Funcionários de colégio fotografaram e denunciaram problema, mas distribuição às crianças continuou.| Foto: Divulgação

Os funcionários da escola do Oeste do Paraná que denunciaram o leite Lactomil –cujo laticínio em Serranópolis do Iguaçu foi suspenso após detecção de formol no alimento pela Vigilância Sanitária – não estão surpresos. Localizados pela reportagem, eles contaram que “os saquinhos chegavam estufados no colégio desde o ano passado”. “Se fosse fervido, ficava amarelado”, disseram duas fontes, que preferem não se identificar com medo de represálias.

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Se fosse fervido, o leite ficava amarelado, relatam servidores da Educação. Então, como não havia confirmação de problema à saúde, o leite era servido cru aos estudantes. 

O caso foi denunciado à Secretaria de Estado da Educação (Seed), que confirma ter recebido reclamação formal de dois estabelecimentos de ensino, um de Céu Azul e outro de Foz do Iguaçu. Até o laudo da Vigilância Sanitária, o leite vinha sendo avaliado normalmente pelos órgãos de defesa agropecuária do estado e distribuído sem indício de irregularidades, apurou a reportagem.

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Com a informação de que o alimento não tinha problemas, as escolhas seguiram distribuindo o líquido às crianças. “Para que não ficasse amarelo com a fervura, a gente distribuía o leite cru”, disse uma das fontes anônimas, que acompanhava a hora da merenda.

O caso está mobilizando o setor da defesa agropecuária do Paraná. Os relatos das escolas criam suspeita de que havia formol no leite bem antes da detecção da Vigilância Sanitária. Até que não se descubra o que houve, os diversos elos da cadeia do alimento estão sob suspeita, dos pecuaristas aos distribuidores finais.

O proprietário do laticínio G. M. Malacarne, responsável pelo leite Lactomil, Gilvan Marcos Malacarne, aponta para duas direções. Alega que o formol foi adicionado ou antes ou depois do processamento. Ele garante que o laticínio segue os requisitos da legislação sanitária.

Malacarne afirma que todos os pecuaristas que vendem a sua agroindústria o leite destinado a merenda escolar são devidamente cadastrados. Porém, admite que não havia controle total sobre a qualidade do alimento adquirido. Da mesma forma, a empresa não descarta fraude na fase de distribuição.

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“Há uma série de fatores que podem interferir na qualidade do leite. Como que saía bom daqui e chegava ruim na escola? Agora, diante dos fatos, estamos fazendo uma apuração interna para constatar o que houve, mas posso assegurar que não há nenhuma prática irregular no laticínio”, disse Malacarne.

Segundo o empresário, os primeiros indícios apontam que o alimento veio adulterado de algum dos produtores. Ele também assume a falha de não contar com o equipamento necessário para as análises de qualidade. “Eu errei em não ter o material para fazer as inspeções internas”, assumiu.

As denúncias das escolas nunca teriam chegado ao laticínio. “Eu desconheço os supostos problemas do passado”, garantiu Malacarne.

Novos testes com leite da empresa estão em processamento. O resultado sai na próxima segunda-feira (14) e podem levar à suspensão dos contratos da agroindústria com o poder público. A empresa não foi fechada, teve apenas a comercialização e a distribuição suspensas.

Investigação

Apesar de as suspeitas serem antigas, o sistema de controle da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) – que faz fiscalizações rotineiras –não detectou problemas no laticínio. A Vigilância Sanitária entrou em ação após denúncias.

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De acordo com o presidente da Adapar, Inácio Afonso Kroetz, o G. M. Malacarne nunca apresentou qualquer irregularidade. Por outro lado, Kroetz não descarta que tenha havido desvio de conduta em outras etapas da cadeia produtiva.

Essa versão reforça os argumentos do empresário Gilvan Malacarne, e expõe o risco de falha da defesa agropecuária no controle da qualidade do leite. “É um caso a ser explicado e estamos fazendo vários exames desde que surgiu o resultado do laudo”, afirmou o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.

“O laticínio responsável pelo leite Lactomil está credenciado ao Serviço de Inspeção do Paraná e nunca havia apresentado, até a ocorrência, qualquer indício de adulteração”, disse o presidente da Adapar. “A partir das denúncias, estamos reforçando o processo, com inspeções praticamente diárias, para investigar onde o leite pode ter sido adulterado”, detalhou.

Escolas e famílias

Além de escolas, o leite Lactomil chegava também a famílias de baixa renda. O alimento era comprado para merenda escolar (via Secretaria da Educação, Seed) e para o programa Leite das Crianças (via Secretaria da Agricultura, Seab). Esse programa é direcionado a crianças de 0 a 3 anos de famílias com renda abaixo de meio salário mínimo regional por pessoa.

O lote com formol foi coletado em uma escola, ou seja, fazia parte do programa de merenda escolar. No entanto, se for confirmada fraude da indústria, deve ser rompido também o contrato do Leite das Crianças, afirmou o secretário da Agricultura. A Seab tinha contrato direto com o G. M. Malacarne.

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A Coopercam, que representa os produtores que forneciam leite Lactomil à merenda escolar, também foi procurada pela reportagem. Seus representantes, no entanto, não foram localizados para comentar o caso. A cooperativa é que mantinha contrato de fornecimento do leite Lactomil à Educação.

O leite do laticínio G. M. Malacarne estaria sendo jogado fora nesta semana. Mais de 125 mil litros do alimento foram descartados após divulgação do laudo que encontrou formaldeído na composição do leite, conforme o governo do estado.