Opinião
A multa pode ser paga, a vida, não
Na minha época de criança não havia este conceito de andar com segurança no trânsito. Talvez devido ao pouco movimento de veículos nas ruas. Não tínhamos tantos acidentes, o cinto de segurança não era utilizado, por não ser obrigatório. Aliás, até pouco tempo não se falava em cinto no banco traseiro.
No entanto, de uns anos para cá isso vem mudando. Com o aumento da frota nas ruas e da pressa do motorista, é cada vez mais necessária a conscientização nas escolas. Sabemos que o adulto é difícil mudar, por isso temos de colocar nas cabeças das crianças a importância da convivência segura entre veículos, motorizados ou não, e pedestres. Só assim conseguiremos mudar a postura dos pais também. Hoje em dia eles ouvem muito mais os filhos do que no passado.
Eu acredito que o trânsito tende a mudar para melhor, porém a longo prazo. Chegará um dia em que, numa estradinha de terra no interior, indo para o sítio, a pessoa terá a preocupação de colocar o cinto, mesmo que não tenha um agente a 50 km de distância.
Quando eu coloco o meu cinto jamais penso que é para não levar multas, jamais. Isso é uma ilusão. A multa vem, pesa no bolso, mas a pessoa paga. E a vida, o acidente, a sequela, a gente paga? Às vezes não tem preço. Às vezes não adianta a pessoa ter dinheiro que não conseguirá reverter a situação.
Alguns não usam o dispositivo de segurança por achar que é um bom motorista, que nunca bateu o carro. Não coloca o cinto nos filhos atrás porque dirige bem. Só que se esquece que o outro veículo poderá colidir com o dele, quem sabe violentamente. Não é difícil encontrar um maluco no trânsito, alguém que fura o sinal, que faz uso de drogas ou ingere bebida alcoólica e depois pega o volante. A gente nunca sabe quem é o condutor do outro automóvel.
Silvana Ferraz, pedagoga da Secretaria de Transporte e Trânsito de São José dos Pinhais
Visita
Pais motoristas acabam estimulados pelo filhos
O engenheiro Marcelo Vargas, 35 anos, conheceu a pista da Renault com a mulher Paula Lazuta e as filhas Alice, 3, e Lavínia, 7. Ele conta que as meninas tiveram um complemento daquilo que foi apresentado em sala de aula. O engenheiro comenta que na escola o assunto trânsito é apresentado de maneira lúdica, com peças teatrais e palestras. "E depois elas cobram de mim o que pode ou não fazer".
Vargas lembra certa vez em que bateu na traseira de outro carro. As filhas estavam com o cinto de segurança. O policial que atendeu a ocorrência mencionou que elas poderiam ter se machucado caso não estivessem com o equipamento. "A minha filha mais velha fica brava se eu demoro para colocar o cinto", revela.
O montador automotivo Nelson Fernandes dos Santos, 46 anos, também visitou a pista com a mulher Sirley Vaz e o filho Murilo, de 7 anos. Para ele, ver as crianças praticando serviu de estímulo para aumentar a sua conscientização. A família tem o costume de pegar a estrada em viagens a passeio e, a partir de agora, mudará alguns hábitos após assistir à apresentação dos agentes de trânsito. "Não sabia que era importante realizar paradas para ir ao banheiro e esvaziar a bexiga. Aprendi que isso evita que ela se rompa em um possível acidente, caso esteja cheia (podendo ocasionar uma infecção generalizada)", exemplifica.
Papai, não pode passar no farol vermelho! Mamãe, temos de atravessar pela faixa de pedestres! Seus filhos pequenos têm essa preocupação quando você deixa escapar procedimentos básicos de segurança no trânsito? Se sim, parabéns, é sinal de que eles assimilaram bem seus ensinamentos. Ou então estudam em uma das escolas contempladas pelo projeto Educação para o trânsito, compromisso com a cidadania, uma iniciativa da prefeitura de São José dos Pinhais, que tem as parcerias da Renault e da concessionária Ecovia.
Desde 2011, a cidade vizinha a Curitiba, por meio da lei nº 1.800, vem tratando a convivência e a conduta no ambiente automotivo como tema permanente em sala de aula no ensino fundamental. Por enquanto, o programa atende apenas a rede municipal e estudantes da 4ª série, de 8 e 9 anos de idade, mas a ideia é estender para instituições estaduais e particulares. "São José dos Pinhais foi pioneira em adotar este conteúdo nas escolas", ressalta Eliane Tarrit, coordenadora do Instituto Renault.
Com orientações e palestras constantes de profissionais da área de trânsito e do próprio corpo docente, as crianças aprendem noções de legislação e de como se comportar dentro e fora do automóvel. "Não buscamos formar futuros motoristas, mesmo porque nem toda a criança vai dirigir um veículo na fase adulta. O objetivo é criar uma consciência de respeito ao próximo e de valorização à vida", enfatiza Silvana Ferraz, pedagoga da Secretaria de Transporte e Trânsito de São José dos Pinhais.
Ela busca disseminar a premissa de que "a gente pode estar na condição de condutor de um veículo, no entanto pedestre sempre seremos, a vida inteira". É um trabalho árduo, admite Silvana, cujos resultados não são imediatos, mas se uma única pessoa mudar seus conceitos, ser mais consciente no trânsito, já será um progresso, garante a professora, destacando que a formação dos filhos neste sentido pode refletir no comportamento dos pais e familiares.
Na visão de Fernando Matos Zaguini, um dos agentes de trânsito que colabora no projeto, o convívio com carros, motos e bicicletas está em todos os lugares, seja na escola, nas residências ou no supermercado. Ele aponta um dado estatístico para justificar a importância desta iniciativa. "De cada dez leitos no Hospital do Trabalhador, em Curitiba, seis são ocupados por vítimas de acidente no trânsito. O condutor não vem respeitando o colega ao lado e também o pedestre. Precisamos mudar isso", salienta.
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) reconheceu o programa feito no Paraná, concedendo recentemente prêmios a dois professores e um aluno por trabalhos realizados sobre o tema.
Mortes
Os acidentes de trânsito estão entre as principais causas de morte entre crianças e adolescentes de um a 14 anos no Brasil. Dados do Ministério da Saúde revelam que 40% das vítimas fatais nesta faixa etária correspodem a atropelamentos e 5% com a criança na condição de ciclista.
Minipista recria o ambiente de rua
A melhor maneira para desenvolver a aprendizagem teórica é colocá-la em prática. Sendo assim, a prefeitura de São José dos Pinhais foi buscar na Renault e na Ecovia as parceiras para a viabilização de uma pista que simulasse situações do cotidiano no trânsito.
A estrutura fica na sede administrativa da Ecovia, ao lado da praça de pedágio da BR 277. O objetivo é atender crianças de escolas da região e cidades vizinhas. O ambiente simula as condições encontradas em uma via pública, com cruzamentos, faixa de pedestres, placas de sinalização e ciclovia.
"Eu chamo a pista de Centro de Cidadania. Aqui, as crianças aprendem a respeitar o cadeirante e o deficiente visual, vivenciando os diversos papeis que assumimos no trânsito", destaca a agente Célia Adriane Coraiola, que divide com os colegas Fernando Zaguini, Helena Neto, Luiz Roberto de Lima e Márcia Amaral a responsabilidade de fazer com que as crianças identifiquem a dinâmica do trânsito e as situações de risco.
Os alunos também viram motorista e são orientados a obedecerem as sinalizações. O projeto faz uso de minicarros elétricos inspirados no Clio, da Renault, com velocidade limitada a 5 km/h.
Para a escola participar do projeto, é necessário que o município tenha um programa de educação de trânsito nas salas de aula.
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