No folclore francês, a figura do Hellequin é associada a soldados mortos que assolavam pessoas em diferentes épocas, também conhecidos como "cavaleiros do inferno". Foi baseado neste sombrio personagem que o bancário Paulo Costa, 40 anos, de Curitiba, realizou um antigo sonho: ter na garagem uma moto customizada.
A ideia inicial era construir uma máquina a partir da Harley- Davidson Night Train, mas o custo e o excedente de peças após a desmontagem inviabilizaram a escolha. "O projeto era tão ousado que decidi criar uma nova moto, partindo do zero", destaca Ricardo Machado Capistrano, 42 anos, proprietário da Cabeça de Ferro, empresa da capital especializada na customização em duas rodas. O jeito foi garimpar peça por peça nos Estados Unidos. De lá vieram motor, com 100 cv de potência; câmbio de 6 marchas; embreagem; rodas e escapamentos.
Depois de quatro meses de trabalho, o visual e o tamanho da moto impressionam. "A sombra da moto projetada na parede é assustadora", garante Costa, referindo-se ao design da carenagem, que ganhou formas pontiagudas inspiradas no Hellequin. De um pneu ao outro, a moto mede 3,10 m, ou seja, quase do tamanho de um Fiat Mille (3,29 m). A dianteira também traz componentes superlativos. As bengalas (garfos que compõem o sistema de suspensão, unindo a roda da frente ao guidão) alcançam 1,25 m de comprimento. Quem olha o guidão, com 1,10 m de empunhadura, não acredita que a moto seja capaz de dobrar uma esquina. "Mas basta apenas uma pequena virada para ela efetuar a manobra sem problemas", garante o seu dono.
A moto segue o estilo Chopper, onde a tendência é valorizar o visual mais limpo possível. Por isso, quase não se vê os cabos e as fiações que formam a parte elétrica. No entanto, a aplicação do conceito clean não significa discrição visual. A Hellequin faz questão de aparecer quando o assunto é pintura. A lataria ganhou um banho de tinha especial com flakes (pequenos pigmentos prateados), que brilham e dão tonalidades diversas sob a incidência dos raios solares ou de luz artificial. "Às vezes a moto parece esverdeada, outras vezes lilás, vermelha...", diz Capistrano. A impressão é de que a Hellequin tem "luz própria". Toda essa luminosidade ganhou um requinte nos cilindros do motor. Eles foram esculpidos em vários pontinhos e, por serem de alumínio, geram um brilho semelhante a pedras de diamantes.
A obra inclui ainda dois sistemas pouco utilizados em personalização nacional. Um é o monobraço, que prende a roda traseira por apenas um dos lados, deixando o outro à mostra. "A impressão é de que a roda está suspensa no ar, sem fixação", explica o proprietário da oficina. Para completar, o disco de freio é em inox e cortado no mesmo desenho da roda, que têm as medidas de 21x3,5 (dianteira) e 18x10,5 polegadas (traseira).
Outro mecanismo empregado é o sistema belt (cinto, em inglês). Ele tem a função de transferir a força do motor para a caixa de câmbio. Isso gera ganho de potência ao deixar o conjunto do propulsor 6 kg mais leve. "Nas motos convencionais esse trabalho é feito por engrenagens; na Hellequin é por um cinto de borracha", diz Capistrano, acrescentando que o sistema é idêntico ao aplicado em dragster bólidos de arrancada.
O nível de customização é visível até nos botões de pisca, luz e buzina. A luz de freio, por exemplo, aparece nos olhos da caveira estilizada no para-lamas. O banco dá o toque final à excentricidade da moto. É confeccionado em couro de jacaré. Segundo Costa, o produto foi retirado de um criadouro legalizado pelo Ibama. "Tem até o número do entidade impresso no banco. Antes havia procurado couro de arraia, de lhama, mas sem sucesso", diz.
Costa afirma que a customização não parou por aí. Em breve pretende colocar dois carburados e uma suspensão a ar. "A Hellequin é a conquista de uma vida. Sonhei com uma moto feita para mim e com a minha cara", finaliza.
Serviço:
Cabeça de Ferro (41) 3016-8704.
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