Quando o homem resolveu cultivar o próprio alimento em vez de sair por aí procurando – e nem sempre encontrando – comida pelo caminho, ele podia até não saber, mas estava mudando o curso da história. Naquele momento, fomos verdadeiros empreendedores rurais.
É claro que empreender não significa “inventar a roda” todos os dias, basta pensar além. “O que preciso melhorar na propriedade com mais urgência?”, era o questionamento que o universitário Gustavo Freyhardt sempre fazia. Foi a partir daí que o jovem, de apenas 21 anos, conseguiu chegar à final do prêmio Empreendedor Rural, iniciativa do Senar-PR, em parceria com o Sebrae e a Fetaep (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná).
Rebanho de inovação: pecuária de leite lidera finalistas do projeto
Uma curiosidade – mas não coincidência – é a força da pecuária leiteira no programa. A atividade lidera o ranking, com três entre os dez projetos melhor colocados. “Houve muito investimento. O Paraná é hoje o segundo maior produtor de leite do Brasil, são 100 mil produtores. E o positivo: eles querem otimizar o que fazem”, salienta o superintende do Senar-PR, Humberto Malucelli Neto.
Humberto reforça que, diante de dificuldades na formação de mão de obra, o Empreendedor Rural ajuda até a suprir carências. “A agricultura é plantada em tecnologia sofisticada, processos produtivos complexos, escala de produção, organização e mercado. Não importa o tamanho da área, o produtor tem que entender que a gestão é algo relevantíssimo”, afirma.
A final do prêmio será no dia 2 de dezembro, no Expotrade em Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Em 2016, foram 88 projetos inscritos, 25% a mais que no ano anterior. Entre os dez finalistas, três serão premiados com uma viagem internacional.
Desde 2002, 21.964 produtores participaram e concluíram o curso de Empreendedor Rural, sendo que o índice de aprovação chega a 88%.
Gustavo vive com os pais em União da Vitória, no sul do Paraná. A família se dedica, principalmente, à pecuária leiteira. Com a pergunta na cabeça, o rapaz fez um diagnóstico completo da área e montou um projeto que, até o começo de 2017, prevê um investimento de aproximadamente R$ 100 mil para melhorar o bem-estar das vacas por meio da tecnologia.
“Conversando com a família, decidimos pelos extratores e medidores eletrônicos, inclusão de um software de gerenciamento e controle do rebanho, instalação de um aquecedor solar e de um sombreamento na sala de espera das vacas antes da ordenha”, explica. Com isso, espera aumentar a eficiência enérgica e de produção, tornando o processo mais ágil e confortável para os animais. “Li muita coisa a respeito: vacas que passam por menos estresse térmico produzem mais. Nossa meta é dois litros a mais/vaca/dia”, completa.
A participação de jovens e mulheres indica um movimento de renovação no agronegócio. A produtora Esiquel Tauscher, por exemplo, de Goioxim, região central do estado: ela e o marido têm um rebanho de 50 vacas leiteiras e, durante uma viagem de capacitação, Esiquel conheceu um sistema chamado “Composto Barn” e não tirou mais isso da cabeça. “O composto é a febre do momento”, diz ela. No sistema, embora confinadas, as vacas ficam livres para andar pelo estábulo. Ou até tirar uma soneca, por que não?! “Elas ficam deitadas de um jeito diferente na cama [de serragem ou casca de amendoim], quase roncando”, brinca.
O fato é que, movidos pela curiosidade e visão de negócio, eles decidiram apostar: vão investir R$ 220 mil para construir o barracão e, a partir do bem-estar dos animais, querem aumentar a produção – hoje em 1,2 mil litros por dia – em até 60%. “O ambiente é mais fresquinho, ganhamos com a saúde dos animais”, frisa a produtora.
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