Brasil exportou 800 mil toneladas a menos do cereal este ano, reflexo da crise econômica que reduziu a presença de biscoito, salgadinho e macarrão na lista de compras do brasileiro.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Conforme as máquinas avançam sobre as lavouras de trigo do Paraná e do Rio Grande do Sul, principais produtores do cereal, a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de que o Brasil produziria recorde de 7,1 milhões de toneladas fica mais distante de ser alcançada. As chuvas intensas das últimas semanas e a geada que atingiu fortemente o estado gaúcho no segundo final de semana deste mês comprometeram ao menos parte dos campos dedicados ao cereal, tanto em produção como em qualidade.

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“A produção nacional não irá passar de 7 milhões de toneladas. Vai no máximo a 6,5 milhões por causa da chuva e da geada. E nem tudo terá qualidade panificável, o que força a importação”, resumiu Luiz Carlos Pacheco, da consultoria Trigo & Farinhas.

Com a produção abaixo da estimada, sendo parte para ração, as importações do cereal devem ganhar força nos próximos meses, principalmente da Argentina e dos Estados Unidos. Nos oito primeiros meses do ano, o Brasil comprou 3,3 milhões de toneladas no mercado internacional - 2,7 mihões (t )do país sul-americano e 295 mil (t) da América do Norte.

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Esse cenário pode sofrer alterações até dezembro. A Argentina sofre com inundação em 80 mil hectares dedicados ao trigo, o que pode gerar perdas de 700 mil toneladas. A tendência é de que os EUA ganhem espaço na balança comercial brasileira.

“Teremos que recorrer aos Estados Unidos, como no ano passado”, garante o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Ataides Jacobsen. Na temporada 2014, das 5,9 milhões (t) importadas pelo Brasil, 45% vieram dos EUA, 27% da Argentina e 19% do Uruguai. “O Paraguai está com uma safra muito boa. Possivelmente parte do excedente deles venha para cá”, reforça. Cerca de 200 mil (t) já foram adquiridas junto ao país em 2014.

Preços

Apesar da certeza de redução na oferta, o preço do produto não sofreu alteração – e isso talvez nem aconteça. Como a demanda está baixa (leia matéria ao lado), as cotações permanecem na casa dos R$ 33 por saca de 60 quilos, segundo dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), abaixo do preço mínimo - R$ 35/sc. “Isso não deve mudar no curto prazo. A redução da demanda das indústrias segura o preço interno”, projeta Pacheco.

Perdas

Os órgãos oficiais calculam os prejuízos nos dois estados da região Sul. No Paraná não houve registro de geada. Mas o excesso de chuvas das últimas semanas, que deve se repetir nas próximas, coloca um ponto de interrogação na safra estadual. “Está em aberto ainda, pois pouca coisa já foi colhida. E o cenário de clima para frente não é muito bom”, destaca Margoret Demarchi, agrônoma da Seab.

A situação no Rio Grande do Sul é mais complicada. A intensa geada atingiu as lavouras em fases de floração e enchimento de grãos, períodos mais críticos. No ano passado, também por interferência climática, o estado gaúcho registrou perda de mais de 1 milhão (t). “Será igual ano passado. Cerca de 1,5 milhão de toneladas não terá qualidade. Irá para ração”, projeta Pacheco.

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De acordo com o meteorologista Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os dois estados ainda podem contabilizar mais problemas. Existe a previsão de chuvas acima da média para os próximos dias. “Capaz até de gear novamente no Rio Grande do Sul”, diz.