A demanda de consumidores do Brasil e do exterior obriga a cadeia produtiva da carne bovina a se profissionalizar, deixando de produzir commodities para focar em bens de maior valor agregado e qualidade, avalia o gerente executivo de Inteligência de Mercado da Minerva, Leonardo Alencar. O representante do frigorífico alerta que o Brasil precisa garantir a homogeneidade em sua produção de bois e a excelência da carne para aproveitar oportunidades criadas por eventuais aberturas de mercado. "Também é preciso diferenciar a qualidade da carne (em termos de preços). Estes são desafios que as indústrias que exportam já enfrentam há algum tempo", acrescenta. O gerente discutiu o tema em painel na Conferência Internacional de Confinadores (Interconf) no dia 16 de setembro, em Goiânia.

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Embora reconheça que as exigências dos consumidores internacionais sejam maiores, Alencar nota preocupação crescente do brasileiro com a carne bovina. "O mercado doméstico exige cada vez mais qualidade", diz. O movimento tem permitido a frigoríficos, notadamente a JBS, investir em marcas para carne bovina em busca de preços melhores para seus produtos.

Focada na exportação, a Minerva visa atender preferências de consumidores bastante distintos para reforçar vendas e acredita que o Brasil está bem posicionado para atender a múltiplas exigências no futuro. "O Brasil tem a grande vantagem de conseguir abastecer muitos países. Enviamos produtos tanto para o Oriente Médio, onde a demanda é por carne mais vermelha (com menos gordura) quanto para a Europa, que valoriza o marmoreio", explica. O marmoreio se refere à acumulação de gordura intramuscular e é frequentemente associado à qualidade.

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Mas há um longo caminho a percorrer. Alencar defende que a pecuária precisa avançar para que seja possível conquistar consumidores no Canadá, no Japão e no México, mercados que podem abrir os portos à carne bovina brasileira no médio prazo e exigem qualidade superior e consistente, além de garantia de procedência. De olho nisso, tanto indústria quanto analistas têm ressaltado que a ordem é aumentar a produtividade no campo.

O gerente da Minerva avalia ainda que os produtores brasileiros mostram disposição em investir em tecnologia, mas alguns hesitam, pela demora em ver na prática os resultados. "Observamos algum receio, pois é uma atividade mais conservadora e o tempo de aplicação da tecnologia é maior que o da agricultura. Mas vemos que o peso dos animais abatidos tem subido muito nos últimos anos, o que é uma confirmação de que o pecuarista está empregado mais técnicas", afirma Alencar. Para além do receio dos produtores, ele alega que a escassez de crédito e o atual aperto monetário podem dificultar o avanço da produtividade na pecuária. "O desafio é o capital, pois é caro investir na atividade", diz.

Apesar da melhora, Alencar afirma que o Brasil ainda está distante de produtores como os dos Estados Unidos e a Austrália. A título de comparação, os norte-americanos possuem menos da metade do rebanho brasileiro, mas são os maiores produtores de carne bovina, com 19% da produção do mundo. O Brasil fica com a segunda colocação, com 17%.

O representante da Minerva acredita que o patamar de preços no mercado da cria pode dar um impulso extra à produtividade. "O preço elevado do bezerro será um dos fatores a forçarem maior eficiência em toda a cadeia. A pecuária vai evoluir e somente os produtores mais eficientes vão conseguir continuar na atividade", prevê.