Os principais mercados consumidores de carnes do Brasil estão fechando o cerco contra as empresas brasileiras citadas na operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal na última sexta-feira (17). A Europa exige que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu e pede que membros do bloco adotem “uma vigilância extra” ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.
As informações foram anunciadas pelo porta-voz da Europa para assuntos de Saúde, Enrico Brivio, numa coletiva de imprensa em Bruxelas. “Estamos em um processo para garantir que todos aqueles envolvidos na fraude não possam exportar para a Europa”, disse, lembrando que Bruxelas manteve “intensos contatos diplomáticos com o Brasil” nos últimos dias. “Pedimos ações e esclarecimentos”, disse.
Brivio explicou que os europeus pediram, no fim de semana, que as autoridades brasileiras retirassem da lista de exportadores todos aqueles citados no escândalo. “Agora, cabe ao Brasil seguir nosso pedido. Eles garantiram que fariam isso”, disse à reportagem. “Depois veremos se isso de fato ocorreu e vamos continuar em contato com as autoridades brasileiras”, indicou. Segundo ele, a recomendação aos 28 governos europeus é de que sejam “extra vigilantes” com todo o carregamento de carnes do Brasil e que “aumentem os controles nas fronteiras”.
Outro grande mercado, a Coreia do Sul afirmou que intensificar a fiscalização de carne de frango importada do Brasil e banir temporariamente as vendas de produtos da BRF após o escândalo deflagrado pela Operação Carne Fraca na semana passada, informou o Ministério de Agricultura sul-coreano em comunicado nesta segunda-feira (20).
O ministério disse que fornecedores brasileiros de carne de frango terão que enviar um certificado de saúde emitido pelo governo brasileiro. Mais de 80% das 107.400 toneladas de frango importadas pela Coreia do Sul no ano passado vieram do Brasil, sendo quase metade fornecida pela BRF.
China
A China acompanha com lupa os desdobramentos das investigações da Operação Carne Fraca. Tudo indica que os três frigoríficos interditados nos últimos dias não exportavam para o mercado chinês, para alívio brasileiro, que tem no país um dos seus principais compradores de carnes. Ainda é preciso aguardar, porém, o resultado da fiscalização especial a que estão sendo submetidas outras 21 plantas. As autoridades sanitárias da China procuraram a embaixada do Brasil em Pequim no sábado para cobrar explicações. Nas próximas horas, devem convocar uma reunião com o lado brasileiro para entender se há riscos para o consumidor chinês.
Maior fornecedor
Por enquanto, não há sinais de que a China estaria disposta a suspender as importações brasileiras de carnes. Mas o governo do Brasil ainda não descarta essa possibilidade. Não seria a primeira vez. No fim de 2016, o país suspendeu as importações de frangos de cinco frigoríficos brasileiros. Desde então, duas unidades retomaram as vendas. O fato é que, muitas vezes, estas suspensões podem acontecer por pequenos problemas, como formulários mal preenchidos.
A maior preocupação das autoridades brasileiras, neste momento, é que o Brasil nunca vendeu tanta carne para os chineses. Foram cerca de US$ 2 bilhões no ano passado. “Estamos em alerta. Passamos todas as informações disponíveis com o grau de celeridade necessário aos chineses. A transparência é essencial, e o diálogo é o mais importante”, disse o embaixador brasileiro em Pequim, Marcos Caramuru.
O Brasil fornece 80% da carne de frango importada pela China. Em 2016, o país ultrapassou os australianos e passou a ser também o maior vendedor de carne bovina para os chineses.
O que tem mantido os chineses um pouco menos ansiosos em relação à Operação Carne Fraca até o momento é o fato de que as carnes enviadas para o seu mercado são submetidas à vigilância feita pelo próprio país. Cada abatedouro que exporta para a China tem que cumprir regras da fiscalização chinesa.
Durante três anos, as exportações de carnes bovinas para a China estiveram sob embargo por conta de casos da doença da vaca louca em 2012. Só foram liberadas em maio de 2015. Pouco mais de um ano depois, o país saiu na frente e se tornou o maior fornecedor do mercado chinês.
A expectativa do governo brasileiro é que, se todas as informações forem fornecidas aos países que compram a carne brasileira e, se ficar claro que as unidades envolvidas no escândalo nada têm a ver com o mercado externo, é possível minimizar os danos.
A cobertura sobre o caso pela mídia chinesa neste fim de semana foi bastante pontual, limitando-se a descrever a operação da Polícia Federal, sem mencionar eventuais riscos para o consumidor chinês. “A polícia brasileira revelou na sexta-feira um grande esquema de adulteração de carnes, que envolve alguns dos maiores produtores do país”, diz a agência estatal Xinhua, informando que a carne era vendida nos mercados doméstico e internacional, sem se referir à China em especial. O canal CCTV também veiculou reportagem sobre o assunto.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink