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Querem taxar o bife por causa do efeito estufa

Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo | Arquivo/Gazeta do Povo
Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo (Foto: Arquivo/Gazeta do Povo)

Fundos de investimento estão apostando que governos ao redor do mundo vão encontrar uma forma de taxar a produção de carne para cumprir as metas de emissões estabelecidas no Acordo de Paris sobre o Clima. Investidores socialmente focados vêm pressionando as empresas a incrementar a produção de proteínas vegetais ou mesmo sugerem que a indústria passe a adotar uma espécie de “preço sombra” da carne, mostrando o custo ambiental da atividade pecuária.

A carne pode, assim, seguir o mesmo caminho de outros produtos que hoje são sobretaxados mundialmente, caso do tabaco (taxado em 180 países), carvão (60 países) e açúcar (25 países) – segundo estudo divulgado nesta semana pelo grupo de investimento Farm Animal Investment Risk & Return (FAIRR), com sede em Londres. Nos dois últimos anos, legisladores na Dinamarca, Alemanha, China e Suécia têm discutido a criação de um imposto sobre a criação animal, apesar de a ideia enfrentar forte resistência.

A emissão de gases de efeito estufa pelo gado bovino representa 14,5% das emissões totais, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A FAO projeta um aumento de 73% no consumo mundial de carne até 2050, em meio à demanda crescente de economias como a Índia e a China. Isso, segundo o FAIRR, pode representar até US$ 1,6 trilhão em custos globais para a saúde e o meio ambiente.

Questão de metas

“Os investidores começam a olhar para a produção de carne da mesma forma como olham para os riscos climáticos”, diz Rosie Wardle, que faz análise de cenários para investimentos no FAIRR. “É meio consenso, hoje, que precisamos tratar da produção e consumo de carne se queremos mesmo atingir o segundo degrau das metas para frear o efeito estufa”.

O projeto do FAIRR para “uma proteína mais sustentável”, que conta com apoio de 57 investidores que administram US$ 2,3 trilhões, vai pedir que 16 multinacionais do ramo de alimentos passem seu sistema de produção por uma espécie de “filtro do futuro”, diversificando mais suas fontes de proteína.

O impacto de um imposto da carne pode ser similar ao das sobretaxas do açúcar. Apesar de enfrentar resistência nos Estados Unidos, a taxação do açúcar para enfrentar a obesidade já foi adotada em 18 países e seis cidades americanas, segundo levantamento da Bloomberg Intelligence. Segundo o Ministério da Saúde do México, quando o país impôs uma taxa adicional nos refrigerantes, em 2014, o consumo médio caiu 6% no mesmo ano, 8% no ano seguinte e 11% no primeiro semestre de 2016.

A ideia de sobretaxar a carne tem ficado meio adormecida, diz o relatório do FAIRR, por causa do desgaste político que a medida causaria, principalmente entre os produtores rurais.

A oferta de proteína a partir das plantas, no entanto, já está crescendo devido a um empurrão dos “millennials” e pela tendência de incorporar mais vegetais à dieta ocidental. Cerca de 4 em cada 10 americanos e canadenses estão empenhados em acrescentar vegetais a suas dietas, diz estudo global da Nielsen.

Além da carne

A Tyson Foods, por meio de um fundo de investimentos, fez na semana passada um segundo aporte de recursos na empresa Beyond Meat (Além da Carne) para popularizar hambúrgueres vegetarianos em supermercados e restaurantes americanos. A iniciativa também é financiada pelo bilionário Bill Gates e pelo ator Leonardo DiCaprio. A Tyson entrou no negócio com 5% das ações, no ano passado, por sugestão do acionista Green Century Capital Management, que pediu para que a avícola explorasse mais as oportunidades para produção de proteína vegetais.

“Para além de todos os riscos que envolvem a indústria da carne, como os gases de efeito estufa e a poluição da água, estamos falando de diversificação, tentando descobrir que áreas terão maior potencial de crescimento”, afirma Marissa LaFave, representante do fundo de investimentos Green Century, com base em Boston.

A Green Century, que administra US$ 500 milhões, pretende sugerir novos projetos de proteína vegetal a multinacionais de alimentos que já investem no setor, como Unilever, Kraft Heinz, Kellogg, General Mills, Campbell Soup e Chipotle Mexican Grill. No ano passado, a Danone pagou um prêmio de 23% sobre o valor de mercado da WhiteWave Foods, especializada em produção de leite de castanha e de soja.

A Tyson Foods, que durante anos se colocou como uma empresa de carnes (frangos, bois e suínos), está rapidamente mudando sua imagem. A empresa agora se autoproclama como “uma das maiores companhias de alimento do mundo e líder em proteínas”.

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