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| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

A imagem de um monte de animais confinados ou enfileirados à espera da ordenha parece estar com os dias contados. Um sistema de manejo que dá à própria vaca a liberdade para escolher o momento que quer se alimentar, descansar, circular e ser ordenhada vem ganhando força entre os produtores de leite. A ideia é priorizar o bem-estar animal sem diminuir a produção em larga escala.

O modelo de manejo de fluxo livre (free cow traffic) é mais popular na Europa e em países como Estados Unidos e Nova Zelândia. Aos poucos, o sistema – associado a estações de ordenha robotizadas – encontra espaço entre os produtores brasileiros.

“A vantagem é o conforto para o animal e o tratamento individualizado, o que possibilita melhorar a produtividade de leite de cada vaca e reduzir os custos de produção”, explica Huibert Pieter Janssen, coordenador técnico da área de bovinos-leite da Cooperativa Castrolanda. Segundo ele, esse sistema de manejo, associado à automatização dos processos, ajuda a melhorar a qualidade do leite em relação aos processos manuais.

Outra vantagem para o produtor, diz Janssen, é que com o controle robotizado da produção o desperdício de grãos, o chamado “concentrado” e de minerais é menor. Esse insumo representa 35% do custo da produção de leite.

De acordo com a veterinária Valquíria Martins, da Lely, empresa multinacional que trabalha com o fluxo livre associado a estações de ordenha robotizadas, o sistema consiste em um modo mais eficiente de produção, com melhora na alimentação do rebanho, redução de gastos e menos problemas de saúde animal.

Para que a ordenha robotizada dê resultados, no entanto, é preciso garantir que os animais tenham acesso livre a água, comida, descanso, espaço, luz e ar. Ao contrário do fluxo forçado, em que o animal precisa passar primeiro por portões que dão acesso à ordenhadeira para depois chegar ao alimento, no fluxo livre as vacas podem comer, beber, descansar ou ir ao robô para serem ordenhadas quando sentirem vontade. Quando sentem fome, elas vão naturalmente à estação de ordenha, onde recebem um pouco de ração especial que contém nutrientes concentrados.

Livre, pero no mucho

Janssen explica que no fluxo livre a alimentação do gado é livre somente para a ração forrageira. A suplementação de concentrado é controlada conforme a necessidade de cada animal, o que é estabelecido pelo produtor. A mesma coisa funciona com a ordenha. “Se a vaca for cinco vezes por dia ao robô, não quer dizer que ela será ordenhada cinco vezes, mas ela tem liberdade de visitá-lo quantas vezes quiser”, explica Valquíria. Com base no tempo entre uma ordenha e outra o aparelho sabe se o animal tem condições ou não de ser ordenhado.

Em sistemas de fluxo fechado (guiado), as vacas precisam aguardar a ordenha em uma área de espera. Nesse caso, os animais de primeiro parto ou de alta produção, por serem mais “tímidos” e estarem num ambiente relativamente novo, acabam sofrendo a dominância dos animais superiores na hierarquia, o que faz com que diminuam as visitas ao cocho. Comendo menos, a produção de leite diminui.

No sistema livre, as não dominantes podem ir ao robô em horários que ele não esteja lotado ou quando não há animais dominantes por perto. Sem serem incomodadas, as vacas descansam mais e evitam problemas nos cascos, pois não precisam ficar tanto tempo em pé. Além disso, pelo fato de o gado andar e esperar menos, o número de ordenhas é maior.

Divulgação/Lely

Maior produtividade

Ainda de acordo com Valquíria, a produção de leite varia de fazenda para fazenda. Mas os estudos da Lely apontam que o fluxo livre aumenta em 7% a produtividade das novilhas (animais que tiveram o primeiro parto) e em 10% a das vacas recém-paridas (aquelas que já estão no segundo parto em diante). Ao todo, 6 fazendas no Brasil operam com robôs da empresa.

Thiago Boogaard, engenheiro mecânico especialista em robôs da Delaval, outra fabricante mundial de estações de ordenha robotizadas, explica que o fluxo livre é mais rápido para o animal aprender o caminho para a ordenhadeira e é mais confortável para a vaca, mas não há diferença expressiva na produção de leite.

A Delaval possui 45 robôs de ordenha em funcionamento no Brasil, que adotam o sistema livre ou guiado. “Com o tempo, a vaca se acostuma com a ordenha eletrônica. Ela sente a pressão no úbere cheio e na máquina ela consegue esvaziar essa pressão”. O fluxo guiado, diz ele, aumenta a eficiência do equipamento, pois só os animais com permissão de ordenha têm acesso à ordenhadeira.

Segundo a Lely, cada estação de ordenha robotizada custa entre R$ 550 mil a R$ 700 mil, dependendo da configuração. O retorno do investimento – para quem começa do zero – ocorre entre 7 e 8 anos. Na opinião de Janssen, os financiamentos para a aquisição desse tipo de equipamento ainda são muito caros no Brasil, dificultando o acesso para a maioria dos produtores.

A preocupação com a boa condição e tratamento dos animais têm sido vista cada vez mais com bons olhos pelo mercado consumidor mundial. Algumas empresas olham para o produtor que adota esse sistema de modo diferenciado, de acordo com Valquíria. O que ainda não ocorre no Brasil.

“Ainda é preciso amadurecer mais esse mercado, inclusive na questão de uma remuneração mais vantajosa para o produtor. Nesse contexto, o manejo de vacas em fluxo livre pode auxiliar o produtor a melhorar o bem-estar de seus animais em conjunto com a automatização da ordenha, trazendo maior eficiência econômica e produtiva”, conclui a veterinária.

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