O clima no Brasil é de otimismo com as prováveis mais de 100 milhões de toneladas de soja no ciclo 2016/17. Mas com relação aos preços em reais, os produtores do grão enfrentam o cenário mais desfavorável dos últimos dois anos. No último dia 23 de fevereiro, o valor médio pago pela saca da oleaginosa no Paraná bateu em R$ 66 – o valor mais baixo desde 7 de julho de 2015, quando a cotação do dia fechou em R$ 65,88. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O fator que mais influencia nesse cenário é o câmbio. O diretor de commodities da INTL FCStone, Glauco Monte, ressalta que o bushel (unidade americana de medida) de soja está cotado em um bom patamar em Chicago – acima de 10 dólares. Em fevereiro de 2016, o bushel estava cotado abaixo dos 9 dólares. “Só que no ano passado estávamos com o dólar muito mais próximo de R$ 4. Hoje, estamos com o dólar muito mais próximo de R$ 3”, compara.
Glauco diz que, com esses preços, o produtor vai tentar segurar ao máximo a venda da soja. “Como até agora temos safra cheia, mais cedo ou mais tarde vai ser necessário acelerar a comercialização. Isso pode pressionar os preços”, opina. Segundo ele, é difícil prever o impacto preciso no preço, justamente pelo fator câmbio.
Camilo Motter, analista de mercado da Granoeste, também cita que o câmbio é o fator central no preço baixo em reais. Ele explica que os estoques nesse ano estão maiores e que, não fosse a marcha lenta da comercialização brasileira, o cenário poderia ser pior. “A relação de oferta e demanda nesse ano é muito mais frouxa. Mesmo assim, em termos globais, temos uma demanda muito boa da China. O câmbio no Brasil muito valorizado desestimula os negócios, ou seja, o brasileiro quase não está vendendo e por isso é que Chicago se mantém [perto dos 10 dólares o bushel]”, diz.
Sobre câmbio, a política nacional pode influenciar nas próximas semanas. Além disso, as medidas de Donald Trump, que em alguns momentos tem se mostrado intempestivo, podem interferir no dólar. Por isso, para Motter fazer previsões de câmbio agora é assumir o risco de cair no ridículo. “Para o produtor o que tenho dito é que para não cair em uma pegadinha, vá participando do mercado”, aconselha.
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