Para os brasileiros, a carne de cavalo pode não parecer uma iguaria tão apetitosa quanto a de outros animais, como bovinos e aves. Porém, o prato aqui considerado indigesto é amplamente consumido no exterior, sobretudo em países da União Europeia. E o Paraná tem tradição na oferta desse produto, mesmo com o desaquecimento do mercado nos últimos anos.
À margem da recente polêmica ocorrida no Hemisfério Norte – na qual se diagnosticou a presença de carne equina em produtos que deveriam ter 100% de origem bovina –, os cortes de cavalo atraem consumidores ingleses, italianos, franceses. Em 2012, o Brasil exportou 2,3 mil toneladas dessa carne in natura. E esse volume já foi bem maior, com 20 mil toneladas embarcadas em 2004. Os abates com inspeção federal passaram de 200 mil cabeças em 2004 e 2005 – 110 mil e 88 mil no Paraná, respectivamente.
Para atender à demanda externa, houve quem se especializasse no assunto. O frigorífico Oregon tem sede em Apucarana (Norte) e é um dos três estabelecimentos autorizados no Brasil a abater carne de equídeos (grupo que inclui cavalo, jumento e mula), apontam os registros do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIF), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Uma vez por semana o frigorífico suspende o abate de bovinos para fazer o trabalho com cavalos.
A estrutura do frigorífico pertence à FrigoBeto, empresa paranaense que desde 1991 atua no fornecimento da carne e derivados de equinos para o exterior. Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, diretor do empreendimento, conta que são utilizados animais de descarte, que não servem mais para o serviço no campo. “Temos uma lista de fornecedores cadastrados, e uma equipe compra animais em todas as regiões do estado, porque normalmente a quantidade de cavalos disponíveis é pequena”, relata.
Auge e decadência
Na série histórica desde 2002, o pico da produção no Paraná foi em 2004, quando o estado respondeu por 54% do total nacional de abate de equídeos, e em 2007, quando contribuiu com 55% das exportações de carne in natura dessa natureza, apontam dados do Mapa e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Nos últimos anos, contudo, o setor sofreu um tombo. Em 2011, exportações e abates caíram a zero. No ano passado, o estado abateu 5,7 mil animais, embarcando cerca de 757 toneladas.
De acordo com Ribeiro, uma mudança nas regras relacionadas à sanidade dos animais complicou os negócios. “A União Europeia passou a exigir rastreabilidade da produção, quesito que aliado ao câmbio desfavorável afetou as exportações”, pontua. Como efeito, a FrigoBeto foi obrigada a interromper as operações de uma unidade localizada em Minas Gerais, devido à indisponibilidade de produtos qualificados. A empresa chegou a abater 8 mil cavalos por mês, mas hoje não passa de 2 mil cabeças. A falta de consumo interno e a concorrência com outros países fornecedores colaboram para a manutenção da situação.ImpopularVenda do alimento é liberada no país, mas não atrai consumidores
A comercialização de carne e derivados de equídeos não é restrita no Brasil, sendo necessária apenas a identificação no rótulo, informa o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Apesar disso, o consumo interno é pouco expressivo, prevalecendo o vínculo com o mercado externo.
Péricles Salazar, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), destaca que a menor rentabilidade também dificulta a expansão da cultura no país. “A carne não faz parte do hábito alimentar brasileiro e, além disso, a carne bovina tem sido mais rentável. Os produtores estão satisfeitos com os preços”, avalia.
Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, da FrigoBeto, explica que hoje Bélgica, Holanda e França estão entre os principais destinos da produção. O maior número de clientes, contudo, está na Itália, onde a empresa conta com uma unidade voltada à venda de carne in natura e derivados, como salames e embutidos. “Trata-se de um mercado muito tradicional e peculiar, que tem se mantido estagnado nos últimos anos”, relata. Além da estabilidade na oferta, a concorrência com países como México, Paraguai e Argentina colaborou para comprimir as exportações brasileiras nos últimos anos.
Perspectiva de devassa jurídica de emendas deve gerar forte impacto no cenário político
Defensor de Natuza Nery, Gilmar Mendes tem histórico de processos contra jornalistas
O “abraço na democracia” será apenas simbólico mesmo
Governo abre ano com leilão nas Cataratas do Iguaçu após captar R$ 48 bi com concessões de rodovias