À espera do mercado de leite A2: Egon Kruger é uma exceção entre os criadores de gado leiteiro e já fez testes para identificar diferenças entre leite A1 e A2 no rebanho.  | Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Maria Elena Sullivan descobriu que Sofia, hoje com 3 anos, tinha problemas de digestão de leite logo na primeira vez que ofereceu o alimento à filha, quando tinha 1 ano. Sofia cuspiu imediatamente.

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Quando a criança completou 2 anos, ela teve uma reação séria, incluindo dores abdominais e vômitos. Bastava a criança ver a embalagem de leite que já empurrava o alimento. O fato era que Sofia não tolerava leite. Foi assim até o dia em que Maria Elena ganhou o cupom de uma garrafa grátis de leite tipo A2. Ela fez uma pequena pesquisa e decidiu fazer uma nova tentativa. “Sofia ficou bem”, diz. E garante que agora sua filha exige: “Leite A2, por favor”. Ficou claro: ela tem alergia ao leite A1.

À primeira vista, parece que esse novo tipo de leite é uma versão “quase-natural” do leite, algo similar. Mas não é simplesmente puro leite de vaca, sem nenhum tipo de aditivos. Ele não é livre de lactose. O que faz ele diferente é o tipo de proteína produzido pela vaca, que pode ser A1 (mais comum) e A2 - de vacas que produzem essa variação da proteína.

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Já que o leite tipo A1 pode causar alergia, com difícil digestão para muitas pessoas, a opção A2 pode ser uma boa solução, que permite a pessoas como Sofia apreciar o leite novamente. Portanto, se você tem problemas em digerir leite, mesmo que desconfie que tenha intolerância à lactose, o leite A2 pode ser uma boa resposta.

Leite A2: onde comprar?

Esse ‘novo’ tipo de leite é vendido na Austrália há mais de uma década e foi introduzido nos Estados Unidos em 2015 pela empresa A2 Millk Company, e agora está disponível em mercadinhos de todo o país. O Brasil ainda engatinha na produção de leite A2: poucos criadores sequer sabem que parte de suas vacas produzem esse leite.

Egon Kruger é uma das exceções. Ele tem um rebanho de 220 cabeças de gado em Witmarsum, a 65 km de Curitiba. Desse total, são cerca de 40 vacas com a genética A2. “Creio que hoje, nas condições atuais, seria possível produzir 500 litros por dia”, afirma.

Há, contudo, um problema. “A princípio eu sou o único que buscou essa informação por aqui. O pessoal não olha muito pra isso”, destaca. Ele argumenta que, pelo fato de estar próximo à capital, se a cooperativa e mais produtores investissem na produção de leite A2, poderia ter início uma nova opção ao público - o que seria um bom teste para expandir o produto.

Egon indica dois caminhos para criadores verificarem as diferenças entre o leite A1 e A2. O primeiro, com custo maior, é durante o teste de genoma - custo aproximado de R$ 120 por animal. O segundo, mais barato, é embutido no exame de paternidade - com investimento de até R$ 50 por animal.

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Além do gado, o leite vindo de bodes, ovelhas, búfalos e seres humanos produz apenas proteínas do tipo A2. Há centenas de anos, as vacas também produziam apenas leite desse tipo. Contudo, os métodos modernos de produção do gado fizeram com que as vacas europeias começassem a produzir leite do tipo A1. Hoje em dia, algumas vacas produzem apenas leite A1, outras produzem apenas leite A2 e outras produzem leite com as duas proteínas.

Durante a produção tradicional, o leite de todas as vacas é misturado, então o que vai ao supermercado é um verdadeiro mix de proteínas.

Estudos sobre leite A2

Diversos estudos em animais e com seres humanos mostram que o leite A2 tem digestão mais fácil que o leite A1. Cientistas estão começando a entender como a proteína afeta pessoas, mas já é possível saber que durante a quebra da proteína A1 no intestino, um fragmento peptídico (uma cadeia de aminoácidos) chamado BCM-7 é formado. Isso pode atrasar a digestão, causando inflamação e sintomas como inchaço, gases, dores abdominais, diarreia e constipação. Nenhum fragmento é formado durante a digestão da proteína A2.

Esses sintomas da alergia ao leite são similares à intolerância à lactose. Muitas pessoas podem estar confundindo com o que elas realmente precisam evitar, ou seja, o leite tipo A1. Esse é o caso do nutricionista Manuel Villacorta:

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“Sempre pensei que tinha intolerância à lactose, mas nunca fui oficialmente diagnosticado”, afirma.

Ele era cético quanto a experimentar o leite A2 e ficou surpreso quando não teve reações com a novidade: “Isso realmente mudou a minha vida no que se refere ao leite”. Agora quando seus clientes dizem que têm intolerância à lactose, ele aconselha a alternativa.

Cientistas vêm questionando por que tantas pessoas dizem que têm intolerância à lactose, quando na verdade têm uma má absorção, ou seja, alergia ao leite. A sensibilidade ao leite A1 pode explicar essa questão. Além disso, até mesmo aquelas que foram oficialmente diagnosticadas com intolerância à lactose podem ter menos problemas porque a inflamação causada pelo fragmento BCM-7 no intestino pode levar à piora dos sintomas.

Com tantos leites sem lactose no mercado (feitos de amêndoas, coco, arroz, cânhamo, entre outros), uma pessoa que tem problemas de digestão possui mais opções do que nunca, e é certamente possível obter uma dieta saudável sem leite de vaca. Contudo, apesar de tantas alternativas, o leite de vaca naturalmente oferece uma variedade de nutrientes importantes ao organismo, como proteína, cálcio, vitamina B e potássio.

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Além disso, o leite é ingrediente de diversas receitas maravilhosas. Portanto, se você está bem com o leite tradicional, não há razão para trocá-lo pelo leite A2. Mas se você tem alguma dificuldade digestiva, e gostaria de colocar o leite de vaca na sua vida, o leite A2 pode ser uma boa solução.