A crise instaurada nesta semana após as revelações bombásticas de um dos donos da JBS, Joesley Batista, sobre Michel Temer e Aécio Neves vão além do universo político. Elas podem provocar mudanças drásticas na maior empresa de proteína animal do planeta.
“A JBS não vai desaparecer, mas vai emagrecer; e muito. Meu vaticínio [diagnóstico] é mudar de nome e de direção, pois a crise de credibilidade abala mercados do mundo inteiro”, analisa o economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo.
A avaliação de Pio Martins é seguida por um dos maiores consultores em gestão de crises do Brasil: João José Forni. “Há sim especulações de mudar o nome. Quando a marca chega a um desgaste tão grande, a conclusão é de que a mudança traz um desgaste menor”, opina.
Impacto na visão da qualidade
Segundo o reitor da UP, o abalo de confiança é mais grave em uma empresa do setor alimentício do que em companhias de outros setores. “Uma crise política pode sim impactar a visão do consumidor em relação à qualidade dos produtos”, avalia.
Para o economista, há consumidores que seguem o seguinte raciocínio: se uma empresa está envolvida nesse tipo de escândalos políticos, poderia também ‘vacilar’ na questão sanitária. “Ainda mais após dois problemas graves: o envolvimento na Operação Carne Fraca, onde há um problema sanitária , e agora uma forte crise política e financeira. Isso acaba mostrando uma empresa problemática em seu comportamento”, afirma Pio Martins.
Forni destaca que a reputação da marca chegou a um ponto crítico. “O problema é que essa crise de imagem vem do fim do governo do PT, em face do trânsito [de financiamentos] junto ao BNDES”, diz. Para ele, o desgaste da delação premiada acabou consumindo a marca.
Neste sentido, além da mudança de nome, outra recomendação é, imediatamente, ser o mais transparente possível perante a opinião pública, funcionários, fornecedores e acionistas. “Uma das máximas da gestão de crise é que, para consertar o erro, você precisa começar a contar toda a verdade. A chance de reconstrução é muito melhor”, completa.
A JBS e o mundo
Ambos os analistas também concordam em outro fator: por ser multinacional, a crise ultrapassa fronteiras. “No exterior essas situações não são ‘engolidas’ com simplicidade. Aqui temos a impressão de que ‘isso passa’, mas ‘lá fora’ as empresas são muito mais vigiadas”, fala Forni.
“A crise de confiança é pior quando falamos no setor alimentício, e a JBS está nesse ramo, que é de alta sensibilidade. É um setor em que o Brasil exporta para mais de 150 países, entre elas nações desenvolvidas que não brincam com controles sanitários e de qualidade”, avalia José Pio Martins.
O economista acredita que certamente a JBS vai recuar em suas decisões de abertura de capital, que estava sendo avalia nos Estados Unidos, e que foram suspensas nesta semana em comunicado da própria empresa. “Existem muitas regras”, diz. E vai além: o mercado de ações deve ser afetado como um todo. “Quando uma empresa entra em uma situação dessas, os fundos suspendem as operações à espera dos desdobramentos. Você puxa uma pena e vai a galinha inteira”, compara metaforicamente.