Falar em carro popular hoje no Brasil soa até como ofensa ao consumidor. Os preços dos modelos mais acessíveis atingiram patamares bem acima do poder aquisitivo médio do brasileiro. Ou seja, a expressão caiu em desuso no mercado automotivo e foi trocada por carros de entrada.
Mas durante toda a década 1990 era sim possível falar em carro popular. Aliás, esse rótulo foi criado durante o governo de Itamar Franco em 1993, que estimulou lançamentos de modelos com pouco conteúdo, motor 1.0 e IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) a ínfimo 0,1% para veículo "milzinho" - atualmente é de 2%.
A intenção era estimular as vendas diante de um mercado em crise e também a produção industrial. O resultado foi uma avalanche de carros novos 1.0 nas ruas, ao ponto de representar 70% dos emplacamentos no país.
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Estamos falando de modelos comercializados por cerca de R$ 7,2 mil. Nessa lista estavam Volkswagen Gol 1000, Fiat Mille, Chevrolet Corsa 1.0 e até o Fusca 1600, ressuscitado por Itamar, que trazia a etiqueta de R$ 6.743, o que lhe valeu o título de o carro mais barato no Brasil.
Os modelos tinham como características, além do motor de mecânica simples, o interior espartano, com revestimento de qualidade inferior e baixa oferta de equipamentos.
Olhando esse valor logo deduzimos que se pagava uma ninharia para ter um automóvel novinho na garagem. Só que temos de levar em conta que a realidade econômica naquela época era bem diferente a dos dias atuais.
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O dólar valia pouco menos que R$ 1 e o salário mínimo era de R$ 70. Ou seja, para levar o Fusca para casa desembolsava-se US$ 7.173 ou 96 salários mínimos. No entanto, se o simpático modelo da Volks fosse produzido atualmente ainda poderia ser classificado como um carro popular?
Fizemos um cálculo simples, restringindo apenas ao poder de compra do brasileiro daquela época em relação aos dias de hoje, sem medir outros parâmetros como custo de produção e de logística ou mesmo a variação nas alíquotas de impostos que incidem sobre o automóvel.
Pegamos somente a correção do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), considerando a inflação acumulada de junho de 1994 até junho deste ano, com índice de 9,2201. Neste caso, o Fusca zero km sairia por R$ 62.171,13 em 2019. Ou seja, numa faixa de preço bem acima dos carros mais em conta vendidos no país.
É lógico que pela simplicidade do projeto do carro fatalmente o seu preço seria bem menor do que apontam os números frios da conta acima, mas vale como um exercício para perceber como o nosso poder de compra subiu ao longo de 25 anos.
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Mesmo com incidência pesada de impostos sobre o preço do automóvel - quase 50% em motor 1.0 -, temos o Chery QQ Smile a partir de R$ 29.690 no ano/modelo 2019 (no site ele aparece por R$ 24.990, mas ano/modelo 2018/19.
Em outro cálculo rápido, usando o dólar como referência, e cotado hoje a R$ 3,78, o subcompacto chinês custa US$ 7.854,50. O valor é bem próximo ao estipulado à época para o carro popular.
Com o salário mínimo atual a R$ 998, precisaria de quase 30 vezes mais para comprar o carro mais barato no Brasil. No comparação com o passado, é bem menos que os 96 salários pedidos pelo Fusca em 1994.
Além do QQ, outros dois modelos de entrada poderiam ser considerados os "carros populares" da atualidade. O Fiat Mobi Easy 1.0 tem preço sugerido de R$ 32.990 (US$ 8.727,51 ou 33 salários mínimos) e o Renault Kwid Life 1.0 sai por R$ 33.290 (8.806,87 ou 33,3 salários).
PREÇOS ZERO KM DOS POPULARES
Modelo | Em 1994 | INPC* | Corrigido (2019) |
VW Fusca | R$ 6.743 | 9,2201 | R$ 62.171 |
VW Gol 1000 | R$ 7.243 | 9,2201 | R$ 66.781 |
Fiat Uno Mille | R$ 7.254 | 9,2201 | R$ 66.883 |
Chevrolet Corsa | R$ 7.350 | 9,2201 | R$ 67.768 |
*Índice de correção |
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