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Expedição Safra 2016/2017, rodou mais de 4 mil quilômetros por lavouras do – Matopiba -Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, nova fronteira agrícola brasileira no Norte/Nordeste do Brasil. Boiada sendo conduzida pelos peõs pela BR 163 no estado do Tocantins – boi na pista disputando espaço com caminhões e carros. comitiva boiadeira
Expedição Safra 2016/2017, rodou mais de 4 mil quilômetros por lavouras do – Matopiba -Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, nova fronteira agrícola brasileira no Norte/Nordeste do Brasil. Boiada sendo conduzida pelos peõs pela BR 163 no estado do Tocantins – boi na pista disputando espaço com caminhões e carros. comitiva boiadeira| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

A palavra “desigualdade” traz à mente todo tipo de tentações da riqueza e luxo modernos: mansões, iates, jatos particulares e ilhas paradisíacas. Mas as raízes dessa desigualdade têm um fundamento bem menos glamuroso, segundo um novo estudo publicado na revista Antiquity por pesquisadores das Universidades de Oxford, Bocconi e Santa Fe Institute.

De acordo com a pesquisa, os bois de carga teriam sido os principais impulsionadores da concentração de renda nos primórdios da desigualdade. Os autores do estudo examinaram registros arqueológicos deixados por 150 sociedades antigas de ambos os lados do Atlântico. As descobertas se baseiam, em parte, nos novos métodos para medir a desigualdade em diferentes pontos do desenvolvimento das sociedades humanas.

A narrativa tradicional sustentava que o desenvolvimento da agricultura, que permitiu às pessoas estocar grandes quantidades de grãos e outros alimentos, foi a força motriz da divisão quase global das pessoas entre as que têm e as que não têm. Mas os pesquisadores constataram que a desigualdade só ganhou contornos nítidos milhares de anos depois do estabelecimento da agricultura. O ponto de ignição, argumentam, foi justamente quando os bois de carga se tornaram populares, por volta de 4.000 a.C.

As juntas de arado revolucionaram a agricultura ao dar escala ao trabalho humano. Antes, os agricultores tinham que revirar o solo com as mãos, enxadas e outros instrumentos simples. Mas um boi amarrado ao arado tornou possível realizar o mesmo trabalho em apenas uma fração do tempo consumido anteriormente.

A autora do estudo pela Universidade de Oxford, Amy Bogaard, estima que antes da chegada das cangas de bois, uma família típica da antiguidade conseguia administrar um sítio de cerca de um hectare, pouco mais do que um campo de futebol. Com o apoio dos bovinos para o trabalho pesado, essa produtividade foi multiplicada “por 2,5 vezes ou até 10 vezes”, dependendo de fatores como a condição da terra e dos animais.

Os bois foram, em outras palavras, uma das primeiras formas de capital – um ativo que poderia gerar valor econômico para seus proprietários. Os autores do estudo comparam aqueles animais aos robôs usados hoje nas fábricas: "uma tecnologia que economiza trabalho e levou à dissociação entre riqueza e mão-de-obra - dissociação fundamental para o estágio da desigualdade moderna da riqueza".

Quanto mais bois você tivesse, mais terras você poderia cultivar - e quanto mais terras você cultivasse, mais bois poderia comprar, na versão neolítica de uma equação bem conhecida do capitalismo.

A força capitalista dos bois

Uma das evidências “fumegantes” em favor da hipótese da força capitalista dos bois está na diferença de desigualdade entre sociedades antigas da Europa e Eurásia, onde os bois eram difundidos, e aquelas do outro lado do Atlântico, nas Américas, onde os animais não foram introduzidos até a época de Cristóvão Colombo. Essas sociedades pré-colombianas não possuíam animais de carga equivalentes capazes de lidar com trabalhos agrícolas pesados, e o novo estudo constatou que a desigualdade nessas sociedades era tipicamente menor do que no Velho Mundo.

Para possibilitar tais comparações, os autores analisaram quatro tipos de riqueza familiar que são visíveis no registro arqueológico: terra, espaço de armazenamento doméstico, espaço de moradia e bens enterrados nos túmulos do falecido. Trata-se de um registro necessariamente quebrado e incompleto: certas mercadorias se deterioraram ao longo do tempo, foram destruídas ou roubadas. Alguns indivíduos, como líderes tribais ricos ou padres, eram mais propensos a deixar uma pegada arqueológica do que um trabalhador comum que morresse sem um tostão.

Grande parte do foco da pesquisa estava em corrigir, na medida do possível, os vieses divergentes inerentes a esses registros. Isso foi feito examinando aspectos presentes em alguns dos locais e registros mais completos de habitação, bem como em alguns espaços modernos, como Florença do século 15 e partes da Alemanha do século 17.

O resultado final não é perfeito - os espaços em branco no registro histórico nunca podem ser realmente preenchidos - mas os autores escrevem que suas estimativas são compatíveis com achados anteriores, usando uma metodologia diferente, publicada em 2017 na revista Nature.

"Havendo oportunidades para monopolizar terras ou outros ativos importantes em um sistema de produção, as pessoas irão fazê-lo", disse Bogaard em comunicado. "E se não houver mecanismos institucionais ou outros mecanismos redistributivos, a desigualdade é sempre onde vamos acabar".

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