Um estudo publicado no fim de outubro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revela que um grupo de pesquisadores do Instituto de Zoologia da Academia Chinesa de Ciências de Pequim criou 12 suínos com 24% menos gordura do que os animais abatidos tradicionalmente.
De acordo com a publicação, o resultado foi possível através de uma alteração genética. Os cientistas chineses manipularam o gene responsável por regular a temperatura corporal dos suínos, fazendo com que eles queimem mais gorduras, principalmente no inverno.
O avanço genético foi anunciado como uma vitória para os suinocultores e os consumidores: os primeiros poderiam reduzir os custos de produção e os últimos poderiam comer bacon sem se preocupar com as calorias. “Isso poderia levar os suinocultores a economizar milhões em custos de aquecimento e alimentação”, diz o pesquisador Jianguo Zhao, que liderou a pesquisa.
Zhao também afirma que a manipulação genética não afeta o sabor da carne. “A raça de animais usada neste estudo é famosa pela qualidade da carne, assumimos que as modificações genéticas não afetarão o sabor”, acredita.
Entrave
Embora tenha sido celebrado, o estudo ainda não significa um avanço. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Food and Drug Administration (FDA) levou 20 anos para aprovar o salmão geneticamente modificado para consumo humano. O peixe – de crescimento rápido –, aliás, continua sendo o único animal geneticamente modificado aprovado para consumo humano no País, embora a FDA tenha aprovado uma droga produzida em cabras geneticamente modificadas para secretar o composto do leite.
Independentemente dos obstáculos regulatórios, os pequenos produtores de suínos dos Estados Unidos são cínicos sobre quem se beneficiaria mais com os animais chineses geneticamente modificados. Os suinocultores americanos disseram que esses animais servem para empresas gigantescas e multinacionais como Smithfield Foods, o maior produtor de suínos do mundo. O Smithfield, de propriedade chinesa, produz animais em baias, que exigem granjas com lâmpadas de calor e pisos aquecidos para manter os recém-nascidos vivos em seus frágeis primeiros dias.
Os custos de aquecimento não são insignificantes em grandes operações de suínos, onde 5 mil animais podem ser confinados sob um telhado de uma granja. Mas tão importante é a taxa de mortalidade dos leitões, que pode variar de 10% a 20% dos recém-nascidos, alguns causados pelo frio, disse Todd See, chefe do departamento de ciências animais da North Carolina State University. “Um animal com a capacidade de regular a temperatura corporal pode diminuir as taxas de mortalidade”, observa.
Para alterar o DNA do animal, pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências de Pequim usaram uma ferramenta de laboratório conhecida como CRISPR para editar um gene de rato em células de suíno, que foram usadas para criar mais de 2,5 mil embriões. Os embriões foram inseridos em 13 leitoas, que finalmente deram origem a 12 leitões.
Os pesquisadores observaram que todos os 12 animais podiam regular melhor as temperaturas corporais, ao mesmo tempo em que diminuíam os níveis de gordura “sem alterar a atividade física ou as demandas diárias de energia”, diz o relatório. Abatidos aos seis meses, os animais não mostraram sinais de anormalidades na edição do DNA.
Sabor
Pequenos criadores de suínos suspiram quando ouvem o argumento sobre o sabor da carne. Para eles, o estuado é apenas a última sensação de uma indústria que, por décadas, ficou obcecada com a produção de carnes mais enxutas. “Fazê-los mais magros vai torná-los pior”, diz Gretchen Dimling, que é dono da Whistle Pig Hollow Farm em Reisterstown, Maryland, com seu marido, John. “Tem gosto de papelão molhado”, complementa.
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