Um dos maiores jornais do Japão, o Yomiuri Shimbun divulgou neste domingo (3) um editorial polêmico. Os editores afirmam que o país vem realizando ‘investimentos elevados’ para combater animais que ‘devoram a agricultura e outros produtos’ e defendem que a caça desses animais pode ser útil principalmente para o consumo de carne.
“A expectativa é que essas criaturas incômodas, que causam tantos danos às comunidades das montanhas, possam ser efetivamente utilizadas para revitalização [financeira] das comunidades e para outros propósitos”, destaca o editorial.
A redação do jornal argumenta ainda que a carne de javalis, cervos e outros animais selvagens possuem baixo teor de gordura, gosto distinto e que podem ser utilizada para preparos diferentes, com tempero de curry ou mesmo para hambúrgueres.
O editorial destaca também que há municípios, cooperativas agrícolas e restaurantes que utilizam e fazem marketing de carnes exóticas para atrair turistas. A redação defende ainda que novas técnicas e receitas podem colaborar com a economia.
Os animais e a agricultura
Estima-se que os animais selvagens causam à agricultura japonesa um prejuízo anual de cerca de 20 bilhões de ienes (R$ 572 milhões, aproximadamente), sendo os javalis e os cervos responsáveis por 60% desses danos. Além disso, nos últimos anos houve aumento na erradicação desses animais: 750 mil javalis e cervos foram mortos em 2014. Desses, apenas 10% foram utilizados para consumo humano.
“Do ponto de vista de não desperdiçar a vida dos animais mortos, o uso da carne para consumo humano é um progresso”, destaca o editorial.
Segundo o jornal, atualmente os animais abatidos são transportados para instalações apropriadas, onde são desmembrados e preparados para armazenagem. Existem cerca de 500 locais desse tipo gerenciados pelo poder público e privado. O ‘problema’ é que são instalações de pequena escala, que não podem suprir as demandas de restaurantes e outros estabelecimentos nas atuais circunstâncias.
O ministério da agricultura do Japão planeja construir outros locais de armazenamento de animais de caça em 12 áreas do país, para servir como modelo. “Pessoas qualificadas devem desmembrar os animais, para cortar e empacotar a carne nas instalações, o que vai exigir um alto grau de supervisão sanitária”, explica o jornal, que destaca ainda que os locais devem ser rentáveis se dispuserem de 1 mil a 1,5 mil animais por ano e conseguirem efetivamente distribuir a carne.
De acordo com o editorial, esses esforços podem ajudar na redução do desperdício, mas admite que animais selvagens são repletos de doenças e parasitas: “Qualquer carne com risco para consumo deve ser descartada, garantindo a segurança sanitária acima de tudo”.
Outro ponto abordado é sobre os caçadores para garantir a distribuição de carne: “Há cerca de 200 mil licenciados atualmente, menos da metade de 1975, e essas pessoas também estão envelhecendo”.
Neste sentido, o editorial comenta sobre a necessidade de treinar jovens caçadores, e que governos locais estão começando a implementar treinamentos para obtenção de licenças de caça. “É preciso investir para promover o entendimento do papel da caça na proteção dos produtos da agricultura”, finalizam os editores.