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O Brasil tem o maior rebanho comercial de gado bovino do mundo, com 214 milhões de cabeças. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
O Brasil tem o maior rebanho comercial de gado bovino do mundo, com 214 milhões de cabeças.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

A Polícia Federal (PF) lançou nesta sexta-feira (17) uma operação gigante contra uma rede formada por fiscais agropecuários e grandes frigoríficos para vender carne e outros alimentos adulterados, tanto para consumo interno como para exportação. A ação atingiu em cheio a maior empresa de carnes do mundo: a JBS (proprietária das marcas Friboi e Seara), além da BRF e outros médios e pequenos frigoríficos; e respingou em todo o setor, que movimenta cerca de R$ 180 bilhões e gera mais de 7 milhões de empregos no Brasil.

O impacto econômico foi imediato. As ações da JBS e BRF derreteram no pregão desta sexta-feira na BM&F Bovespa, que fechou em baixa de 2,39%. As ações da BRF caíram 7,25%, enquanto os papéis da JBS tiveram perdas de 10,59%.

União Europeia

As revelações sobre a corrupção nos certificados de carne vão afetar as negociações entre o Brasil e a União Europeia para o estabelecimento de um acordo de livre comércio até o final do ano e ameaçam até mesmo as exportações atuais. Nesta sexta-feira, 17, a Confederação Europeia de Produtores Agrícolas indicou que está estudando os acontecimentos no Brasil e poderá pedir que a diplomacia europeia restrinja qualquer nova abertura comercial ao Brasil nesse setor.

Mas a preocupação do setor vai muito além da saúde financeira das duas gigantes. O país é o segundo exportador de carne bovina do mundo e o maior de frango, além de ocupar o quarto lugar nos embarques de suínos. Juntos, os três segmentos responderam por 6,9% das exportações do Brasil em 2016 ou R$ 11,6 bilhões. O país também tem o maior rebanho comercial de gado bovino do mundo, com 214 milhões de cabeças.

2017

Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram que nos dois primeiros meses de 2017, as exportações de carne bovina foram de 166,4 mil toneladas, ante 177,48 mil t no mesmo período do ano passado (-6,22%). No caso do frango houve alta de 9% no volume, com 626,3 mil toneladas. As exportações de carne suína aumentaram 19%, passando de 82,98 mil t para 98,65 mil t.

Na avaliação do coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura da UFPR (Lapbov), Paulo Rossi, por causa da crise econômica, a situação dos frigoríficos brasileiros não era das melhores; e a operação da Polícia Federal pode agravar a situação. “A cadeia não vive um momento bom. Por causa da crise, o consumo caiu e uma notícia dessas não melhora em nada a situação”, explica. Atualmente, o consumo médio per capita de carne bovina do brasileiro gira em torno de 35 quilos por habitante. “Está dentro da média histórica, mas há poucos anos estava girando em torno dos 40 quilos. E esses cinco quilos fazem muita diferença para a cadeia produtiva”, afirma.

Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M. Jorge, a situação é preocupante. “Pessoalmente, acredito que as irregularidades sejam pontuais e devem ser investigadas. Mas é muito ruim para nossa imagem, para nossa reputação. Muitos países podem rever as exigências [fitossanitárias] e pedir para enviar equipes próprias para fiscalização”, afirma.

No comércio internacional de carnes, cada país apresenta exigências específicas, a certificação de venda é individual. É comum que cada nação envie de tempos em tempos equipes próprias para fiscalização nos frigoríficos brasileiros. Da mesma forma, qualquer questionamento é feito individualmente e diretamente ao governo brasileiro, sem que haja necessidade de passar pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Atualmente o Brasil exporta carne bovina para mais de 140 países. “Não será surpresa se algum país suspender as importações de carne brasileira. As empresas terão de adotar uma política de esclarecimento e serem bastante agressivas comercialmente. Para não perderem clientes, podem ter que oferecer descontos”, avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.

Para o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, o Brasil não deve sofrer consequências por causa da operação policial. “São casos isolados. O país é referência para o mundo na questão sanitária. Nós vendemos para o mundo inteiro, somos constantemente inspecionados por delegações estrangeiras.”

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