A abertura de novos mercados, contrariando as apostas da iniciativa privada e do governo, não vem sendo suficiente para elevar a receita das exportações do agronegócio. Pelo contrário, clientes tradicionais como Alemanha, Rússia e Venezuela é que ganham peso enquanto fonte de renda.
Segundo especialistas, esse quadro reflete a valorização das carnes, item preferido desses mercados, bem como a queda na cotação dos grãos, enviados principalmente à China. Mais do que isso: aponta para o risco de novo recuo no valor total das vendas externas do setor em 2015, após queda de 3,2% no ano passado.
Os russos compraram o equivalente a US$ 3,65 bilhões e os alemães gastaram US$ 3,5 bilhões com produtos do agronegócio brasileiro em 2014 – 33% e 31% a mais do que em 2013, respectivamente. Ampliaram participação em um ponto porcentual por país na receita de US$ 96,75 bilhões. Rússia representa agora 3,8% e Alemanha, 3,6%. A Venezuela, por sua vez, rendeu US$ 3 bilhões, 15% a mais que no ano anterior, passando de 2,6% para 3,1%.
A questão é que a China, sozinha, responde por 22,8% da renda das exportações. Compra mais de 70% da soja embarcada pelo Brasil. Embora tenha elevado a importação em 1,27% em 2014, gastou 3,6% menos (US$ 22 bilhões). E a tendência para esse produto tem força para definir os resultados do setor como um todo (incluindo carnes, açúcar, etanol e produtos florestais) em 2015, aponta o assistente técnico da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Lucas de Brito. “A tonelada de soja deve cair de US$ 410 para cerca de US$ 390”, considera.
O real barato ante o dólar favorece a soja brasileira e alivia o risco de queda na renda externa do agronegócio, segundo o analista Renato Rasmussen, do Rabobank. “Será um ano de margens menos positivas [para o grão], mas a queda não deve ser tão expressiva [em real].”
Ganho, por enquanto, somente em real, conforme o analista Pedro Dejneka, da AGR Brasil. “Alguns locais recebem mais pela soja hoje do que recebiam um ano atrás, quando o bushel do grão valia US$ 2,50 a mais”, explica. A soja deve valer US$ 10 por bushel até o fim da colheita brasileira.
Prazo insuficiente
Para garantir alta na receita das exportações em 2015, o agronegócio depende de mudanças que levariam mais de um ano para ocorrer.
Mercado dosador – O setor está sujeito às cotações globais da soja, do farelo e do óleo. Se o embarque do produto em grão é mais lucrativo, vende mais ao mercado chinês, como vem ocorrendo.
Rigor sanitário – Para ampliar a venda de carnes, cujas cotações estão em alta, precisa não só elevar a produção, mas também avançar em questões sanitárias, que exigem maior mobilização pública e privada do que os grãos vendidos à China. Esse processo requer investimentos e leva anos.
Pressão da oferta – Além do crescimento da produção de soja na América do Sul (o Brasil espera colher 96 milhões e a Argentina, 55 milhões de toneladas, marcas recordes), o mercado considera que os Estados Unidos elevarão o plantio da oleaginosa também em 2015/16, depois da marca inédita de 108 milhões de toneladas, reajustada para cima no relatório de ontem do Departamento de Agricultura do país, o Usda.