O ex-ministro da Agricultura no governo de Fernando Collor de Mello, Antônio Cabrera, vê abuso político na decisão do governo Lula de intervir no mercado do arroz e vender o cereal com marca própria, a preço subsidiado, em ano de eleições.
“Nas últimas eleições se comentava que haveria um rigor maior do TSE, mas eu nunca vi um abuso político como esse. Vender arroz no mercado, embalado pelo governo federal, é uma coisa inacreditável quando estamos às vésperas de uma eleição. Onde está o TSE para dizer que não se pode fazer um negócio desses?", questiona.
"Eu diria que um TSE sério daria 24 horas para o governo explicar qual é a razão de se importar, porque a Constituição diz que o governo só pode intervir se faltar o produto no mercado, e isso não ocorre hoje”, diz Cabrera.
Para o ex-ministro, que é médico veterinário, produtor rural e presidente do Grupo Cabrera, a obstinação do governo Lula de intervir no mercado do arroz é um atestado de que os petistas não aprendem com as lições do passado: “Infelizmente, para esse governo a história é uma professora da qual eles não estão assistindo as aulas”.
Ação lembra "caça ao boi gordo" do governo Sarney
Dentre os exemplos clássicos de intervenções malsucedidas está a cruzada do ex-presidente José Sarney para confiscar boi gordo nos pastos, a preços tabelados, em 1986, e o apodrecimento de milhares de toneladas de grãos, no fim daquela década, em estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Tais intervenções não deram certo, basicamente, por que bateram de frente com a lei de oferta e procura. “A partir do Collor o governo não teve mais estoques públicos e esse foi um dos motivos para o agro ter se tornado o que é hoje”, avalia.
Nesta semana, as informações de quebra na safra da Rússia e problemas climáticos em vários outros países provocaram uma alta global de mais de 15% nos preços de trigo. “A agricultura é assim, é uma indústria a céu aberto”, pontua Cabrera.
Danos podem chegar a outros alimentos da cesta básica
“Esse aumento está batendo no arroz por uma série de questões de outros países. Pior ainda, é que com o anúncio do governo de que vai comprar um milhão de toneladas, é óbvio que ele vai alterar o preço. Se você pensar em uma jogada que deu tudo errado, foi exatamente essa do governo agora. Vai prejudicar os produtores, o Sul, o país, vai elevar preço. A agricultura se vinga no ano seguinte. O pior desse ato do governo é o desestímulo que ele vai causar para o plantio da próxima safra”, avalia.
Os danos podem chegar a vários outros alimentos, para além do arroz. Cabrera aponta que, ao longo dos anos, a cultura intervencionista de diferentes governos acabou fazendo com que muitos produtores se refugiassem nas commodities de exportação, fugindo do patrulhamento e da imposição de preços de itens da cesta básica. “Muita gente já não vai plantar mais arroz, porque se sentiu inseguro. Se for para cometer um erro, vamos tentar cometer um erro novo. Mas o governo está repetindo, e isso, desculpa a expressão um pouco forte, é uma estupidez”, conclui.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião