O lançamento de novos carros no Brasil está travado desde o fim de 2018. O problema, que reflete na queda de 1% dos emplacamentos no varejo em 2019, começou com uma festa.
No fim de outubro, a Scania promoveu o lançamento de seus novos caminhões para a América Latina. As apresentações ocorreram no hotel Sofitel Jequitimar, no Guarujá (litoral de São Paulo).
Entre os convidados havia uma equipe do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), com pessoas que cuidavam das emissões do CAT (Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito) . Sem o documento, os veículos não podem ser vendidos.
Os funcionários e alguns terceirizados do órgão ficaram hospedados com despesas pagas pela montadora. Por ir contra o código de ética dos servidores públicos federais, o episódio virou notícia e resultou em exonerações.
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Alexandre Baldy (PP-GO), ex-ministro das Cidades, foi o responsável pelas demissões. Ele lembra que o episódio travou o Denatran, na época subordinado à sua pasta.
Com o desmantelamento da equipe, as emissões do CAT, cuja demora já era motivo de reclamação de algumas montadoras, foram totalmente interrompidas no momento em que as empresas preparavam os lançamentos das linhas 2019/2020.
Segundo as fabricantes de carros ouvidas, cerca de mil pedidos de certificação ficaram parados no Denatran nos últimos seis meses.
O problema foi agravado pela troca de governo. Na gestão Bolsonaro, o Denatran passou a ser subordinado ao Ministério da Infraestrutura, que cuidou de contratar funcionários.
O problema é que a nova equipe ainda está se adaptando à intensa rotina de pedidos das montadoras.
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Sem o CAT, as marcas tiveram que adiar lançamentos de carros nacionais e importados. Entre os modelos estrangeiros em atraso está o utilitário de luxo Lexus UX 250H, que já devia estar sendo entregue desde março.
Um executivo do setor disse que não há exceções: todas as fabricantes estão com dificuldade de obter a autorização para vender novos modelos, fato confirmado por Volkswagen, Mercedes e Toyota.
Hoje secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Baldy confirma que as exonerações ocorreram em novembro por má conduta dos servidores. Embora não tenha certeza, ele calcula que oito funcionários tenham sido demitidos.
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Em nota, a Scania esclarece que o convite para a participação no evento em questão foi feito ao Denatran de forma transparente e com registro de recebimento e aprovação do órgão público, endereçado ao diretor do departamento, que indicou as pessoas que estariam presentes.
A fabricante diz também que o objetivo foi compartilhar conhecimento e apresentar as tecnologias que a empresa está trazendo para a região, especialmente motores movidos a combustíveis alternativos.
A Scania afirma que os convidados do Denatran tiveram uma programação específica, com foco em apresentações técnicas e testes dos veículos.
A empresa diz que está comprometida em liderar a transformação para um sistema de transporte sustentável e com a construção de relacionamentos transparentes e éticos.
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O Denatran confirma que, entre novembro de 2018 e janeiro, houve uma significativa redução das atividades relacionadas à análise do CAT.
Segundo o órgão, a CGIT (Coordenação-Geral de Infraestrutura de Trânsito) foi reestruturada, incorporando outros setores e agregando novos colaboradores. Essa é a unidade responsável pela emissão dos certificados e onde os profissionais demitidos estavam lotados.
O Denatran diz também que uma grande parcela dos pedidos de homologação de veículos geram pendências processuais que resultam em retrabalho, o que aumenta o tempo de análise dos documentos.
"É importante destacar que a nova gestão está promovendo uma reestruturação do órgão e dos processos internos do departamento, com o objetivo de agilizar as respostas às diversas demandas", conclui a nota encaminhada pelo Denatran.
Representantes da Anfavea afirmam que seguem em negociação para agilizar as liberações do CAT.
O prejuízo é grande, com um volume significativo de veículos cujo início das vendas está sendo postergado. A cada semestre, cerca de cem novas opções chegam às lojas.
Por adiar lançamentos, as montadoras já deixaram de vender milhares de unidades em razão do atraso na emissão do CAT.
A queda de 1% nas vendas no varejo entre o primeiro quadrimestre de 2019 e de 2018 representa 4.500 carros de passeio e comerciais leves a menos no mercado.
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