A maior fabricante de produtos a base de proteína animal do mundo, a multinacional JBS, está tirando proveito de um dos melhores momentos do negócio de carne bovina nos Estados Unidos. No segundo trimestre deste ano, a operação americana teve recorde de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 570 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões), alta de mais de 75% em relação a igual período do ano passado.
Em um ambiente de aumento na oferta de bois e demanda em alta, a JBS aposta em marcas próprias e na venda de produtos fracionados diretamente na indústria, e embalados a vácuo, para substituir o corte dos açougues.
O movimento aproveita uma tendência já consolidada no Brasil: venda de carne com marcas e redução do número de supermercados que possuem açougues próprios.
“Vem diminuindo muito a presença daqueles açougues localizados no fundo das lojas. É uma decisão do varejo que traz vantagens de segurança alimentar e reduz o desperdício. É difícil para o supermercado padronizar a qualidade e treinar funcionários para esse corte. Para nós é mais natural”, diz André Nogueira, presidente da JBS USA.
A unidade abrange todas as operações da multinacional fora do Brasil (no Canadá, no México, na Europa e na Austrália).
O executivo cita como referência deste movimento as redes Walmart e Target, que não fazem o corte no ponto de venda, distribuindo apenas os alimentos em porções nas bandejas cobertas por plástico ou nas embalagens a vácuo processadas na própria indústria fornecedora.
Nogueira não abre os números do crescimento dessas modalidades ano a ano, mas afirma que há cinco anos a empresa não produzia nenhuma embalagem do tipo para carne moída e, hoje, tem cinco fábricas especializadas na atividade, superando 90 milhões de quilos por ano.
Mudança no formato
Pesquisas da JBS também apontam para uma mudança no formato dos pacotes.
“A bandeja coberta com plástico ainda tem a preferência do consumidor. Mas está mudando. Na carne moída está crescendo o uso do pacote a vácuo, que chamamos de tijolo, um formato mais eficiente em custo e tempo de prateleira. É nisso que estamos investindo”, diz Nogueira.
Na comparação entre os dois países, o presidente da JBS nos EUA afirma que o Brasil está na frente.
“A quantidade de carne bovina empacotada a vácuo é maior no Brasil. Nos EUA ainda tem menos marcas. É um desafio”, diz o executivo.
Há cerca de cinco anos a JBS foi pioneira na criação de marcas para a carne bovina no Brasil, um movimento que começou com a Friboi e hoje conta com Maturatta e Do Chef. O esforço continua no Brasil, onde lançou neste ano a marca premium 1953.
Nos EUA, a empresa tem marcas de carne de boi como 5 Star, 1855 e outras, mas nada comparado à relevância da marca Friboi no Brasil.
A estratégia de ganhar mercado na carne embalada nos EUA --e imprimir as logomarcas no produto-- está em linha com a estratégia adotada pela JBS no Brasil.
Com isso, o item passa a valer mais do que se a peça de carne for vendida in natura e cortada pelo açougueiro.
A reportagem visitou uma das fábricas de carne bovina da JBS no Colorado, onde as peças de bovinos são cortadas com padronização pelos funcionários para evitar o desperdício de partes consideradas mais nobres, elevando o rendimento e a lucratividade.
A empresa também se beneficia com as exportações de carne de boi in natura a partir dos EUA. O crescimento foi de 26,8% na receita entre o segundo trimestre deste ano e o mesmo período de 2017, de acordo com dados do USDA (departamento americano de agricultura).
Em teleconferência com analistas para tratar dos resultados, na semana passada, Nogueira afirmou que a oferta de gado nos EUA vai continuar crescendo até 2021, segundo as previsões da empresa.
Além da China, Japão, Coreia do Sul e Oriente Médio devem impulsionar a demanda externa da operação da JBS USA.
Lucro recorde
Os resultados financeiros da JBS do segundo trimestre, divulgados na semana passada, mostram a operação americana de bovinos com um recorde de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 570 milhões, alta de mais de 75% em relação a igual período de 2017.
A superação na área comercial americana dá fôlego ao esforço do grupo para virar a página após investigações envolvendo os principais acionistas, a família Batista, e diferentes empresas do conglomerado do qual a JBS faz parte, em particular a holding J&F.
A J&F já fechou acordo de leniência no Brasil, que está sob revisão neste momento. Nos Estados Unidos, ainda negocia um acordo com o Departamento de Justiça.
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