Depois de registrar períodos críticos que colocaram em xeque os resultados de 2013, o setor de carnes prevê demanda aquecida até o final do ano. A produção se estabilizou e as vendas externas mostram ritmo fortalecido, aquecendo os preços na medição de forças entre oferta e demanda.
O complexo carnes vem exportando volume 3% maior que no ano passado e arrecadando 10% a mais, conforme os números consolidados até agosto pelo governo federal. Foram 4,1 milhões de toneladas e US$ 11 bilhões em faturamento.
Com o dólar valorizado e a abertura de novos mercados, a expectativa é favorável a quem exporta bovinos, aves e suínos. No mercado interno, os custos de produção se equilibram após queda de 30% nos preços do milho desde janeiro.
Como a produção vem sendo controlada, o consumo doméstico da virada do ano promete novo impulso nos preços aos consumidor. Não haverá nem aumento nem redução significativa na produção, antecipa o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar.
O setor produtivo confirma melhora na lucratividade. “A supersafra trouxe os preços [dos insumos] para um patamar que deixou a atividade confortável”, define Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar). Há exatamente um ano, a avicultura estava entrando numa crise, forte o suficiente para interromper as atividades de frigoríficos que estavam com as contas apertadas.
A acomodação nos preços da soja (após alta de 6% em oito meses) e a baixa na cotação do milho (30%) é que reduzem o peso da ração nos custos primários da avicultura e da suinocultura. Mesmo para o setor de suínos – que registrou recuo de 6,6% no volume exportado e de 4,4% na receita (para US$ 885 milhões) até agosto – os números mostram demanda sustentada. Para a indústria do frango, a exportação recuou 2,1% em peso, mas rendeu 9,2% a mais, somando US$ 5 bilhões.
Boiada puxa os índices do setor
A bovinocultura sustenta os índices positivos da balança comercial do complexo carnes. Apesar do bom rendimento dos embarques de aves, só as exportações de carne de boi cresceram em volume (21,3%, na comparação com os primeiros oito meses de 2012). E renderam 14,8% a mais (US$ 4,2 bilhões).
A previsão é de produção estável. Em 2012, foram abatidas 23,5 milhões de cabeças em todo o país. O índice deste ano deve ficar próximo disso, conforme o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Ele avalia que os preços (próximos de R$ 100 a arroba no Paraná) estão favoráveis aos produtores. A preocupação é com o longo prazo, pois o abate de matrizes está acima do indicado para expansão do rebanho.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) avalia que é possível faturar pelo menos US$ 6 bilhões até o fim de 2013 com vendas externas, consolidando um novo recorde para o setor. Parte dessa expansão está atrelada à abertura de novos mercados.
Na última semana, o setor bateu à porta de Moscou. Segundo Salazar, o país mostrou-se mais flexível que o de costume e mostrou que, além de carne bovina, precisa sim de carne de aves e suína.
Ele afirma ainda que estão sendo realizadas negociações para por fim às barreiras impostas pelo Egito à compra da carne paranaense. O bloqueio está vigente desde dezembro de 2012, quando foi confirmada a morte de um animal portador do príon causador da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a doença da vaca louca.
Suínos recuperam viabilidade
Após um período crítico, a suinocultura também vive momento de equilíbrio. Valendo R$ 3 o quilo, a produção voltou a cobrir os custos (R$ 2,80/quilo), detalha Darci Backes, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS).
Ele explica que a abertura de mercados externos como o Japão e a Ucrânia impactou positivamente no setor. “A maioria da carne exportada é de Santa Catarina, mas isso abre espaço [ao Paraná] no mercado interno”, detalha. Conforme a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), o país europeu foi o principal comprador da carne brasileira em agosto, com 12 mil toneladas adquiridas.
A Abipecs prevê que as exportações brasileiras sigam um ritmo semelhante a 2012, quando 580 mil toneladas foram negociadas. A produção também deve ser a mesma – 3,5 milhões de toneladas. “Orientamos o produtor a não aumentar o plantel”, acrescenta Backes.
Jurandi Machado, diretor de Mercado da Abipecs, indica que o consumo interno também será maior até o final do ano. “O mercado tem essa tendência, já como preparação para o Natal”, diz. O setor articula uma campanha que pretende ampliar o consumo per capita anual de 15,4 quilos para 18 quilos até 2016.
Mercado paga mais pelo frango
A exportação cai, mas a renda cresce. Essa gangorra indica que o mercado internacional está pagando mais pelo frango. No acumulado deste ano, o setor alcançou faturamento de US$ 5 bilhões. São 9,2% a mais do que no mesmo período de 2012, apesar de queda de 2,1% no volume embarcado. E essa tendência se acentuou nos últimos meses.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, afirma que a remuneração vem sendo incrementada pela valorização do dólar frente ao real. Ele indica que os embarques também serão impulsionados graças à decisão do México em comprar a carne brasileira.
“Não será surpresa se no curto prazo o país ficar entre os cinco maiores compradores da carne de frango brasileira”, argumenta. Em agosto – quando os embarques começaram – o desempenho foi tímido: 26 toneladas oriundas de Santa Catarina, que renderam US$ 85 mil. A União Brasileira de Avicultura (Ubabef) estima que o mercado tem potencial para render US$ 300 milhões por ano.
Localmente, a previsão é de ajustes nos preços, com produção estável. “O valor no mercado interno está um pouco aquém do esperado, mas não será um reajuste absurdo”, salienta Martins.
Colaborou Cassiano Ribeiro
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo