O frigorífico The People First Piggery, na árida cidade mineira de Rustenburg, na África do Sul, costumava abater 150 suínos por mês. Agora não abate nenhum.
A pressão aumenta sobre os suinocultores três meses depois do abatedouro, pertencente à maior processadora de alimentos do País – a Tiger Brands Ltd. – ter sido identificado como origem do pior surto mundial de listeriose – uma infecção causada pela bactéria Listeria monocytogene. A bactéria, que reside no intestino de pessoas e animais, é destruída na pasteurização dos laticínios e no cozimento dos alimentos. A infecção é mais perigosa para grávidas, recém-nascidos, adultos com mais de 65 anos e pessoas com baixa imunidade.
A Tiger Brands já cortou pelo menos 2 mil empregos, os preços da carne suína despencaram para os piores níveis em quatro anos e pequenos produtores podem acabar expulsos da atividade.
A cooperativa People First, que compra leitões para recria de grandes pecuaristas e fornece carne para o mercado local, não tem mais animais alojados. Um dos sócios, Petrus Lepota, decidiu interromper o negócio para não perder mais dinheiro. Lepota demitiu alguns funcionários e está apreensivo sobre “quando” as coisas poderão melhorar.
“Não dá para especular sobre isso. Só podemos rezar”, disse.
O ministro da Saúde da África do Sul, Aaron Motsoaledi, informou que o surto de listeriose, que já matou 208 pessoas e infectou outras 1.038 desde dezembro do ano passado, surgiu a partir da contaminação de alimentos cárneos prontos para o consumo. A Tiger Brands fechou vários frigoríficos para desinfecção, fez recall e incinerou mais de 4 mil toneladas de alimentos. As unidades devem permanecer fechadas até o final do ano. Em consequência, as ações da empresa caíram 28% desde o início do ano.
Mortadela
Os sul-africanos têm sido orientados a evitar alimentos congelados prontos para o consumo, como salsichas e o “polony” – uma espécie de mortadela que faz sucesso entre a população de baixa renda.
A súbita retração na demanda derrubou quase 40% o preço da carne suína. Mesmo assim, os criadores não podem se dar ao luxo de atrasar os abates por causa do risco de afetar o sabor e a qualidade da carne – segundo Richard Krige, que administra o frigorífico Desert Star Piggeries, na cidade de Caledon, no Cabo Ocidental.
“A crise está levando os suinocultores a um suicídio financeiro”, aponta David Osborne, fundador do frigorífico Number Two Piggeries, um dos maiores do país. “Estamos produzindo carne suína com custos de 2018 e vendendo a preços menores do que os praticados em 2014”, completa.
Ainda que a pecuária tenha pequena participação na economia sul-africana, qualquer perda de empregos é um duro golpe num país com taxa de desemprego de 27%. E uma eventual escassez de carne devido à diminuição da produção poderá elevar o preço dos alimentos, pressionando ainda mais os índices de inflação.
Segundo projeções da Associação da Indústria da Carne da África do Sul, os preços podem dobrar dentro de 12 a 18 meses, caso a retração da oferta se confirme e a demanda se normalize no período.
“Não há incentivo para os pecuaristas aumentarem a produção”, observa Paul Makube, economista do First National Bank. “Quando a demanda se recuperar, especialmente pelo lado dos alimentos processados, a oferta já estará bastante diminuída”.
Susto
Alguns especialistas, no entanto, acreditam que a indústria se recuperará rapidamente após passar o susto da listeriose. O número de casos reportados já diminuiu drasticamente, segundo informações do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis.
Quando os consumidores tiverem esta percepção da diminuição do risco, os preços vão começar a reagir, acredita Wessel Lemmer, economista sênior do Absa Bank Ltd.
Por enquanto, contudo, muitos pecuaristas seguem cautelosos.
Richard Krige, da Desert Star, disse que acabou de cancelar um pedido antigo de mais de 200 matrizes por medo de uma superprodução.
“Precisamos trazer o mercado de volta para um ponto de equilíbrio”, afirmou. “Poderemos aumentar a produção assim que percebermos que a demanda voltou a crescer”.