresas do País têm no seu quadro societário original os nomes de Cleber Faria Fernandes e Sueli Ferreti, funcionários do escritório e sócios de dezenas de companhias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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