A indefinição sobre o futuro da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP) chegou ao fim. As operações da unidade serão incorporadas pelo grupo Caoa, maior distribuidor da marca norte-americana na América Latina.
Segundo fontes ligadas à negociação, a empresa brasileira já assinou um acordo para aquisição da planta, que seria desativada até o fim do ano caso não encontrasse um comprador.
A Caoa está disposta a manter a produção de caminhões, sob licença da Ford. No local são feitas a linha Cargo, além da F-4000 e F-350 e o hatch compacto Fiesta. A ideia da futura nova gestão é fabricar apenas os veículos pesados.
O Grupo Caoa, que também revende e produz modelos da sul-coreana Hyundai e chinesa Chery, havia sinalizado em fevereiro o interesse na fábrica do ABC.
Em nota divulgada à época, ressaltou a "forte parceria" com a Ford há quatro décadas, e que seria natural que as duas companhias conversassem sobre futuros negócios, "assim como ocorre com outras empresas sempre que há uma boa oportunidade."
Até o momento, oficialmente nenhuma das parte envolvidas confirmou o acordo. "Não vamos nos manifestar sobre o tema", limitou-se a responder um porta-voz da Ford.
Governo paulista pressiona Caoa
A venda das instalações da Ford vem sendo intermediada pelo governador de São Paulo, João Dória (PSDB).
O objetivo principal é manter operações de produção no local, bem como a mão de obra, conforme pede o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cujos dirigentes chegaram a ir aos Estados Unidos pedir para a matriz rever a decisão do fechamento.
No dia 19 de fevereiro, a Ford anunciou que decidiu fechar a fábrica em São Bernardo do Campo (SP). A marca emprega atualmente no local 4,5 mil funcionários, sendo 3 mil diretos e 1,5 mil terceirizados.
Doria tentou convencer a empresa a desistir da ideia, mediante algum tipo de incentivo tributário, mas foi informado de que a montadora americana decidiu sair do mercado de caminhões em todo o mundo.
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Desde então, o governador paulista está se empenhando pessoalmente em encontrar um comprador para a unidade. O grupo Caoa apareceu como forte candidato.
Caoa segue em expansão
A Caoa, que é uma abreviatura do nome do seu fundador, Carlos Alberto de Oliveira (hoje presidente do conselho de administração), vem investindo pesado no Brasil. O grupo brasileiro também é o importador oficial das marcas Hyundai e Subaru.
No fim de 2017, a Caoa comprou parte das operações da Chery no Brasil. Com isso, incorporou a fábrica da marca chinesa em Jacareí (SP).
De lá para cá, já lançou quatro modelos da nova marca Caoa Chery no mercado nacional. São eles os SUVs Tiggo 2, Tiggo 5X e Tiggo 7 e o sedã Arrizo 5X.
A empresa já produzia veículos da Hyundai em Anápolis (GO) - o Hyundai Tucson e o ix35, além dos utilitários comerciais HR e HD78.
O resultado é que a Caoa Chery foi a marca que mais cresceu no país em 2018. Foram 8.640 unidades vendidas no ano passado, ente 3.734 em 2017, uma alta de 131%.
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Enxugamento de fábricas e produtos
A venda da fábrica do ABC é mais uma medida da Ford que integra o seu plano de reestruturação global.
Com os prejuízos seguidos na América do Sul, que somam US$ 4,9 bilhões entre 2012 e 2018, a marca se viu obrigada a estancar a sangria de perdas.
Além do Fiesta, a Ford já havia confirmado o fim da produção do Focus na Argentina, decretando a saída de cena dele no Brasil ainda neste ano nas duas carrocerias (hatch e sedã).
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Ainda existe a incerteza em relação ao Fusion, que deixará de ser feito no México devido à decisão da Ford em acabar com os seus carros de passeio nos EUA.
Por lá, apostará somente em picapes, SUVs e veículos comerciais, além de Mustang e Focus Active (versão aventureira).
A fabricação do sedã médio deve passar para a China, o que pode encarecer o sedã médio por aqui e torná-lo inviável.
No Brasil, a Ford concentra seus esforços em veículos de entrada. O Ka e sua variante sedã responderam por 63% (142,3 mil) de toda a gama da marca vendida no país no ano passado (226,4 mil).
O fechamento da planta de São Bernardo não deverá afetar a produção em Camaçari (BA), onde são feitos os modelos Ka e EcoSport, e em Taubaté (interior de São Paulo), que fabrica motores.
Ford busca rentabilidade
Nos EUA, seu principal mercado, a Ford registrou um lucro líquido de US$ 1,74 bilhão em 2017, valor quase 9% superior aos 1,6 bilhão de 2016, porém a rentabilidade caiu de 6,4% para 5,2%.
Com o fechamento e enxugamento de unidades pelo mundo, e a redução da gama de produtos, a empresa prevê cortar US$ 25,5 bilhões em custos.
O resultado disso, de acordo com montadora, é já no próximo ano ampliar a margem de lucros para 8% globalmente e 10% nos EUA.
Parte dessa oxigenação virá da parceria global feita com a Volkswagen, anunciada em janeiro deste ano. Diferentemente do que ocorreu quando as duas companhias formaram a Autolatina, o acordo não prevê compra ou troca de ações entre as montadoras.
A ideia da aliança é o desenvolvimento conjunto de vans comerciais e picapes médias a partir de 2022. O primeiro produto desse acordo será a nova Ranger, que ganhará sua versão da VW.
As duas empresas também trabalharão juntas para desenvolver carros elétricos. Outra frente será o aperfeiçoamento de sistemas que permitirão o avanço da operação de veículos autônomos.
Um dos passos para viabilizar o carro sem motorista é a interação entre os veículos e o entorno. Essa tecnologia, batizada de V2X, conta com a colaboração de várias marcas e foi apresentado em janeiro pela Ford na CES, feira de tecnologia em Las Vegas (EUA).
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