O desembarque recente dos chineses no setor portuário brasileiro – em setembro o grupo China Merchants Port comprou 90% do Terminal de Contêineres de Paranaguá por R$ 2,9 bilhões – não assusta à primeira vista os investidores do Porto Itapoá, principal concorrente na região Sul para exportação de contêineres reefers (frigorificados). Dois itens do agronegócio de grande volume e receita, frango e madeira, são especialidade dos portos vizinhos.
O porto catarinense também tem sócios pesos-pesados – a operadora global Hamburg-Süd, o fundo Log-Z Logística Brasil e o grupo Batistella – que, no momento, injetam R$ 350 milhões para ampliar a capacidade do terminal e veem a chegada dos chineses como uma confirmação do potencial do negócio de contêineres no Brasil.
Log-Z Logística Brasil.
“Enquanto o PIB mundial cresce a taxa de 2% ao ano, o crescimento do setor de contêineres é o dobro disso. Não consideramos os chineses novos concorrentes, porque o TCP é um player que já participa do mercado. A chegada de competidores de fora mostra que o Brasil tem um grande potencial e muito a desenvolver nesse setor”, avalia Cássio José Schreiner, diretor-presidente do Porto Itapoá.
Segundo o executivo, Itapoá trabalha para quadruplicar até 2026 a capacidade atual de movimentação de 500 mil TEUs por ano (TEU é um contêiner de 20 pés que comporta cerca de 22 mil quilos). Na primeira etapa, até junho de 2018, a meta é ampliar para 1,2 milhão de TEUs/ano.
O projeto em andamento inclui aumento do pátio, de 150 mil m2 para 450 mil m2, e expansão do píer, de 630 para 1200 metros. No novo píer, os dois berços de atracação de navios de 315 metros vão dar lugar a três berços, cada um com 400 metros (veja fotomontagem abaixo).
Gestão digital
Além da expansão física, iniciada em novembro de 2016, o terminal vai passar por uma reengenharia de gestão e será a primeira empresa de Santa Catarina a implantar a nova plataforma de integração de processos da multinacional alemã SAP. O porto aposta na otimização prometida pela SAP S/4HANA para dar o salto na capacidade de movimentação sem precisar aumentar a mão de obra administrativa.
“O que a plataforma digital faz é criar um banco de dados com informação online e em tempo real, que pode ser usada a qualquer momento para a tomada estratégica de decisões. Uma pessoa faz cinco lançamentos com apenas um comando, em vez de cinco pessoas fazendo vários lançamentos em diferentes processos. Com essa simplificação, você libera quatro pessoas para o trabalho de inteligência, para descobrir como encontrar soluções para o negócio junto com o cliente, e não apenas executando o trabalho operacional repetitivo que a gente costuma chamar de cara-crachá”, diz Almir Meinerz, presidente da SPRO IT Solutions, empresa que implantará a ferramenta de gestão no porto.
Essa integração de dados e processos é fundamental para o complexo trabalho portuário, que envolve milhares de informações sobre manejo de contêineres, carregamento e descarregamento de navios, contratos com fornecedores e clientes de diferentes países.
Cássio Schreiner diz que a ideia é eliminar pelo menos 80% das 500 planilhas manuais e eletrônicas utilizadas atualmente no porto. “Passaremos a ter processos integrados, desde o fechamento de uma negociação até o recebimento dos recursos pelo serviço prestado. Estamos falando de ganho de produtividade e de eficiência””, afirma o executivo.
Sexto maior terminal de contêineres do país, com 700 funcionários, o Porto de Itapoá espera subir várias posições no ranking já em 2018, quando concluir a primeira fase de expansão. “Daremos um salto de capacidade e vamos buscar preencher essa capacidade. Claro, vai depender do aquecimento da economia e da demanda do mercado, mas, se queremos ser um terminal de ponta, não podemos ficar esperando”, resume Schreiner.
Os investimentos na infraestrutura portuária do Sul do país são uma boa notícia para o agronegócio, segundo a Federação da Agricultura do Paraná (FAEP). “Para os produtores rurais, não importa muito se o investimento é em Paranaguá, Itapoá ou Navegantes: quanto mais disponibilidade para o transporte marítimo, quanto mais barato for o frete, melhor” , avalia Nilson Hanke Camargo, assessor de logística da federação.
Conteinerização
O Porto Itapoá embarcou no fenômeno da “conteinerização” dos grãos, novidade de dois anos atrás em Paranaguá e solução logística adotada largamente pelo Paraguai. No primeiro trimestre, no pico do escoamento da safra, Itapoá chegou a embarcar mais de 1.000 contêineres de soja por mês, o equivalente a 22 mil toneladas. Segundo a administração do porto, os clientes compram em volume menor, mas são recorrentes porque encontraram nos contêineres uma forma de pagar menos do que o valor cobrado lá fora pelos grandes traders.
“Com a crise de dois anos atrás, havia grande disponibilidade de contêineres no Brasil. Para não voltarem vazios para a Ásia e a Europa, a opção foi carregá-los com grãos. É uma tendência, nunca vai substituir os navios graneleiros, mas é uma opção”, avalia Nilson Camargo.
Outra oportunidade de expansão dos terminais de contêineres está no transporte por cabotagem, cada vez mais procurado por causa dos altos custos rodoviários. O que dificulta, segundo Cássio Schreiner, é a regulamentação do transporte marítimo na costa brasileira, ainda tratado com praticamente a mesma burocracia do processo de exportação. “Ao se flexibilizarem essas regras, teremos um potencial muito grande na cabotagem de contêineres”.
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