Comumente associada à emissão de gases do efeito estufa (GEEs), a pecuária não precisa, necessariamente, ser a “vilã do aquecimento global”. E a receita é antiga. Bem antiga, na verdade, remontando a alguns conceitos da Idade Média: plantar árvores no mesmo lugar onde são criados os animais, sistema que foi aprimorado e, hoje, é conhecido como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Segundo a Embrapa, a mecanização e a intensificação agrícola são algumas das razões que quase aposentaram esse modo de fazer agricultura ao longo dos séculos. Entretanto, a polêmica envolvendo o aumento das temperaturas do planeta e o impacto que a agropecuária teria sobre o meio ambiente, fez com que a o ILPF ganhasse corpo nas últimas décadas.
GEEs
O principal argumento que vincula a pecuária ao aquecimento global está relacionado ao gás metano, um dos principais GEEs e que é emitido pelo gado durante o ciclo de produção. Uma pesquisa divulgada pela Embrapa, todavia, questiona relação, utilizando a ILPF como exemplo. Com pastagem feita anualmente e capim na fase ideal para consumo, a emissão de metano, segundo o estudo, é menor. “Além disso, nesse tipo de sistema a captação de gases pelo solo poderá anular as emissões dos bovinos”, conta o autor, o analista da Embrapa Meio-Norte (PI), Marcílio Nilton Lopes da Frota. O trabalho tomou como base a região dos Cocais Maranhenses. “As propriedades que utilizam o sistema ILPF, em vez de emitir gases, os sequestra”, ressalta.
Além da adoção do ILPF, o estudo mostra que a alimentação do animal também influencia na quantidade de metano emitido. No período chuvoso, quando os rebanhos costumam ser alimentados com ração de boa qualidade, a emissão nos pastos é cerca de nove vezes menor do que no período seco, quando as pastagens são escassas e apresentam menos nutrientes. De acordo com os resultados obtidos, quanto menos fibroso e mais digestível for o alimento, menos metano será produzido. Assim, o ganho de peso é mais rápido, o tempo de abate é menor e o impacto ao meio ambiente reduzido.
O pesquisador cita os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em que o valor médio de emissão de metano para animais de corte jovens é de 56 kg por ano, isso para toda a América Latina. “As críticas à pecuária brasileira advêm do grande número de animais no rebanho (mais de 200 milhões) e dos baixos índices da pecuária extensiva, com tempo de abate superior a três anos e meio”, explica.
Segundo ele, contudo, o valor adotado pelo IPCC não é preciso, pois os animais não ficam isolados, mas inseridos em um sistema de produção. “Esses valores de emissão variam ao longo do ano e não podem ser estáticos e pré-definidos para todo o país”, salienta.
Frota defende, ainda, que a emissão deveria ser calculada com base na produtividade, ou seja, quantos quilos de carne são gerados por animal. Por mais que o gado bem alimentado acabe emitindo uma quantidade maior de metano, o desenvolvimento dele será mais rápido, assim como o tempo de abate, gerando menos GEE por quilo de carne produzido.
Conforto e comida de qualidade
O trabalho ressalta, também, que, assim como o capim de qualidade, o conforto proporcionado pelos sistemas silvipastoris também atuam reduzindo a emissão de GEEs. “O animal perdeu menos energia em forma de metano do que quando criado em pleno sol. Foi emitido, em determinadas épocas do ano, 20% menos metano do que os organismos internacionais estão apontando. Temos que buscar resultados próprios nacionais para discutir no Brasil e no exterior e, assim, evitar que divulguem informações negativas sobre a contribuição da pecuária brasileira para a emissão de metano”, esclarece.